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Onde obter o rendimento ideal para chegar ao primeiro milhão

Com juro baixo e inflação alta, obter rentabilidade suficiente para juntar R$ 1 milhão ficou mais difícil e exige mais riscos


	Destine apenas parte das suas economias ao objetivo do primeiro milhão
 (Beatriz Albuquerque /Cláudia)

Destine apenas parte das suas economias ao objetivo do primeiro milhão (Beatriz Albuquerque /Cláudia)

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Da Redação

Publicado em 31 de março de 2014 às 19h42.

São Paulo – Chegar ao primeiro milhão não é tarefa fácil, principalmente em um cenário de inflação alta em que os investimentos mais seguros passaram a render pouco. Dependendo da sua capacidade de poupança e apetite por risco, a tarefa pode levar facilmente mais de 30 anos, ainda que você tenha disciplina. Para tentar reduzir esse tempo, porém, será necessário tomar mais risco e ter mais educação financeira, dizem especialistas.

Com uma poupança de mil reais por mês apenas destinada ao objetivo do primeiro milhão, veja em quanto tempo é possível juntar um milhão de reais em cada faixa de rentabilidade:

Rentabilidade mensal Rentabilidade anual Tempo para juntar um milhão de reais
0,41% (poupança nova) 5,02% 33 anos e dois meses
0,60% 7,43% 27 anos e um mês
1,00% 12,68% 20 anos e um mês
1,50% 19,56% 15 anos e seis meses
2,00% 26,82% 12 anos e 10 meses
2,50% 34,80% 11 anos

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Muitos desafios

Repare que a tabela considera as rentabilidades nominais, isto é, sem o desconto da inflação, que com o passar dos anos corrói o valor do dinheiro. Para que seja possível juntar um milhão de reais “de fato” nos prazos indicados na tabela, seria preciso considerar que as rentabilidades mensais estão expressas em termos reais. Em outras palavras, para que o seu milhão tenha, daqui a 30 anos, o mesmo poder de compra de um milhão de reais hoje, é preciso tentar ganhar esses rendimentos acima da inflação.

Para chegar ao montante em 27 anos, seria preciso, portanto, obter uma rentabilidade mensal líquida de taxas e imposto de renda de 0,60% ao mês ou 7,43% ao ano. Considerando uma inflação de 6% ao ano – não muito distante do preocupante patamar atual – você teria que ganhar um juro nominal de quase 14% ao ano. Para complicar ainda mais, este teria que ser seu ganho médio. Assim, se em um ano você experimentasse uma rentabilidade menor que esta (ou mesmo perdas), teria que compensá-la no ano seguinte com uma rentabilidade mais alta.

Uma média tão alta como essa se tornou um bocado difícil de sustentar. Será ainda possível, nos dias de hoje, obter rentabilidade real superior a 1,00% ao mês? “Acho que esses níveis de rentabilidade estão bastante distantes da realidade brasileira de hoje, a não ser que sejam obtidas por meio do investimento em ativos de bastante risco”, opina a planejadora financeira certificada Ângela Nunes, CFP.

A taxa de juros básica da economia, que baliza a maior parte das aplicações de renda fixa, principalmente as de menor risco, está hoje no menor patamar da história, 7,25% ao ano. “Mesmo com a atual perspectiva de alta dos juros para controle da inflação, não vejo a Selic voltando para os altos patamares de antes”, diz Ângela. Isso significa que alcançar um milhão de reais apenas investindo na renda fixa mais segura – como títulos do Tesouro atrelados à Selic, fundos DI, poupança e CDBs – será uma tarefa bastante lenta.


Até porque os produtos mais conservadores sequer oferecem proteção contra a inflação, além de não pagarem a Selic cheia. Seja porque estão atrelados à taxa de juros CDI, que embora acompanhe a Selic, atualmente encontra-se num patamar mais baixo que o da taxa básica de juros; seja porque sofrem a incidência de taxas e de imposto de renda; seja porque pagam um percentual do CDI ou da Selic inferior a 100%. “Ou seja, os 7,25% ao ano nem 7,25% são”, diz a planejadora financeira.

Mas então o sonho do milhão acabou?

Não necessariamente. Mas isso vai depender da sua disposição em fazer um esforço de poupança, se educar e correr riscos. Rentabilidades reais líquidas de 0,60% e 1,00% ao mês, por exemplo, ainda são factíveis. Se você é jovem e paciente, 20 anos ou 25 anos pode ser um bom prazo para o primeiro milhão. Se não, a obtenção de rentabilidades médias maiores vai depender de tomar mais risco – de ganhar e também de perder e não alcançar o objetivo.

Para Ângela, uma rentabilidade real mais conservadora, hoje em dia, está em torno de 3% acima da inflação, que é mais ou menos o que pagam os títulos públicos atrelados à inflação vendidos pelo Tesouro Direto, as NTN-Bs. As NTN-Bs vendidas hoje pagam entre 3,74% e 4,26% ao ano mais IPCA, com vencimentos entre 2019 e 2050. Apenas com um juro real líquido de 3% ao ano, alguém que aplicasse mil reais por mês levaria 42 anos para ficar milionário. Um incremento desse rendimento poderia ser obtido com a diversificação.

