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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
Enquanto a maioria dos analistas afirma que só Deus sabe onde está o fundo do poço para as bolsas de todo o mundo, o economista americano Jim O'Neill acredita que a virada pode estar próxima. Chefe do Departamento de Pesquisas Econômicas do banco Goldman Sachs e criador da famosa sigla Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), ele afirma que o preço das ações já caiu muito, o que fatalmente atrairá de volta os compradores. Veja abaixo os principais trechos da entrevista de O'Neill, que respondeu a EXAME durante uma pausa do trekking que faz pelo Himalaia:
EXAME - Desde a queda do Lehman Brothers, os mercados emergentes sofrem fortes solavancos. As quedas nas bolsas chegam a superar as de países desenvolvidos. O que houve?
Jim O'Neill - O colapso do Lehman Brothers não trouxe muitas dúvidas - trouxe grandes dúvidas. Gerou a preocupação de que nenhum banco estava realmente seguro. O resultado foi que a crise de crédito se intensificou dramaticamente, e ela atingiu a economia real dos países desenvolvidos e dos Estados Unidos. Isso derrubou o preço das commodities, e é aqui que o Brasil foi pego pela crise. Mas o descolamento das economias emergentes não terminou completamente. Basta ver que as vendas do varejo, na China, cresceram 23% em setembro.
EXAME - O que justifica as bolsas emergentes caírem mais que as dos países ricos, que estão no centro da crise?
O'Neill - A principal razão é que era moda investir nos mercados emergentes em 2007. Por isso, muito capital especulativo chegou tarde à festa, e ao primeiro sinal de problemas, desapareceu.
EXAME - Por que os investidores estão deixando o Brasil, se os analistas afirmam que as perspectivas econômicas são positivas?
O'Neill - A saída não tem nada a ver com o Brasil. Ela tem tudo a ver com a profunda falta de crédito. Olhando para o desempenho do real e para os números da economia, o Brasil ainda parece muito bom para mim.
EXAME - O que pode ser feito para reverter a tendência de queda das bolsas?
O'Neill - Eu penso que podemos estar próximos da virada em todo o mercado de capitais. Os ativos estão, certamente, muito baratos. Talvez fosse bom para o Brasil, se os investidores locais participassem mais da bolsa, em vez de investir tanto em títulos públicos. Isso a tornaria menos dependente do capital estrangeiro, que às vezes é muito volátil.