Os 10 pedágios mais caros do Brasil
Estradas em que o motorista paga mais para viajar estão concentradas em SP, RS e RJ; vias da CCR também se destacam
Da Redação
Publicado em 11 de outubro de 2011 às 20h20.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 16h34.
São Paulo – Por mais inacreditável que possa parecer, o Brasil tem tarifas de pedágio abaixo da média mundial. Um estudo do economista Carlos Campos, coordenador de infraestrutura econômica do Ipea, mostra que o brasileiro paga em média 8,77 reais a cada 100 km rodados em rodovias concedidas à iniciativa privada. Já um levantamento do Banco Mundial mostra que o valor médio cobrado ao redor do planeta por concessionárias de rodovias é equivalente a 9,35 reais a cada 100 km. Campos explica as tarifas mais baixas com o fato de que, no país, a maior parte das estradas concedidas estão prontas e só necessitam de reformas e serviços de manutenção. Já no exterior, o vencedor da licitação pública costuma ser obrigado a fazer investimentos bem mais pesados para a construção da via. Logo, só há investidores interessados na concessão se o pedágio for mais alto. Carlos Campos, que fez o estudo com base em números da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR), atribui a percepção do brasileiro de que os pedágios são caros ao modelo de concessão adotado principalmente na década de 1990. No ranking das dez estradas mais caras do país publicado por EXAME.com nas próximas páginas, nove foram concedidas à iniciativa privada há mais de dez anos. O economista do Ipea afirma que naquela época o país vivia outra realidade econômica, com taxa básica de juros e risco-país bem mais altos. O fato de o Brasil não ter um histórico de concessões de sucesso também fazia o investidor cobrar um prêmio maior para assumir o risco. O modelo dos contratos não ajudava. O investidor era obrigado a pagar ao governo para assumir a concessão da rodovia – e depois recuperava esse investimento nas praças de pedágio. Por último, os índices de reajuste estabelecidos em contrato para as tarifas se mostraram muito mais altos que o principal indicador de inflação ao consumidor no Brasil, o IPCA. O resultado é que, após vários anos, alguns pedágios se tornaram realmente caros para o motorista - ainda que a média seja razoável.
As rodovias Imigrantes e Anchieta, sob a administração da concessionária Ecovias, possuem os pedágios mais caros do Brasil. Para cada 100 km rodados, o viajante tem de desembolsar em média 33,11 reais, segundo o Ipea. Fazem parte dos trechos administrados quase 177 km de estradas que ligam a cidade de São Paulo a alguns dos principais municípios do litoral sul paulista, como Santos, Cubatão, São Vicente, Guarujá e Praia Grande. Parte do custo elevado do pedágio pode ser explicado pelo contrato de concessão, que obrigou a vencedora do leilão a fazer pesados investimentos. A Ecorodovias, empresa que administra essas rodovias, foi obrigada a duplicar a rodovia dos Imigrantes. Inaugurada em 2002, a pista sul inclui quatro túneis. Dois deles possuem mais de 3 km de extensão e são os túneis rodoviários mais longos do país. Além disso, a rodovia termina em viadutos modernos que permitiram a redução do declive da pista e do desmatamento da Serra do Mar na chegada a Santos. "É uma rodovia especial, que exigiu obras complicadas de engenharia", diz Carlos Campos, do Ipea. Outra facilidade da pista é a possibilidade de reversão do sentido do tráfego em feriados prolongados, para dar conta do volume atípico de veículos. O preço de tanto conforto é alto - e deve continuar alto ao menos até 2023, quando termina o contrato de concessão à Ecorodovias.
Logo após o sistema Anchieta-Imigrantes, a concessionária de rodovias que cobra os pedágios mais caros do Brasil é a Viaoeste. A empresa, administrada pela CCR, maior concessionária de rodovias do Brasil, é responsável por quase 169 km das rodovias Castello Branco e Raposo Tavares. O trecho administrado inclui a ligação da capital paulista a cidades como Cotia, Barueri, Itu e Sorocaba. A cada 100 km, a Viaoeste cobra 23,75 reais dos motoristas, segundo o estudo do Ipea. O pedágio mais lucrativo está na rodovia Castello Branco, bem próximo à marginal Tietê. Como é quase urbano, essa praça se aproveita muito bem do fluxo de pessoas que vivem em municípios como Barueri e Santana do Parnaíba, trabalham em São Paulo e precisam se deslocar diariamente. É inegável que a concessão à iniciativa privada levou a melhorias tanto na Castello quanto na Raposo, que passaram a suportar um tráfego bem maior com condições de segurança infinitamente mais elevadas. As obras realizadas, no entanto, foram bem menos complexas que as necessárias para a duplicação da rodovia dos Imigrantes, por exemplo.
As estradas sob concessão da Rodovia das Colinas são a terceira mais cara para os viajantes brasileiros. O pedágio cobrado nos 307 km de estradas administradas custa 17,37 reais a cada 100 km. As vias ligam importantes cidades do interior paulista, como Jundiaí, Itu, Sorocaba, Rio Claro, Tietê e Indaiatuba. A Rodovia das Colinas é uma empresa controlada pela Cibe Participações, uma associação entre Bertin e Equipav. Os dois grupos são tradicionalmente ligados ao agronegócio, mas o curioso é que ambos conseguiram ganhar mais dinheiro com infraestrutura rodoviária do que com carne bovina ou etanol. Por contrato, a concessão da Rodovia das Colinas só deve ser encerrada em 2028.
