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Como ensino a meu filho o valor do dinheiro?

Criança insiste em ganhar novos brinquedos a toda hora, e pais não sabem como dizer "não"

Não faltam tentações para as crianças pedirem presentes aos pais (Giulio Marcocchi /Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 8 de junho de 2012 às 16h39.

Dúvida do internauta: Estou com dúvidas sobre como mostrar para o meu filho o valor do dinheiro. Muitas vezes ele insiste muito para conseguir determinado brinquedo ou jogo e, mesmo tentando resistir e negar no início, eu e minha esposa quase sempre acabamos cedendo. O problema é que ele se sente muito satisfeito durante, no máximo, uma semana. Depois disso, deixa o brinquedo encostado. Essa situação vem se repetindo em intervalos cada vez menores, portanto, gostaria de aprender alguma forma de abordar esse assunto, para mostrar a ele que não há condições financeiras de pedir tudo a toda hora.

Resposta de Celina Macedo*:

Em muitas famílias, dinheiro é assunto de adulto. E nem sempre é um assunto agradável, porque se fala mais quando ele está fazendo falta do que para planejar sonhos. Muitos pais dizem “eu queria comprar uma TV nova”, “eu queria comprar uma bota nova”, “eu queria...”, mas no final da frase vem “não tenho dinheiro”. O pior é que mesmo dizendo que não tem o dinheiro, a mãe volta feliz do passeio no shopping com uma bota nova. Com essa atitude, ela passa ao filho a lição de que o importante é realizar o desejo, independentemente de ter ou não dinheiro, de ter que pedir emprestado ao banco, de pagar em várias vezes com juros ou mesmo de se tornar devedora.

Será que essa é uma boa lição? Os filhos aprendem muito com as atitudes, comportamentos e gestos dos pais. Por serem fortes modelos para os filhos, os pais devem observar como eles próprios administram e agem quando o assunto é dinheiro.

O segundo passo é conversar com o filho sobre o que os pais fazem para ganhar dinheiro, como é o trabalho. Este pode ser um gancho para uma lição sobre a origem do dinheiro (que não cai do céu) e sobre as contas que precisam ser pagas todos os meses. Nessa hora vale pedir ajuda ao filho para não desperdiçar, por exemplo, água e luz. O que for economizado pode servir para comprar algo que ele queira no futuro.

É possível ter esse tipo de conversa com crianças, adaptando a linguagem de acordo com a idade. Jogos e brincadeiras que simulem a vida da família também são importantes para ensinar aos filhos que existem regras a serem respeitadas: esperar a vez, fazer escolhas, ganhar e perder. Dar limites, ensinar a esperar e a aproveitar oportunidades faz parte da educação financeira.

Filhos que recebem “não” sabem valorizar o "sim". Dizer “não” é colocar limites. A criança deve aprender a lidar com frustrações. Com isso, ela pode superar e aceitar as negações rotineiras. Longe de ser prejudicial, isso a fortalece e a ensina a batalhar para ter o que realmente quer muito.

O filho precisa ter aquela sensação de friozinho na barriga, de “será que vou ganhar?”. E, se ele quiser de verdade, deve esperar para ganhar em um momento especial. Se não, a satisfação fica só no momento de receber e depois de uma semana o brinquedo passa a ser mais um, em algum canto do quarto.

Por volta dos 6 anos já é possível dar semanada ao filho. Com ela, ele aprende a gerir parte do orçamento da família a seu favor. Os pais devem perguntar o que o filho gostaria de pagar com esse dinheiro: o lanche da escola, a entrada do cinema, as guloseimas. Depois que a lista estiver pronta, os pais devem fazer a conta e discutir se é possível dar ou não a quantia ao filho todas as semanas. Tomada a decisão, o pagamento deve ser feito sempre no mesmo dia e a criança precisa ter liberdade para se organizar, gastar e poupar.

Se o dinheiro acabar, será preciso esperar para a próxima semana. Os pais vão pensar: “então, vou deixar o meu filho sem lanche?”. Não, ele pode levar o lanche de casa. Dessa forma, o filho aprende que não pode comprar tudo o que quiser, na hora que quiser. Ele vai aprender que é preciso fazer escolhas, fazer trocas e esperar até a próxima semana. Inclusive, vai aprender que é possível levar lanche de casa para economizar e juntar dinheiro para comprar, mais tarde, algo que queira muito. Quando isso acontecer, tenho certeza que o prazer da criança será imenso e ela vai saber dar valor ao que recebe.

*Celina Macedo é doutora em Linguística com pós-doutorado em Psicologia Cognitiva pela Université Libre de Bruxelas, onde trabalhou com as Percepções Subliminares do Dinheiro. É professora do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), conselheira do Instituto de Educação Financeira e autora do livro “Filhos: seu melhor investimento” (Campus/Elsevier).