Mas antes de arriscar suas economias, Ângela faz um alerta. “Tenha uma reserva de emergência equivalente a, pelo menos, 12 meses das suas despesas, além de uma reserva para a aposentadoria”, diz a CFP. Ou seja, o indicado é que apenas uma parcela da sua carteira de investimentos seja voltada para tomar risco e tentar alcançar essas grandes rentabilidades, a fim de juntar um milhão de reais. “Na sua parcela de risco é possível atingir essas rentabilidades mais altas, mas no total da carteira não, a menos que toda a carteira seja extremamente arriscada”, observa a planejadora financeira.

Onde encontrar rendimentos reais de 1,00% ao mês ou mais?

O coach financeiro Roberto Navarro, do Instituto Coaching Financeiro, dedica-se a ministrar cursos para investidores que desejam aprender sobre investimentos, buscar seu primeiro milhão e até se tornarem, eles também, coaches financeiros.

Para ele, o primeiro passo do investidor que quer ser milionário é se educar financeiramente por meio de cursos e buscar se informar por meio da imprensa especializada. Um segundo passo fundamental seria buscar produtos melhores em corretoras e gestoras independentes, notadamente na renda variável, que é o espaço onde ainda pode haver chances de se alcançar rendimentos mais altos e reduzir o tempo de poupança.

Principalmente se o investidor vai começar a jornada para o primeiro milhão do zero. Produtos de grandes bancos costumam ser caros para quem tem pouco dinheiro, sendo possível conseguir taxas melhores em fundos independentes. Quanto mais o investidor acumular patrimônio, melhores produtos e mais baratos ele vai encontrar pela frente.


Para quem está nos primeiros passos, Navarro aconselha a começar por fundos de investimentos em ações, para montar uma carteira de fundos. “Investir diretamente em ações não compensa. O custo da operação é muito alto para quem só tem, por exemplo, mil reais por mês. Mas você pode começar investido esse montante em um fundo de ações do setor de consumo, uma vez que o Brasil está vivendo o momento do consumo”, diz Navarro.

No segundo mês, o investidor pode escolher um bom fundo de small caps (ações de empresas de baixo valor de mercado) e no terceiro mês, um fundo de ações blue chips (as mais negociadas da Bolsa). Fundos multimercados com renda variável também podem ser interessantes, diz Navarro, uma vez que investem em vários tipos de ativos de forma a aproveitar as melhores oportunidades do momento econômico.

“Depois que o investidor acumula 20 mil reais, ele já pode começar a montar uma carteira de ações que pagam bons dividendos, e investir nelas diretamente. Ações que paguem acima de 10% ao ano só de dividendos já rendem o dobro da poupança”, observa o coach. Os dividendos também oferecem certa proteção contra a inflação, uma vez que as empresas que pagam bons dividendos também costumam ser aquelas cujos produtos ou serviços compõem os índices de inflação.

Segundo Navarro, a partir de uma quantia de 3 mil reais também já é possível montar boas estratégias com fundos imobiliários, desde que o investidor fique atento para a liquidez desses fundos, que têm suas cotas negociadas em Bolsa. Assim, não é possível resgatá-las, apenas vendê-las para outro interessado. Esses fundos costumam render aluguéis, corrigidos pela inflação e isentos de imposto de renda, além de poderem lucrar com a valorização da cota.

No ano passado, os fundos de ações livres, de ações small caps e os multimercados macro (que seguem estratégias para lucrar com o cenário macroeconômico) renderam em torno de 18% em média, o que por si só já equivaleria a uma rentabilidade real de quase 1% ao mês, antes de imposto de renda. Já os fundos imobiliários renderam, em média, 40,21% em 2012, considerando-se aluguéis e a valorização das cotas.

É claro que o momento econômico atual já é um pouco diferente das condições do ano passado. Mas mesmo em um ano em que o Ibovespa subiu apenas 7,40%, muitos fundos que investem em renda variável conseguiram superá-lo com folga, o que mostra que bons gestores podem conseguir bons ganhos mesmo em épocas menos favoráveis.

É preciso notar, porém, que todos esses investimentos têm risco e, em alguns casos, esse risco é bem alto. Fundos multimercados e de ações, por exemplo, podem operar alavancados, o que significa uma possibilidade de potencialização dos lucros e também das perdas. O mercado de ações brasileiro também é altamente suscetível a crises internacionais e a canetadas do governo brasileiro. Manter ganhos extraordinários ano após ano também é tarefa hercúlea para os fundos, que terão dificuldade de manter um ganho médio muito alto por muito tempo.

Já os fundos imobiliários podem acabar investindo em imóveis que desvalorizem, que fiquem vagos por muito tempo ou que tenham inquilinos inadimplentes. Além disso, seus prospectos costumam ter mais de 200 páginas, mas não é aconselhável deixar de lê-los antes de investir. No fim das contas, estudar com cuidado as aplicações torna-se fundamental para atingir o primeiro milhão a tempo de ainda aproveitar bastante a vida.

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