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Nas casas de câmbio, dólar já é vendido a mais de R$ 4

Entenda a escalada do dólar desde o início do ano e saiba o que fazer se você tem uma viagem marcada para o exterior

Dólar: Alta dos juros nos EUA fazem cotação subir (Getty Images/Getty Images)

Dólar: Alta dos juros nos EUA fazem cotação subir (Getty Images/Getty Images)

Anderson Figo

Anderson Figo

Publicado em 16 de maio de 2018 às 05h00.

Última atualização em 16 de maio de 2018 às 05h00.

São Paulo — Quem tem viagem marcada ao exterior ou alguma outra despesa prevista em dólar está de cabelo em pé nos últimos dias. A cotação da moeda americana disparou e chegou à máxima de 3,6935 reais nesta terça-feira (15), maior patamar desde abril de 2016.

Nas casas de câmbio, o dólar em espécie já é negociado a 3,83 reais, segundo o comparador de taxas MelhorCâmbio.com. Para recarregar cartões de viagem pré-pagos, a cotação ultrapassa os 4 reais. Esses preços já incluem o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), que é de 1,10% para moeda em espécie e de 6,38% para os cartões pré-pagos.

“A escalada da moeda americana é global e está diretamente ligada à melhora da economia dos Estados Unidos”, explica Maurício Molon, economista-chefe do Santander. “A diferença de juros entre Brasil e Estados Unidos está muito menor do que tínhamos no passado, o que aumenta o impacto das decisões monetárias sobre o câmbio por aqui”, completa. Mas como exatamente a melhora da economia dos EUA impacta o dólar?

O banco central americano manteve durante um bom tempo a taxa básica de juros do país em seu menor patamar histórico, uma faixa entre 0% e 0,25% ao ano, desde a crise de 2008. A medida foi adotada para estancar a contração da economia dos EUA na época. Ao cortar os juros, o Fed deixou o crédito mais barato e estimulou o consumo, que responde por mais de dois terços da atividade econômica americana.

Com estímulos do governo, a economia dos EUA lentamente foi se recuperando até que, em dezembro de 2015, o Fed (BC americano) promoveu a primeira alta do juro básico na maior economia do mundo em quase uma década. A taxa, então, passou de uma faixa próxima a zero para o patamar entre 0,25% a 0,50% ao ano, até subir para 0,50% a 0,75% ao ano em dezembro de 2016. No ano passado, o BC dos EUA elevou a taxa de juros mais três vezes. E, em março de 2018, ela passou para o atual nível de 1,50% a 1,75% ao ano.

Com a alta dos juros nos Estados Unidos, os rendimentos dos Treasuries, títulos públicos do governo americano cuja remuneração está ligada à taxa de juros do país, também aumentaram. Isso faz com que grandes investidores internacionais retirem o dinheiro aplicado até então em economias emergentes, como o Brasil, e levem os recursos de volta para os Treasuries americanos, que são considerados de baixíssimo risco. E, com menos dólar no mercado, a cotação tende a subir.

“O mercado está inquieto com a mudança dos juros nos EUA e, por isso, a cotação do dólar tem subido no mundo inteiro, especialmente no Brasil. Essa inquietude tende a perder força nas próximas semanas. Não há uma justificativa para o pânico, já que ainda temos um fluxo cambial positivo. Em abril, por exemplo, houve uma entrada maior de dólares no país do que uma saída”, afirma Molon, do Santander.

“A próxima reunião do Fed será no mês que vem. Os economistas divergem sobre a quantidade de vezes que o BC americano vai aumentar os juros nos EUA este ano. Alguns dizem que serão três vezes e outros, quatro. Mais importante do que a decisão do Fed em junho será o comunicado de sua decisão, que dará pistas sobre o futuro da taxa. Isso pode acalmar o mercado cambial, ou não”, diz o economista.

A perspectiva do Santander é de que o dólar encerre 2018 cotado a 3,50 reais. A última versão do Boletim Focus do Banco Central, que compila as projeções dos principais economistas e analistas do mercado, indica uma taxa de 3,37 reais para o dólar em dezembro. O real é a terceira moeda que mais se desvalorizou ante o dólar desde o início do ano —um tombo de 9,12%, segundo dados da Economatica.

