Minhas Finanças

Finanças da família em dia

Basta um minuto de conversa para descobrir de onde são Marcus e Adriana Stroher. Não fosse o sotaque tão acentuado, a cuia de chimarrão nas mãos entregaria: eles nasceram no Rio Grande do Sul. Ao contrário do que se esperaria, depois de mais de cinco anos em São Paulo, as características "gauchescas" parecem estar ainda […]

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h33.

Basta um minuto de conversa para descobrir de onde são Marcus e Adriana Stroher. Não fosse o sotaque tão acentuado, a cuia de chimarrão nas mãos entregaria: eles nasceram no Rio Grande do Sul. Ao contrário do que se esperaria, depois de mais de cinco anos em São Paulo, as características "gauchescas" parecem estar ainda mais fortes. A história do casal começou em Sapucaia do Sul, na região metropolitana de Porto Alegre. Marcus tinha 20 anos quando começou a namorar Adriana, na época com 25. Não passou muito tempo e a carreira os separou. Adriana é operadora de comércio exterior e foi transferida para a sede da empresa onde trabalha, em São Paulo, no ano de 1998. Marcus, técnico em segurança do trabalho, continuou vivendo no Sul. E o namoro seguiu à distância.

Um ano e meio depois, cansado da rotina de ir e vir, Marcus decidiu dar uma chance à capital paulista. "Vim para um estágio de um mês e, no final, acabei me mudando de mala e cuia, literalmente." Em seguida, os dois já tinham apartamento alugado, emprego para Marcus e preparativos para o casamento. Desde então, Adriana e Marcus engatilharam de vez a vida profissional em São Paulo. E acabaram se acostumando ao novo estilo de vida. "A gente ainda sente falta da família, mas já formamos um círculo de amigos e hoje nossa vida é aqui", afirma Adriana. Por isso, há pouco mais de um ano, eles vêm estudando a possibilidade de comprar um apartamento, assentar de vez as raízes e, quem sabe, pensar no primeiro herdeiro.

A organização financeira de Adriana e Marcus Vinicius é de fazer inveja. Sem a ajuda de nenhum especialista, os gaúchos mantêm as contas em dia e ainda poupam 25% de sua renda líquida. Os rendimentos líquidos dos dois chegam a 3 680 reais. Não é nenhuma fortuna, mas o suficiente para atender às necessidades de consumo de um casal jovem numa cidade de custo de vida elevado e ainda construir uma poupança. O orçamento está distribuído de forma equilibrada e tem apenas dois gastos altos: habitação, que inclui aluguel, condomínio e IPTU, consome aproximadamente 25% da renda do casal. Transportes, comprometem mais 12%. Alimentação corresponde a 10% das despesas. Nem o lazer é muito caro. "Costumamos viajar para a casa de praia de uns amigos ou nos reunimos na casa de alguém para conversar", diz Adriana.

O endividamento deles é pequeno. Adriana está terminando de pagar as prestações de um crédito educativo e parcelou a anuidade da entidade de representação profissional da qual faz parte. Mas, de maneira geral, eles estão empenhados na tarefa de poupar para comprar o apartamento. Adriana e Marcus ainda não encontraram o imóvel ideal, mas acreditam que ele custará aproximadamente 90 000 reais. Hoje, eles têm pouco mais de 10 000 reais guardados. Cinco mil e setecentos reais estão num fundo PGBL e 4 300 reais na caderneta de poupança. A única coisa que eventualmente atrapalha o esforço de poupança é o lado generoso da gaúcha Adriana. Toda vez que o casal viaja para visitar a família, ela não deixa de levar uns presentinhos para os parentes. "O problema é que a lista chega a 15 pessoas", brinca Marcus. Como já está acostumada a traçar estratégias para sua vida profissional, Adriana escreveu para a revista VOCE S/A pedindo uma orientação profissional para fazer o mesmo por seu apartamento. O caso foi levado a Paulo Rezende, diretor da Máxima Asset Management. Veja a seguir o plano que ele traçou:

Para começar

"Os dois estão de parabéns", diz Rezende. "Enquanto a classe média, em geral, vive pendurada no cheque especial e no cartão de crédito, eles conseguem conter o consumo e poupar." Segundo o diretor da Máxima, a situação é confortável. Como eles não estão no vermelho não precisarão realizar cortes. Basta que mantenham o consumo e sigam uma linha de disciplina de poupança. Atualmente, a sobra do fim do mês está na casa dos 900 reais.

