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Investir via home broker vai continuar barato

Não há espaço para corretoras aumentarem taxas cobradas dos clientes na negociação de ações, diz diretor da Título

Marcio M. Cardoso, diretor da corretora Título: o home broker continuará a ser um jeito barato de negociar ações (Divulgação)

Marcio M. Cardoso, diretor da corretora Título: o home broker continuará a ser um jeito barato de negociar ações (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 1 de fevereiro de 2011 às 09h31.

Comprar e vender ações pela internet vai continuar barato por muito tempo, segundo Marcio M. Cardoso, diretor da corretora Título, uma das primeiras a lançar o home broker no Brasil. O executivo, que está no cargo desde 1995 e já teve passagens pelos bancos Garantia e JP Morgan, acha que não é possível para uma corretora elevar as taxas cobradas de uma hora para outra sem perder muitos clientes. Como as corretoras precisam de escala para justificar os investimentos feitos em tecnologia, a tendência é de que os preços continuem baixos. Ele afirma que a estratégia para elevar as receitas no futuro passaria pela venda de serviços adicionais, e não por reajustes.

As taxas cobradas pelas corretoras têm caído muito no Brasil. No começo da década passada, ainda era comum que o investidor tivesse de pagar à corretora um percentual do valor da ordem. Nesses casos, quando o investidor comprava ou vendia muitas ações, a comissão acabava pesando no bolso. Para atrair os clientes com mais dinheiro, muitas instituições passaram a estipular uma taxa fixa por ordem executada. A TOV revolucionou o mercado e conquistou rapidamente milhares de clientes quando passou a cobrar apenas 5 reais por negócio há alguns anos. O movimento foi seguido por algumas corretoras, como a Icap, que hoje pratica o mesmo preço. Há duas semanas, a estratégia tornou-se ainda mais agressiva com a chegada ao Brasil da líder sul-coreana. A Mirae Asset estreou no país cobrando uma corretagem de apenas 2,90 reais por operação. A não ser para aplicações muito baixas, investir pelo home broker está, dessa forma, bem mais barato do que por meio de fundos de ações.

Cardoso afirma que a Título não planeja entrar nessa guerra de tarifas porque julga não ser possível oferecer um serviço estável e confiável aos clientes cobrando tão pouco. O serviço de home broker exige pesados investimentos em tecnologia que não se pagam com tarifas exageradamente baixas. Não seria à toa, portanto, que a TOV é a corretora mais processada pelos clientes no Brasil, segundo o último balanço da Comissão de Valores Mobiliários (clique aqui e veja o ranking).

No Easynvest, home broker da Título, o cliente paga 10 reais por ordem executada, mas precisa desembolsar no mínimo 30 reais por mês mesmo que execute menos de três ordens. Por outro lado, fica isento da taxa de custódia, que hoje é de 6,90 reais mensais para investidores com até 300.000 reais em aplicações em bolsa.

Para captar novos clientes, a Título lançou duas promoções criativas. Estudantes de 18 a 23 anos que queiram investir até 10.000 reais em bolsa podem comprar e vender ações de graça por um ano. A isenção vale tanto para a taxa de corretagem em si quanto para os emolumentos cobrados pela BM&FBovespa e para a taxa de custódia paga à CBLC. Nesse caso, quem arca com essas despesas do investidor é a própria corretora. A promoção é uma forma de atrair quem ainda não chegou à bolsa, mas gostaria de aprender. Tanto que os clientes captados dessa forma precisam fazer um curso de educação financeira pela internet e só depois ficam aptos a operar. Como é direcionada a iniciantes, a promoção não permite que o investidor tenha acesso ao mercado de opções.


A Título também criou uma estratégia para que os atuais clientes ajudem em sua expansão. Quem indicar um cliente ganha um desconto proporcional à receita gerada por ele. Ou seja, se a pessoa indicada gerar 100 reais em taxas para a corretora, o cliente que o indicou poderá abater esse mesmo valor de suas próprias despesas com o home broker.

Serviços

Para Cardoso, nos próximos anos as corretoras buscarão elevar as receitas oferecendo outros tipos de serviço aos clientes. As instituições podem começar a vender, por exemplo, serviços de análise técnica, relatórios de analistas, cursos sobre o mercado de capitais ou até mesmo assessoria financeira personalizada. Muitas instituições já vendem fundos de investimento e CDBs ou fazem a intermediação da negociação de títulos públicos via Tesouro Direto. Há inclusive corretoras que, além de trabalhar com investimentos, também vendem seguros, concorrendo também nessa área com os grandes bancos.

De todos esses serviços, o que mais anima Cardoso é a venda de cursos. Ele acredita que falta educação financeira para a população para que a BM&FBovespa possa cumprir a meta de ter uma base de clientes de 5 milhões de pessoas físicas. Como os bancos preferem vender outros investimentos e produtos aos correntistas, caberá à própria bolsa e às corretoras promover as vantagens do mercado de capitais para aumentar as receitas e o número de clientes.

Mais educação financeira também é importante para fidelizar quem chega à bolsa. Hoje em dia, muitos dos jovens investidores acabam cometendo erros juvenis que fazem com que eles desistam do mercado acionário alguns meses depois. O diretor da corretora diz que já soube de casos de gente que comprou direitos de subscrição de ações na crença de que estava adquirindo ações. Quando uma empresa que já está na bolsa anuncia uma oferta pública de papéis para o aumento do capital, costuma a dar a seus atuais sócios o direito de comprar (ou subscrever) ações proporcionalmente à parcela da companhia que eles já detêm. Esses direitos de subscrição costumam ser negociados em bolsa antes da conclusão da oferta da mesma forma que as ações, só que sob um código diferente. O que muita gente faz, portanto, é comprar esses direitos achando que está adquirindo ações por um preço muito abaixo do valor de mercado. "Essa pessoa depois se assusta quando descobre quanto dinheiro vai precisar para exercer o direito de subscrição", afirma Cardoso.

O executivo também critica o atual patamar dos juros no Brasil, que faz com que muito dinheiro migre para a renda fixa. Ele acredita, no entanto, que o principal concorrente da bolsa no Brasil não são os juros polpudos pagos pelos títulos públicos mas a própria necessidade que o brasileiro sente em consumir. "Uma vez vi uma pesquisa que mostrava que é o consumo o grande culpado pelo baixo número de investidores da bolsa brasileira. Acima de tudo, a população quer comprar ao invés de poupar."

Isso também explica a recente redução no número de investidores ativos na BM&FBovespa. Em dezembro, afirma ele, cerca de 120.000 pessoas físicas fecharam algum negócio via home broker. Esse número já chegou a ser duas vezes maior antes da crise de 2008. Da mesma forma, as pessoas físicas chegaram a ocupar o posto de maiores responsáveis pelo volume de transações da bolsa, mas hoje representam cerca de 26% dos negócios. "Se essa atual safra de ofertas públicas de ações gerar bons retornos, pode ser que mais gente volte a investir em breve", afirma. "Mas no longo prazo, só a educação financeira fará com que o brasileiro crie o hábito de aplicar em ações."

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