PICPAY: o app ganhou 3 milhões de novos usurários depois da quarentena. / (Rogério Cassimiro/Divulgação) (Rogério Cassimiro/Divulgação)
Bianca Alvarenga
Publicado em 23 de julho de 2021 às 14h56.
Última atualização em 26 de julho de 2021 às 10h46.
A história do PicPay e do Guiabolso é repleta de circunstâncias em comum, mas o ponto de partida talvez seja o maior deles: as duas empresas nasceram em 2012 e tinham o propósito ambicioso de revolucionar o serviço pioneiro que gostariam de oferecer.
No lado do Guiabolso, o desafio era democratizar as informações detidas pelos grandes bancos e criar um ambiente unificado para que o próprio cliente pudesse fazer a gestão da vida financeira. Para o PicPay, o obstáculo a ser vencido era a popularização das carteiras digitais, ainda incipientes no Brasil àquela época.
Nove anos de história e mais de 61 milhões de clientes depois (55 milhões do PicPay e 6 do Guiabolso), a trajetória das duas empresas ganha um novo capítulo comum: nesta sexta-feira, dia 23, o Guiabolso foi comprado pelo PicPay, e os caminhos da democratização dos dados financeiros e das carteiras digitais devem finalmente se unir.
É assim que Eduardo Chedid, vice-presidente de serviços financeiros do PicPay, definiu a estatégia de compra do Guiabolso.
"Nascemos em 2012 com o objetivo de facilitar as transações entre pessoas, exatamente o que o Pix faz hoje. Já o Guiabolso buscava o compartilhamento de informações financeiras antes mesmo de o Open Banking existir. Quando olhamos para esses dois pontos, o encaixe estratégico fica quase óbvio", explicou o executivo, em entrevista exclusiva à EXAME Invest.
A operação, cujo valor não foi divulgado, ainda precisará passar pela aprovação dos órgãos competentes. O plano de voo também não foi desenhado ainda -- Chedid conta que o acordou levou apenas três dias para ser firmado, e que as primeiras reuniões para definir as estratégias conjuntas acontecerão a partir de segunda-feira, dia 26.
A princípio, nada muda para os 61 milhões de clientes. Os aplicativos continuarão a funcionar separadamente, e as estruturas administradas de forma independente -- além do serviço de gestão financeira, o Guiabolso tem, por exemplo, cerca de 1 bilhão de reais em empréstimos concedidos por meio de parceiros.
Thiago Alvarez, CEO e fundador do Guiabolso, conta que a estatégia de plataforma aberta seguirá sendo importante. As parcerias firmadas pela empresa para a oferta de produtos financeiros de terceiros dentro do aplicativo (em um ambiente de marketplace) estão de pé.
O mesmo vale para o PicPay, que continuará não só a oferecer serviços de cartão, crédito pessoal e empréstimos, como também seguirá sendo uma carteira digital -- ou seja, os clientes continuarão a poder cadastrar cartões de outras instituições para realizar pagamentos pela plataforma.
"Quando pensamos no que é necessário para construir um marketplace completo para o cliente, as parcerias ganham ainda mais importância. Tanto para nós quanto para o PicPay, falar em plataforma aberta continua fazendo total sentido", conta Alvarez.
Questionado sobre como o avanço do Pix e a implementação do Open Banking devem mudar a vida dos 61 milhões de clientes das duas instituições, o executivo (que também faz parte do comitê de discussão do Open Banking no Banco Central) diz que é difícil elencar uma única transformação.
"No final das contas, toda a jornada vai ser diferente. Muda a forma com que o cliente abre conta, como ele faz o onboarding, como a insitutição analisa o risco de crédito desse cliente, os serviços e produtos ofertados... enfim, muda tudo", define o CEO do Guiabolso.
Eduardo Chedid, VP do PicPay complementa: "Não é só uma questão de oferecer mais produtos e mais serviços, e sim de personalizar aquilo que entregamos ao cliente. A estrutura de dados construída pelo Guiabolso nos permite conhecer ainda melhor as necessidades dos nossos usuários".
No PicPay, os planos de estreia no mercado de ações nos Estados Unidos foram adiados. Com um aporte bilionário da J&F, holding da qual a indústria de carnes JBS faz parte, a plataforma de pagamentos postergou o IPO na Nasdaq para 2023.
"A J&F claramente resolveu dobrar a aposta na empresa, e esse aporte nos deixa confortável para cumprir nossos planos e acelerar o nosso crescimento até 2023", explica Chedid, do PicPay.
Ele diz que a compra do Guiabolso é prova de que essa estratégia segue válida, mesmo sem a captação de recursos no mercado financeiro.
A compra vai levar a uma incorporação de 100% do time do Guiabolso -- Alvarez e outros executivos da empresa passarão a fazer parte do corpo de diretores do PicPay. A forma e o prazo para essa integração ainda não estão definidos.