Está chegando aquela hora gostosa de pensar no que fazer com o dinheiro extra que entrará no bolso no fim do ano. O 13o salário pode dobrar seu poder de compra a partir do próximo mês. O dinheiro vem num momento em que há um clima de otimismo no ar.
Para os especialistas do mercado financeiro, ao chegar, Papai Noel encontrará uma economia com juros básicos de 17% ao ano, e o dólar valerá pouco mais de 3 reais. Para o ano que vem, espera-se uma inflação levemente acima de 6%. A economia real também antevê um Natal melhor que o de 2002 -- considerado muito ruim.
"Os clientes estão começando a pagar suas dívidas vencidas", diz Michael Klein, principal executivo da Casas Bahia, maior rede de varejo de eletrodomésticos e móveis do país. "Eles devem voltar a comprar em novembro e dezembro." A melhora das vendas já aparece nos números. A Casas Bahia faturou 3,5 bilhões de reais de janeiro a setembro deste ano, 18% mais que no mesmo período de 2002.
Qualquer que seja seu estado de espírito, o consumidor deve seguir uma estratégia para obter o máximo de satisfação com seu dinheiro e não ficar com a impressão de que o reforço de caixa partiu tão depressa quanto chegou. Seja para gastar, seja para investir, a questão é ser o mais racional possível nas decisões. "É preciso refrear o impulso consumista", diz Wagner Soares, diretor da ClickInvest Gestão de Ativos, de São Paulo.
Antes de qualquer coisa, os especialistas consultados são unânimes em afirmar que o melhor negócio é consertar os erros do passado. "Mesmo em queda, os juros para o consumidor ainda são muito altos", diz Miguel de Oliveira, presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac). "Não há aplicação mais rentável que pagar dívidas pendentes."
O raciocínio aplica-se principalmente aos que têm prestações em atraso, mas mesmo quem está com o carnê em dia deve se livrar do compromisso, com uma vantagem adicional. "Nem todos sabem, mas, pelo Código de Defesa do Consumidor, quem antecipa parcelas tem direito à redução dos juros", diz Oliveira.
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COMO GASTAR |
PREPARE-SE -- E COMPRE SEM CULPA
Os comerciantes estão otimistas com as perspectivas para o fim do ano, mas
têm pouco a comemorar até agora. Mesmo produtos de alto valor, destinados
a uma parcela da população teoricamente a salvo das crises, sofreram com
a conjuntura adversa deste ano. "As vendas de automóveis de luxo caíram
40% até setembro em comparação com o ano passado", diz Luís Beréa, diretor
da DaimlerChrysler, que vende carros de 141 000 reais (Mercedes Benz Classe
C) a mais de 500 000 reais (Classe S). Assim, o consumidor que chegar à
loja com dinheiro na mão terá força para negociar. Começa aí a sua estratégia:
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1. PAGUE À VISTA
Os juros ao consumidor ainda permanecem em média a 155% ao ano, ou 8% ao
mês, segundo a Anefac. Mesmo créditos "baratos", como os empréstimos com
desconto em folha ou as cooperativas de crédito, cobram 2,5% ao mês. Isso
significa 34,5% ao ano, o que faria o valor da dívida dobrar em 29 meses.
Portanto, se não tiver recursos para pagar à vista neste momento, junte
dinheiro e compre à vista mais tarde. |
2. PECHINCHE SEMPRE
As redes de varejo estão vendendo em parcelas "sem juros". Os planos mais
comuns têm três, cinco e até dez prestações. Na verdade, "sem juros" quer
dizer que todas as parcelas são iguais, mas os juros estão implícitos no
valor total da venda. Quem puder pagar à vista deve pedir desconto. |
3. PEÇA DESCONTO
Para saber quanto, é preciso comparar o preço à vista com o ganho que o
consumidor obteria no mercado financeiro aplicando o dinheiro e pagando
uma parcela por mês. Com os atuais juros de mercado (1,3% líquido de imposto
ao mês), quem pensa em pagar em três prestações vai economizar se obtiver
um desconto de 2% sobre o preço à vista. Em cinco vezes, o desconto mínimo
deveria ser de 3%. Em dez vezes, o percentual dispara: seria necessário
um desconto de 13% para o pagamento à vista valer a pena. Se a loja disser
que o preço à vista é igual ao parcelado, procure outra rede mais camarada.
