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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
O banqueiro Daniel Dantas, dono do Opportunity, e o investidor Naji Nahas, presos nesta terça-feira (8/7) pela Polícia Federal, estariam enredados em uma história à altura dos roteiros de Hollywood, com ramificações até no Federal Reserve, o poderoso banco central americano. "É uma situação perniciosa, que nos assusta pelo nível de intimidação e persuasão da organização criminosa", afirmou o delegado Protógenes Queiroz, responsável pela operação Satiagraha, deflagrada nesta terça e que culminou na detenção de Dantas, Nahas e mais 22 pessoas - entre as quais, o ex-prefeito paulistano Celso Pitta.
Em entrevista coletiva na superintendência da Polícia Federal de São Paulo, Queiroz explicou que Dantas e Nahas são acusados de comandar grupos distintos, com modos de operação também diferentes. Ao longo dos anos, porém, os grupos "convergiram para negócios pontuais". O delegado não revelou o tipo de articulação que eles teriam, alegando que as investigações correm sob sigilo.
Sobre Dantas e vários diretores e colaboradores do Opportunity, pesam as acusações de formação de quadrilha, evasão de divisas e gestão fraudulenta (criando, por exemplo, balanços fictícios do desempenho dos fundos). O esquema passaria pelo Opportunity Fund, um fundo offshore sediado no paraíso fiscal das Ilhas Cayman. Segundo a Polícia Federal e o Ministério Público Federal, o grupo de Dantas usaria esse fundo para cometer crimes de evasão fiscal. Laudos de peritos indicam que, entre 1992 e 2004, o fundo movimentou quase 2 bilhões de dólares. Dantas também é acusado de concessão de empréstimos vedados (tipo de operação entre empresas do mesmo grupo).
Tentativa de corrupção
Outra acusação dos procuradores e dos agentes da PF é de que Dantas está envolvido em um caso de corrupção ativa. Há cerca de dois meses, uma reportagem da Folha de S.Paulo antecipou que o banqueiro seria alvo de uma operação federal. Desde então, um delegado da PF foi procurado por um suposto emissário de Dantas, e teria oferecido 1 milhão de dólares para que os nomes de Dantas, sua irmã Verônica e uma terceira pessoa - não revelada na coletiva - ficassem de fora das investigações.
O delegado obteve da Justiça, então, uma autorização de ação controlada - procedimento que permite ao policial continuar os contatos com os suspeitos, a fim de obter mais provas, e efetuar a prisão no momento mais adequado. Numa segunda etapa, o emissário teria sugerido que, após a exclusão de Dantas das investigações, seria solicitado ao delegado outro "trabalho": envolver Luis Roberto Demarco, ex-sócio do banqueiro e atual desafeto, em outra investigação da PF. Segundo o Ministério Público, o grupo chegou a entregar 129.000 reais ao policial, como adiantamento do acordo, em duas parcelas - uma de 50.000 reais e outra de 79.000.
A movimentação também teria envolvido o ex-deputado federal petista Luis Eduardo Greenhalgh. Ele chegou a ter a prisão solicitada pela PF, mas a Justiça afirmou não haver elementos para decretá-la. Greenhalgh seria um dos elos com o poder executivo, e teria se movimentado em busca de informações sobre as investigações.
Outros dois personagens próximos do governo também teriam surgido durante as investigações - o do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, e o do atual ministro extraordinário de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger. O procurador federal Rodrigo de Grandis, que participa das investigações, preferiu não detalhar que suspeitas os envolvem, alegando sigilo de justiça.
Conexão internacional
O segundo grupo, supostamente chefiado por Nahas, concentraria suas operações em lavagem de dinheiro, manutenção de um banco não-autorizado pelo Banco Central, operações de remessa ilegal de dólares para o exterior (dólar cabo) e uso de informações privilegiadas para fraudar o sistema financeiro. Segundo o delegado Queiroz, responsável pelas investigações, há indícios de que Nahas obtinha informações confidenciais sobre a taxa de juros americana dentro do próprio Federal Reserve. "O nível de acesso de Nahas às estruturas internacionais é incomensurável", afirma. O delegado também não quis revelar de que forma as informações eram usadas por Nahas para manipular o mercado.
Por meio de Nahas, os trabalhos atingiram o ex-prefeito Celso Pitta, que seria um dos principais clientes do investidor nas operações ilegais com dólares. Pitta está entre os que tiveram prisão temporária decretada e já foi detido.
Fantasma do mensalão
O ponto de partida das investigações foram os indícios encontrados durante outro processo - o que apurou um suposto esquema de desvio de verbas públicas para compra de votos e financiamento de campanhas eleitorais, coordenado pelo publicitário mineiro Marcos Valério. O suposto esquema, que praticamente paralisou o primeiro mandato do presidente Lula e levou à queda de Dirceu, ficou conhecido como mensalão.
Durante a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios, instaurada na época para investigar o esquema, foram levantados indícios de que as operadoras de telefonia Telemig e Amazônia Celular foram as principais depositantes nas contas de Marcos Valério. As empresas têm participação do Opportunity em seu capital. A partir desses indícios, o Ministério Público requereu novas investigações, que teriam conduzido à suposta organização de Dantas e aos seus contatos com Nahas.