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O que muda em seus investimentos com a queda dos juros

Para analistas, bolsa pode ter um rali de curto prazo após surpresa com a Selic; já na renda fixa, aposta contra o BC pode ser lucrativa

BC: decisão do Copom dá um belo empurrão na Bovespa (Divulgação/Banco Central)

BC: decisão do Copom dá um belo empurrão na Bovespa (Divulgação/Banco Central)

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Da Redação

Publicado em 1 de setembro de 2011 às 11h55.

São Paulo – A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central surpreendeu praticamente todo o mercado financeiro. Mesmo os gestores de recursos e investidores mais otimistas esperavam que a Selic caísse no máximo 0,25 ponto percentual. Só o tempo vai mostrar se a diretoria do BC foi precipitada ou se a desaceleração da economia mundial realmente reduzirá a pressão sobre a inflação e abrirá espaço para uma queda sustentada dos juros no Brasil.

Independente do debate ideológico, o fato é que, para quem investe em bolsa ou em renda fixa, a paulada nos juros já mudou tudo. De acordo com especialistas ouvidos por EXAME.com, a bolsa pode ter um rali no curtíssimo prazo por conta da redução dos juros. A alta de cerca de 3% do Ibovespa no final da manhã desta quinta-feira pode ser totalmente atribuída à Selic. “O BC quer compensar o crescimento global menor com estímulos ao mercado interno”, diz Salomão Santos, sócio da iCash Investimentos. “Essa decisão beneficia diretamente as ações ligadas ao consumo dos brasileiros.”

Em um relatório em que avaliaram os impactos da queda da Selic sobre a bolsa, os analistas do Bank of America Merrill Lynch afirmaram que as ações mais beneficiadas serão os bancos, as incorporadoras imobiliárias e as empresas de infraestrutura (clique aqui e veja). A lógica da avaliação é simples: juros menores estimulam a tomada de crédito pelos consumidores e tornam os investimentos das empresas mais baratos, com impacto direto sobre o lucro dessas companhias.

Esse movimento, na verdade, já tem sido sentido desde o começo da semana. Muitos investidores começaram a se antecipar à queda dos juros na segunda-feira, quando o ministro Guido Mantega (Fazenda) anunciou o aumento do corte de gastos e do superávit primário do governo. “As posições vendidas dos estrangeiros em Ibovespa futuro despencaram nesta semana”, diz Marcio Cardoso, diretor da Título Corretora. “Outro sinal da retomada da confiança é que mais pessoas físicas procuraram a corretora para abrir cadastro e investir na bolsa.”

Salomão Santos, da iCash, alerta, no entanto, que apesar da notícia positiva para a bolsa no curto prazo, nem tudo são flores para os investidores. “Os problemas fiscais da Europa ainda não foram resolvidos.” Para ele, o Banco Central Europeu apenas ganhou tempo com a decisão de recomprar títulos públicos emitidos por países como a Espanha e a Itália, já que o aumento dos juros pagos por esses papéis estava estressando o mercado. No entanto, somente uma resolução definitiva primeiro para a dívida da Grécia e depois para a situação fiscal dos demais países mediterrâneos poderá colocar a bolsa em uma tendência firme de alta até o final do ano.

Apesar do risco europeu, Salomão Santos considera que o momento é bom para comprar ações se o investidor só tem a perspectiva de colher os lucros no longo prazo. “Enquanto o Ibovespa tem desvalorização de 18,5% neste ano, a bolsa de Portugal cai 17,3%, a da Espanha recua 12,4% e o índice Dow Jones da Bolsa de Nova York avança. Se os principais problemas para a economia mundial estão lá, como é que a maior queda pode ser a daqui?”, diz ele.


Renda fixa

A decisão do BC de reduzir os juros também mudou o cenário para investimentos em renda fixa. Quem havia comprado papéis prefixados ou indexados à inflação ganhou muito dinheiro nos últimos dias. Segundo informações do site do Tesouro Direto, os papéis prefixados geraram um retorno de até 8,03% nos últimos 30 dias (caso das NTN-F com vencimento em 2021) e os papéis indexados à inflação geraram um ganho de até 7,03% (NTN-B Principal com vencimento em 2035). Esses retornos refletem tanto os juros pagos por esses títulos quanto a maior procura dos investidores, que elevam o preço de venda.

A demanda cresceu nos últimos 30 dias porque parte do mercado antecipou a queda da Selic e correu para comprar papéis que remunerariam o investidor com taxas mais altas ante a um cenário iminente de queda dos juros. Da mesma forma, os juros futuros dos contratos de DI negociados na BM&FBovespa derreteram durante o mês passado.

Apesar dos juros menores, especialistas afirmam que a renda fixa ainda é uma opção bastante interessante no Brasil. A Selic em 12% garante um boa rentabilidade para quem decide fazer investimentos de curto prazo em fundos DI ou títulos pós-fixados pelo Tesouro Direto (no caso, a LFT). O rendimento é bem superior ao da caderneta de poupança, por exemplo, e também garante uma boa remuneração ao investidor que não gosta de correr o risco da bolsa.

Para quem pode investir em um título até o vencimento e não se importa em assumir algum risco em renda fixa, a maior parte do mercado acredita que apostar contra o BC pode ser uma boa opção. A avaliação da maioria dos analistas e investidores é que o BC se precipitou e que a inflação, que já está acima do teto da meta nos últimos 12 meses, não vai ceder tão rapidamente quanto o Copom imagina. “Se esse cenário se confirmar, ganhará agora quem comprar títulos indexados à inflação, como a NTN-B ou a NTN-B Principal”, diz Jorge Dib Neto, da Grau Gestão de Ativos. “Em minha opinião, esses serão os títulos que vão apresentar os melhores resultados no médio prazo.”

O especialista também considera que, neste momento, os títulos públicos prefixados (LTN ou NTN-F) ficaram muito arriscados para o pequeno investidor. O mercado não esperava que os juros caíssem 0,5 ponto percentual já na reunião desta quarta-feira. O problema é que os investidores rapidamente se ajustaram à queda da Selic. Quem compra um papel prefixado a partir de agora só deverá ganhar dinheiro caso o BC derrube os juros em mais de 1,75 ponto percentual até janeiro de 2012. “As commodities não caíram quase nada, não enxergo um cenário de rápida desaceleração dos preços como em 2008. Neste momento, prefiro me defender de uma possível aceleração da inflação com as NTN-B.”

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