Dúvidas, observações e críticas sobre essa resposta? Comente abaixo!

Envie outras perguntas sobre educação financeira dos filhos para seudinheiro_exame@abril.com.br.

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Dúvida do internauta: Estou com dúvidas sobre como mostrar para o meu filho o valor do dinheiro. Muitas vezes ele insiste muito para conseguir determinado brinquedo ou jogo e, mesmo tentando resistir e negar no início, eu e minha esposa quase sempre acabamos cedendo. O problema é que ele se sente muito satisfeito durante, no máximo, uma semana. Depois disso, deixa o brinquedo encostado. Essa situação vem se repetindo em intervalos cada vez menores, portanto, gostaria de aprender alguma forma de abordar esse assunto, para mostrar a ele que não há condições financeiras de pedir tudo a toda hora.

Resposta de Celina Macedo*:

Em muitas famílias, dinheiro é assunto de adulto. E nem sempre é um assunto agradável, porque se fala mais quando ele está fazendo falta do que para planejar sonhos. Muitos pais dizem “eu queria comprar uma TV nova”, “eu queria comprar uma bota nova”, “eu queria...”, mas no final da frase vem “não tenho dinheiro”. O pior é que mesmo dizendo que não tem o dinheiro, a mãe volta feliz do passeio no shopping com uma bota nova. Com essa atitude, ela passa ao filho a lição de que o importante é realizar o desejo, independentemente de ter ou não dinheiro, de ter que pedir emprestado ao banco, de pagar em várias vezes com juros ou mesmo de se tornar devedora.

Será que essa é uma boa lição? Os filhos aprendem muito com as atitudes, comportamentos e gestos dos pais. Por serem fortes modelos para os filhos, os pais devem observar como eles próprios administram e agem quando o assunto é dinheiro.

O segundo passo é conversar com o filho sobre o que os pais fazem para ganhar dinheiro, como é o trabalho. Este pode ser um gancho para uma lição sobre a origem do dinheiro (que não cai do céu) e sobre as contas que precisam ser pagas todos os meses. Nessa hora vale pedir ajuda ao filho para não desperdiçar, por exemplo, água e luz. O que for economizado pode servir para comprar algo que ele queira no futuro.

É possível ter esse tipo de conversa com crianças, adaptando a linguagem de acordo com a idade. Jogos e brincadeiras que simulem a vida da família também são importantes para ensinar aos filhos que existem regras a serem respeitadas: esperar a vez, fazer escolhas, ganhar e perder. Dar limites, ensinar a esperar e a aproveitar oportunidades faz parte da educação financeira.

Filhos que recebem “não” sabem valorizar o "sim". Dizer “não” é colocar limites. A criança deve aprender a lidar com frustrações. Com isso, ela pode superar e aceitar as negações rotineiras. Longe de ser prejudicial, isso a fortalece e a ensina a batalhar para ter o que realmente quer muito.

O filho precisa ter aquela sensação de friozinho na barriga, de “será que vou ganhar?”. E, se ele quiser de verdade, deve esperar para ganhar em um momento especial. Se não, a satisfação fica só no momento de receber e depois de uma semana o brinquedo passa a ser mais um, em algum canto do quarto.

Por volta dos 6 anos já é possível dar semanada ao filho. Com ela, ele aprende a gerir parte do orçamento da família a seu favor. Os pais devem perguntar o que o filho gostaria de pagar com esse dinheiro: o lanche da escola, a entrada do cinema, as guloseimas. Depois que a lista estiver pronta, os pais devem fazer a conta e discutir se é possível dar ou não a quantia ao filho todas as semanas. Tomada a decisão, o pagamento deve ser feito sempre no mesmo dia e a criança precisa ter liberdade para se organizar, gastar e poupar.

Se o dinheiro acabar, será preciso esperar para a próxima semana. Os pais vão pensar: “então, vou deixar o meu filho sem lanche?”. Não, ele pode levar o lanche de casa. Dessa forma, o filho aprende que não pode comprar tudo o que quiser, na hora que quiser. Ele vai aprender que é preciso fazer escolhas, fazer trocas e esperar até a próxima semana. Inclusive, vai aprender que é possível levar lanche de casa para economizar e juntar dinheiro para comprar, mais tarde, algo que queira muito. Quando isso acontecer, tenho certeza que o prazer da criança será imenso e ela vai saber dar valor ao que recebe.

*Celina Macedo é doutora em Linguística com pós-doutorado em Psicologia Cognitiva pela Université Libre de Bruxelas, onde trabalhou com as Percepções Subliminares do Dinheiro. É professora do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), conselheira do Instituto de Educação Financeira e autora do livro “Filhos: seu melhor investimento” (Campus/Elsevier).

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