Estude seus investimentos: não repita os pecados mais praticados por investidores iniciantes (Thinkstock/Rawpixel Ltd)
Júlia Lewgoy
Publicado em 4 de maio de 2016 às 14h12.
São Paulo - Entrar no mercado de ações, que vive de tantas expectativas e surpresas, exige uma dose alta de racionalidade. E é justamente por seguirem demais a emoção que pequenos investidores iniciantes às vezes se dão mal.
Eufóricos com a oportunidade de ganhar na bolsa com a crise política, as pessoas físicas representavam 15,6% dos acionistas da Bovespa em março, um aumento de 31% desde dezembro, quando a participação dos investidores individuais era de 11,9%.
Com tanta gente nova investindo na bolsa, é bom lembrar que se embalar pelos boatos pode ser perigoso. Veja esse e outros erros comuns cometidos por iniciantes e tente evitá-los.
1. Investir só de olho no passado da ação
Olhar o desempenho histórico da ação e comprá-la por achar que seu resultado irá se repetir é um erro clássico. “O primeiro erro de quem começa é investir olhando no retrovisor”, diz Amerson Magalhães, sócio-diretor da Easynvest. É preciso tentar prever o que vem pela frente, com base nos fundamentos da empresa e nas perspectivas da companhia e do setor.
Para isso, o gestor de investimentos Thiago Tregier, da Concórdia Corretora, sugere acompanhar o conteúdo da página de relação com investidores da empresa na qual você investiu. É lá que estão todos os balanços financeiros e os nomes dos diretores e conselheiros. “É preciso mapear em quem você está investindo, conhecer os administradores e os resultados da empresa”, explica Tregier.
2. Achar que o preço das ações vai cair se a empresa teve prejuízo
Mesmo que o resultado da empresa no trimestre tenha ficado abaixo do esperado, isso não significa que suas ações irão cair. “O mercado de ações costuma antecipar movimentos e às vezes, mesmo quando a empresa tem prejuízo, o preço da ação sobe”, explica Tregier, da Concórdia Corretora.
Isso pode acontecer, por exemplo, quando uma empresa apresenta um resultado ruim, mas melhor do que o mercado esperava.
Resumindo, não existe regra no mercado de ações, e acompanhar os resultados da empresa e as projeções das corretoras pode ser uma forma de evitar erros.
3. Apostar em somente uma empresa
Concentrar todo o investimento nas ações de uma só empresa, mesmo que a expectativa de retorno seja alta, é muito arriscado. “Se você achar que uma só empresa terá rentabilidade espetacular, a chance de erro é grande”, diz Magalhães, da Easynvest.
Neste momento, com tanta volatilidade e incertezas no mercado, essa atitude é mais perigosa ainda. Acionistas mais experientes diversificam seus investimentos e não só entre diferentes ações, mas também entre diversos tipos de mercados e investimentos .
4. Contar com os rendimentos para realizar um objetivo em breve
Como as ações podem gerar prejuízos, esse não é o tipo de investimento indicado para quem precisa resgatar o dinheiro aplicado para realizar um objetivo no curto prazo, como uma viagem, um casamento ou a compra de um imóvel. Nesses casos, o melhor é investir em aplicações de renda fixa, que permitem ao investidor prever o rendimento exato que será obtido até o vencimento.
Você só deve investir em ações se tiver dinheiro reservado para isso e se estiver preparado para talvez perder parte desses recursos. “Não dá para aplicar com o dinheiro que era para ser destinado ao supermercado, o que acontece com frequência”, diz o professor André Massaro, do Instituto Educacional BM&FBovespa
Na avaliação de Massaro, quem não tem experiência corre mais riscos de perder dinheiro com ações no início, por isso não deve contar com o resgate do dinheiro investido por, pelo menos, um ano.
5. Acreditar em boatos e se guiar por eles
Dar muita bola para o que os outros falam é uma falha comum entre os novatos na bolsa. “Na maior parte das vezes, é um disse-me-disse sem fundamentos”, esclarece Magalhães, da Easynvest.
Além disso, acreditar demais em boatos e se guiar por eles pode ser muito sofrido e gerar angústia para o investidor que não tem experiência. O melhor para acionistas ansiosos é seguir a estratégia planejada, independentemente dos boatos, como sugere Tregier, da Concórdia Corretora. “Ter controle emocional ajuda, mas a maioria sofre muito”, diz.
Massaro, do Instituto Educacional BM&FBovespa, orienta ser criterioso ao selecionar informações sobre o mercado. “Muitas fontes na internet levam os investidores a tomar decisões erradas, especialmente as que prometem demais”, orienta. Ele também ressalta que é essencial aprender de forma profunda como funciona o mercado de ações antes de participar dele.
6. Entrar na bolsa na euforia, sem conhecê-la
É preciso entender que ações são um investimento de alto risco, com comportamento volátil, o que significa que nem todos os movimentos podem ser antecipados e você pode perder muito dinheiro nessa brincadeira. “As pessoas se guiam pelas notícias e pelo Ibovespa, entram no 'oba-oba', e não conhecem o mercado a fundo”, critica Tregier, da Concórdia Corretora.
Há uma crença comum de que é possível enriquecer instantaneamente com ações, mas isso não é verdade, como esclarece André Massaro. “As pessoas acham que a bolsa é um caixa automático em que irão sacar dinheiro quando precisar. Mas as ações são um investimento como qualquer outro, que tem riscos e vantagens”, explica.
7. Ser confiante demais e não admitir as perdas
Fazer algumas boas tacadas logo no início e achar que é o cara do mercado acionário é outro erro comum entre iniciantes. “Ao superestimar sua capacidade, o investidor dá passos maiores do que deveria e os riscos de prejuízo se tornam maiores”, diz o analista de investimentos Phillip Soares, da Ativa Investimentos.
Ele também explica que, em geral, os acionistas têm aversão à perda, o que os leva a não admitir que erraram. “Enquanto estão ganhando, os investidores tendem a vender a ação o quanto antes na tentativa de ganhar mais, mas isso não é inteligente. Às vezes é melhor segurar e se beneficiar de uma alta ainda maior”, orienta Soares.