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4. PLANEJE ANTES
Decida o que vai dar de presente antes de sair de casa. O Natal é uma época
de festa, todos querem um agrado depois de um ano difícil, por isso a tentação
de gastar além da conta é grande, especialmente com as crianças. Uma forma
de tornar o ato mais racional é dividir as compras em duas etapas. Na primeira,
olhe, mas não compre. Visite várias lojas e passeie pelos shoppings. Se
tiver tempo e paciência, procure locais alternativos -- como pontas-de-estoque,
lojas de desconto e o bom e velho varejo popular de rua: as ruas 25 de Março
e José Paulino, em São Paulo, a avenida 7 de Setembro, em Salvador, e a
rua da Alfândega, no Rio de Janeiro. O serviço não é glamouroso nem há o
conforto e a comodidade de um shopping, mas os preços são bem menores. Depois,
com tudo já decidido, faça as contas, veja quanto vai gastar e como vai
pagar e saia só para fechar negócio, evitando ao máximo mudanças de idéia
de última hora. "Comprar por impulso é comprar sem pensar", diz a consultora
Marcia Dessen, diretora do Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais
Financeiros (IBCPF). "Qualquer decisão precipitada custa caro." |
5. COMPRE AGORA
O Natal será bom, mas ainda faltam dois meses. Até lá, as lojas têm de pagar
as contas e os salários de seus vendedores. Por isso, o comércio estará
mais receptivo a conceder um desconto maior para não perder a venda nas
próximas semanas. Por exemplo, um aparelho de televisão de 29 polegadas
da Semp Toshiba, modelo básico, custa agora 1 190 reais. No Natal do ano
passado saía por 1 390 reais, segundo informações do fabricante. O desaquecimento
do mercado torna mais eficaz o pechinchar do comprador. "Conseguir bons
preços agora mesmo e antecipar suas compras pode ser melhor que esperar
as lojas ficarem cheias", diz o consultor Sérgio Galvão Bueno, da LLA Investimentos,
de São Paulo. "Se o consumidor tiver dinheiro e puder antecipar as compras,
melhor." |
ONDE INVESTIR |
ESTRATÉGIAS PARA 2003, 2004 OU O RESTO DA VIDA
Quem não quer gastar todo o 13o e pretende guardar um pouco para festejar
mais tarde deve aproveitar o fim do ano para pensar em seus objetivos de
vida. Existem metas de curtíssimo prazo, como o pagamento dos gastos de
início de ano -- IPTU, IPVA, matrícula das crianças na escola, material
escolar, e por aí vai... Há metas de médio prazo, como a troca do carro
e a faculdade dos filhos. Também vale a pena formar uma reserva de emergência.
"Tenha pelo menos cinco meses de garantia", diz Wagner Soares, da empresa
de gestão de ativos paulista ClickInvest. Planeje, por fim, as metas de
longo prazo, como a aposentadoria. Sua estratégia financeira dependerá dessas
reflexões iniciais. A seguir, algumas alternativas de onde investir parte
de seu 13o. |
1. PARA A RESERVA DE CURTO PRAZO,FUNDOS DI
Rendem a taxa de juro básica da economia -- perto de 19% ao ano -- e são
pouco arriscados, pois aplicam em títulos do governo brasileiro. "Os fundos
DI oferecem segurança, rentabilidade e liquidez diária", diz Miguel de Oliveira,
da Anefac. São indicados para guardar os recursos que serão usados no curto
prazo ou a reserva para emergências. Escolha o fundo que cobra a menor taxa
de administração. |
2. PARA O LONGO PRAZO, CORRENDO RISCO, BOLSA DE VALORES
É o investimento mais rentável do ano, mas a maioria dos analistas não recomenda
-- para já -- a compra de ações. O índice Bovespa já subiu 60% neste ano,
superando 18 000 pontos. "Quem entrou um ano atrás está ganhando 100% e
pode começar a vender, o que fará os preços baixar", diz o consultor de
investimentos Fabio Colombo, de São Paulo. Se sua intenção é investir em
ações, espere um pouco. "É mais seguro deixar para investir no início do
ano que vem, quando o quadro estiver mais claro", diz Sérgio Galvão Bueno,
da LLA Investimentos. Atenção: nunca coloque sua reserva de emergência em
ações. |
3.PARA O LONGO PRAZO, E SE QUISER DIVERSIFICAR, DOLAR
Não compre pensando em vender no Natal, exceto se for para pagar a viagem
de férias. As projeções atuais indicam a moeda americana a pouco mais de
3 reais no início do ano que vem. Pode ser uma boa idéia, como diversificação
e proteção contra turbulências no longo prazo. "O investidor precisa aprender
a comprar na baixa e a vender na alta", diz Colombo. "E ninguém prevê dólar
mais baixo que agora." Em vez de comprar as notas e levar para casa, os
especialistas sugerem entrar em um fundo cambial, que paga a variação do
dólar mais juros, hoje por volta de 2% ao ano. Quem tem mais dinheiro pode
investir diretamente no exterior. Uma alternativa é comprar bônus de grandes
empresas brasileiras, como Petrobras e Bradesco, negociados lá fora. É possível
obter a variação do dólar mais 8% ao ano. |
4. PARA O FUTURO, PREVIDENCIA PRIVADA
É hora de fazer um plano de previdência? Sim, desde que você aproveite a
vantagem do diferimento fiscal. Antes de depositar, faça as contas e verifique
se já poupou 12% de sua renda bruta num plano de previdência privada, como
o Plano Gerador de Benefícios Livres (PGBL). Caso já tenha atingido o limite
dos 12% ou não declare imposto de renda em formulário completo, a recomendação
é fazer um Vida Gerador de Benefícios Livres (VGBL). |
5. PARA 2004, FUNDOS DE RECEBIVEIS
Devem ser a aposta para o ano que vem (para saber como eles funcionam, clique aqui). Ainda há poucos deles abertos
à captação. O banco Cruzeiro do Sul, de São Paulo, está lançando um produto
com lastro em recebíveis de empréstimos com desconto em folha. Terá duração
de 24 meses e renderá 115% do Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI).
"O fundo oferece boa remuneração com baixa volatilidade", diz Syllas dos
Passos Ramos, superintendente de private banking do Cruzeiro do Sul. Sua
desvantagem é que são investimentos para prazo longo. |