A estrada fluminense que possui os pedágios mais caros está sob as mãos da CRT (Concessionária Rio-Teresópolis), um consórcio que inclui empreiteiras como a Queiroz Galvão e a OAS. Apesar do nome da concessionária, a estrada não começa na cidade do Rio de Janeiro, mas em Imbaré. De lá, parte rumo a Teresópolis e depois para Além Paraíba, já próxima à divisa do Rio de Janeiro com Minas Gerais. A concessão de 142,5 km é, na verdade, um trecho da BR-116, uma das principais rodovias federais do Brasil. Quem trafega pela estrada é obrigado a pagar 16,35 reais para cada 100 km rodados. Em troca, além da pavimentação de boa qualidade, o viajante tem direito a vistas maravilhosas da Serra dos Órgãos, como a da imagem ao lado.
Principal ligação entre Porto Alegre e o litoral gaúcho, a rodovia sob concessão da Concepa é a quinta mais cara do Brasil, segundo o Ipea. Trafegar pelos 121 km da rodovia custa 15,45 reais a cada 100 km. A Concepa administra tanto a ligação de Porto Alegre a Osório – chamada de Free Way pelos gaúchos – como a ponte que cruza o Lago Guaíba, às margens da capital do estado. A ponte possui um vão móvel que pode ser elevado para a passagem de navios pelo lago. A paralisação do tráfego, no entanto, é constante fonte de reclamação dos motoristas. A Concepa é uma empresa da Triunfo Investimentos e Participações (TPI), que possui ações negociadas na BM&FBovespa – assim como a CCR, a Ecorodovias e a OHL.
As cidades de Gramado e Canela, na Serra Gaúcha, são duas das mais procuradas pelos turistas brasileiros durante o inverno. As cidades atraem quem quer ter a chance de ver neve sem sair país, maravilha-se com a cachoeira do Caracol e os canteiros de hortênsias ou se delicia com o café da manhã colonial. Nas cidades, entretanto, não são apenas os hotéis que são caros. Para chegar às cidades por alguma das rodovias da concessionária Brita, é necessário desembolsar 14,99 reais a cada 100 km, o sexto valor mais alto do país. Três empresas são donas da concessão: Itacolomy Mineração Ltda., Construtora Pelotense Ltda. e STE Serviços Técnicos de Engenharia S/A. No entanto, a concessão dos 142 km de rodovia vence em 2013.
Maior concessionária de rodovias do Brasil, a CCR emplacou outra via administrada no ranking das mais caras do país. A Via Lagos, uma das ligações mais utilizadas pelos cariocas para chegar a Búzios, Cabo Frio e outras cidades da região dos Lagos, inclui uma única praça de pedágio que cobra uma tarifa equivalente a 14,69 reais a cada 100 km. A rodovia inclui apenas 57 km de pistas que ligam as cidades de Rio Bonito e São Pedro da Aldeia.
Uma das principais concessões administradas pela CCR, a AutoBan não poderia ficar de fora da lista das estradas mais caras do Brasil. A concessão inclui as rodovias Anhanguera e Bandeirantes, duas das mais movimentadas do país. Como se não bastasse o grande fluxo de carros, a empresa ainda teve o direito de instalar nove praças de pedágio em pouco menos de 317 km de rodovias. O custo médio fica em 14,24 reais por cada 100 km, o suficiente para colocar a empresa em oitavo no ranking das mais caras. As rodovias Anhanguera e Bandeirantes ligam a capital paulista a alguns dos municípios mais ricos do estado, como Campinas, Jundiaí, Paulínia e Limeira.
As estradas administradas pela Concessionária Rota das Bandeiras S/A são as únicas do ranking que foram privatizadas recentemente. O contrato de concessão foi assinado em abril de 2009 e tem duração de 30 anos. Pelo documento, o estado de São Paulo concedeu à Rota das Bandeiras, empresa administrada pela Odebrecht TransPort, o direto de explorar 297 km de estradas. O principal trecho é o da rodovia Dom Pedro I, que liga Jacareí a Atibaia, Campinas, Paulínia e Engenheiro Coelho. Para trafegar pela pista, o motorista terá de desembolsar 14,01 reais por cada 100 km rodados.
O Rio Grande do Sul foi o segundo estado brasileiro com maior número de rodovias privatizadas no ranking das mais caras do país, atrás apenas de São Paulo. Segundo o estudo o Ipea, o estado conseguiu emplacar o trecho administrado pela Convias em décimo lugar na lista, com um pedágio equivalente a 13,81 reais a cada 100 km rodados. A Convias é responsável pela BR-116 e pela RS-122 nas imediação de Caixas do Sul, uma das principais cidades gaúchas. A concessão de 191 km de rodovias ficará até 2013 a cargo do consórcio formado por Cibe Participações, Monte Bérico e TBPAR Ltda.