Cenário interno

Enquanto a melhora da economia dos EUA estimula a alta do dólar sobre as moedas globais, o real brasileiro também é pressionado pelo cenário de incerteza política por aqui. Segundo Fernando Bergallo, diretor da FB Wealth, a fragmentação do cenário eleitoral sugere cautela. “É uma incógnita quem será o próximo presidente do Brasil e como será conduzida a política econômica. Isso deixa o investidor retraído. Ele tira dinheiro do país ou desiste de investir aqui”, diz.

“Quando as campanhas na TV começarem, isso pode influenciar os resultados das pesquisas de intenção de voto e, consequentemente, impactar os mercados. Os candidatos pró-mercado são aqueles alinhados com políticas mais ortodoxas, como Henrique Meirelles e Geraldo Alckmin, que estão perdendo até então nas pesquisas. Não significa que eles serão bons governantes, mas que suas decisões serão mais pró-mercado e tendem a agradar os investidores”, afirma.

Tanto Molon quanto Bergallo concordam que as intervenções do Banco Central no câmbio, através de leilões de swap cambial (entenda o que são e como funcionam essas operações), podem se intensificar no curto prazo, conforme o dólar continue subindo. Mas ambos afirmam que a intenção do BC é apenas reduzir a volatilidade da cotação da moeda americana, não mudar sua trajetória de alta.

Preço médio

Nesse cenário de pressão sobre o dólar tanto no exterior quanto aqui no Brasil, quem tem viagem marcada para fora do país ou despesas previstas em moeda estrangeira deve manter a calma. Os especialistas ouvidos pelo site  EXAME recomendam que você compre os dólares necessários para a viagem ou pagamento de contas no exterior em datas diferentes. Com isso, vai conseguir aproveitar cotações variadas e minimizar seus riscos.

Como o cenário externo demanda cautela e algumas notícias podem mexer com o humor do mercado e torná-lo instável, formar uma cotação média vai proteger quem precisa comprar dólar.

É importante saber que, ao seguir a estratégia de comprar a moeda aos poucos, você não deve fazer as compras aleatoriamente. É preciso se comprometer a comprar dólar sempre nas datas predefinidas em sua estratégia inicial, independentemente da taxa. Será preciso também ficar atento ao noticiário.

Além disso, sempre vale a dica de procurar pela melhor cotação na hora da compra. As casas de câmbio tendem a embutir nas cotações praticadas de dólar taxas que reflitam o custo de suas operações, por isso o valor varia de um lugar a outro —e, em alguns casos, a diferença pode ser grande.

No site do Banco Central, é possível utilizar a ferramenta Ranking do VET, que mostra o Valor Efetivo Total (VET) da conversão de moedas estrangeiras em de diferentes casas de câmbio. O VET engloba a taxa de câmbio, as tarifas e os tributos incidentes sobre a conversão, apresentando o custo final da compra.

Cartão pré-pago

Se você está indo para o exterior, a recomendação é que você leve uma parte menor de recursos em dinheiro vivo e coloque a maior parte em um cartão pré-pago.

Isso vai te proteger em caso de roubo ou perda, já que o cartão pré-pago pode ser facilmente bloqueado e substituído onde você estiver. Já o dinheiro em espécie, quando perdido, não há o que possa ser feito, e você fica com o prejuízo.

Os cartões possuem bandeiras diferentes, são aceitos em todo o mundo e podem ser solicitados em casas de câmbio, agências de intercâmbio, online ou até mesmo por telefone.

A recarga pode ser feita remotamente e você consegue controlar o extrato de gastos online. Por isso é uma ótima opção também para os pais que estão mandando seus filhos para estudar no exterior, por exemplo.

É importante lembrar, porém, que o IOF cobrado nas recargas de dólar em cartões pré-pagos é de 6,38%, enquanto que a taxa para a compra da moeda em espécie é de 1,10%. Mas vale a pena pagar um pouco mais pela segurança e comodidade, de acordo com os especialistas.

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