Calcular o financiamento

Rezende fez cálculos para descobrir quanto tempo os gaúchos vão precisar esperar para dar entrada no apartamento, e qual será o valor das prestações a assumir num financiamento. A estratégia é simples. Começa por um dado da indústria de financiamento de imóveis. "Os agentes financeiros não costumam aprovar financiamentos que comprometam mais de 30% da renda da pessoa com prestação", explica Rezende. Ou seja, no caso de Adriana e Marcus a prestação máxima admitida seria de 1 100 reais, mantido o rendimento líquido atual do casal. Esse valor é um pouco mais alto do que eles comprometem hoje com habitação no total (25% da receita líquida), incluindo condomínio e IPTU.

Em seguida, Rezende descobriu quanto Adriana e Marcus precisariam dar de entrada para que assumissem prestações de, no máximo, 1 100 reais. Numa situação hipotética de financiamento de 120 meses com correção pela TR (supondo taxa referencial de juros igual a 3% ao ano) mais 14% ao ano, Rezende calcula que o casal poderia financiar um valor próximo de 67 000 reais. Ou seja, para um apartamento de 90 000 reais, teriam de dar 23 000 reais de entrada.

Definir o nível de poupança

Atualmente, as economias do casal estão aplicadas no FGTS (8 500 reais), na caderneta de poupança (4 600 reais) e num fundo PGBL (5 700 reais). Rezende sugere que o casal use apenas a caderneta e o FGTS para dar entrada no apartamento. "Se eles sacarem integralmente o PGBL, vão arcar com os 27,5% do IR e com a CPMF de 0,38%", afirma o diretor de asset. "Por isso, sugiro irem sacando esse dinheiro em parcelas menores -- de até 1 058 reais, segundo o limite da tabela atual -- depois da entrada, para pagar as prestações. Assim, escapam do IR." Portanto, Adriana e Marcus teriam, em valores atuais, 13 000 reais para usar como entrada no apartamento (do FGTS e da poupança). Estão 10 000 reais abaixo do necessário calculado por Rezende.

Entretanto, Marcus e Adriana vivem hoje num apartamento (com piscina, churrasqueira e quadra de esportes) cujo contrato de aluguel termina somente em meados de 2003. Têm até julho ou agosto de 2003 para juntar os 10 000 reais que faltam para a entrada. Com capacidade de poupança de 900 reais por mês, eles levariam 12 meses para atingir o valor necessário. Por isso, quanto mais tempo permanecerem morando de aluguel, mais suave será o peso dessa poupança no orçamento. Rezende lembra ainda que não sugeriu nenhum corte para aumentar a poupança porque acredita que o casal já está bem organizado. "E não considerei também uma eventual correção por juros dessa sobra mensal, do PGBL ou do FGTS. Mas é preciso lembrar que o valor do imóvel também pode ser corrigido."

O diretor da Máxima Asset Management sugere que as economias sejam transferidas da caderneta de poupança para um fundo DI. Ele ressalta ainda que essa transferência só será realmente vantajosa se eles conseguirem um fundo com taxa de administração máxima de 1% ao ano. "Eles podem encontrar produtos com essas características em empresas distribuidoras de fundos, que conseguem oferecer taxas melhores que os grandes bancos de varejo", diz Rezende. Apenas o PGBL deve permanecer intocado, sem novos aportes nem retiradas, até que o casal dê entrada no imóvel.

b>Pagar as prestações

Quando for possível dar a entrada, Adriana e Marcus começarão a se preo cupar com as prestações. Na hipótese de realmente assumirem o financiamento de 67 000 reais (com prestações de 1 100 reais), poderiam então começar a resgatar esse valor inicialmente do PGBL. Por cinco meses, a poupança de 900 reais continuaria sendo feita. O valor das prestações seria sacado do PGBL até zerar o total nessa aplicação. Depois disso, elas sairiam do orçamento. Se forem mesmo de 1 100 reais, a poupança mensal cairia para 600 reais por mês. Esse montante representa ainda 16% da renda líquida do casal -- ou seja, a capacidade de poupança ainda permaneceria alta. Vale a pena ressaltar que 1 100 reais representam apenas o pagamento das prestações do novo apartamento. Marcus e Adriana teriam condomínio e IPTU (algo já contabilizado nos 25% que habitação vem consumindo hoje) para pagar -- um aumento nas despesas por ocasião da mudança para o novo imóvel.

Rezende lembra ainda que o casal precisa também arcar com os custos de transferência do imóvel: há o preço da escritura e o imposto de transferência de bens. No total, essas despesas costumam levar perto de 2,5% do valor do imóvel, o que no caso dos gaúchos seria aproximadamente 2 300 reais. A essa altura, no apartamento novo, o casal pode então pensar no bebê. Quem sabe, morando na casa nova, Marcus consiga convencer Adriana que já está na hora de fazer uma encomenda para a cegonha.

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