Com revisão da S&P, é hora de fugir das ações da Petrobras?
Possível rebaixamento da nota da Petrobras pela agência de risco levanta novamente a questão; veja o que dizem os especialistas
Da Redação
Publicado em 30 de dezembro de 2013 às 09h28.
São Paulo -Depois de revisar de estável para negativa a perspectiva da nota da dívida soberana brasileira, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) também indicou a possibilidade de rebaixamento da nota da Petrobras . A notícia levanta novamente a questão que tem perseguido os investidores nos últimos anos: Abandonar ou não a ação?
Antes de chegar às possíveis respostas, cabe aqui um preâmbulo sobre a situação. Conforme a S&P justificou, a revisão da perspectiva sobre a petrolífera acontece por causa da ligação extremamente forte que a companhia tem com o governo e da alta probabilidade de uso da empresa como suporte a eventuais necessidades públicas.
A justificativa provavelmente não surpreende aqueles que acompanham há algum tempo a novela da companhia. Nos últimos anos, com o fraco desempenho da economia, tem ficado cada vez mais claro que a estatal se volta mais aos interesses do país do que aos dos acionistas. Conforme mencionado no relatório da S&P, a Petrobras é a maior produtora e distribuidora de petróleo do país, e, portanto, um instrumento muito usado pelo governo para conter a inflação.
Paulo Bittencourt, diretor técnico da Apogeo Investimentos, também acrescenta que é natural que ao rebaixar a nota de um país, as agências de risco considerem fazer o mesmo com suas empresas. “As agências analisam vários aspectos para compor suas classificações. Em alguns pontos a empresa pode se sair muito bem e ter uma nota melhor do que a do país, mas para a nota global da empresa é muito levado em consideração o país onde ela está. Não à toa, algumas empresas buscam um local mais neutro para se sediar do que o seu país”, explica.
Voltando à questão inicial, as respostas podem ser muito diferentes, pois o que define o momento de vender ou comprar uma ação é o ciclo de cada investidor. Isto é, se ele investe na ação há muito tempo ou não e se ele precisa resgatar os recursos agora ou se pode aguardar.
Conforme explicado em reportagem anteriormente publicada em EXAME.com, de maneira geral é possível dizer que abandonar a ação não é um bom negócio para quem investe no papel há mais de cinco anos, antes do início do ciclo mais forte de quedas da companhia. Mas, pode ser a melhor opção para o investidor de curto prazo, que teve perdas menores e pode recuperá-las em outros investimentos mais facilmente.
De cinco anos para cá (período de 06/06/2008 a 07/06/2013) as ações preferenciais da Petrobras (PETR4) tiveram uma queda de 53,29% e as ordinárias (PETR3), de -63,71%. Como a perda é significativa nesse prazo, se o investidor não precisar resgatar os recursos hoje, esperar alguns anos pela recuperação da empresa pode ser a melhor alternativa para reverter o prejuízo que ele teria ao vender os papéis.
Mas, se o investidor precisa do dinheiro agora ou em breve, o jeito é encarar a perda. Conforme Bitencourt lembra, há uma máxima que diz que o mercado pode se manter em baixa por mais tempo do que você pode se manter solvente. “Em um curto espaço de tempo o investidor não deve esperar uma grande recuperação. Com esse ‘downgrade’ da Standard & Poor's a perspectiva não é tão favorável para a empresa”, diz.
Já quem passou a investir na petrolífera nos últimos três anos e entrou na ação quando ela já estava desvalorizada teria uma perda menor. Nos últimos três anos (entre 07/06/2010 a 07/0/2012), por exemplo, há uma queda acumulada de -44,13 nas ações ordinárias (PETR3) e de -30,73 nas preferenciais (PETR4).
Se o investimento foi feito há três anos, portanto, ou ainda mais recentemente, como o prejuízo seria menor, o investidor tem mais chances de compensá-lo em outras aplicações. “Quem investiu no curto prazo - partindo do princípio de que essa pessoa gosta de investir em ações-, o melhor a fazer seria realizar o prejuízo, estabelecendo quanto seria razoável, e alocar os recursos à outra empresa que esteja no lucro”, diz o diretor técnico da Apogeo.
Perspectivas
As perspectivas para a Petrobras no curto e médio prazo não são muito animadoras. Segundo especialistas, algumas questões ainda podem prejudicar os resultados da companhia.
Uma delas é o fato de que 78% das suas dívidas são em dólar, um péssimo indicador em um momento de apreciação da moeda norte-americana. Os preços dos combustíveis também continuam defasados em relação a patamares internacionais, questão que dificilmente será revertida com a inflação pressionada.
E ainda podem ser relacionados outros fatores, como a previsão do aumento dos investimentos em 2013, a expectativa de crescimento da produção de petróleo apenas em 2014 e o prejuízo na divisão de refino.
Em seu relatório de mercado diário, divulgado na sexta-feira (07), a Ativa Corretora ressaltou que a possibilidade de rebaixamento da empresa pela S& P deve ter reflexos no curto prazo, com o custo de captação no exterior se elevando, mas o impacto deve ser bem sutil. “Se a situação persistir e a S&P rebaixar, de fato, o rating soberano do Brasil, os efeitos no longo prazo podem ser grandes e aí sim podem prejudicar a capacidade de ambas as empresas (referindo-se também à Eletrobras) de se financiar no mercado externo”, diz o relatório.
Por outro lado, a corretora ressalta alguns fatores positivos para a empresa. Como a entrada em operação de novos sistemas, a intensificação do programa de desinvestimento e de novos reajustes no preço dos combustíveis.
Além do início da operação da nova plataforma de exploração na área de Lula Nordeste, no pré-sal da bacia de Santos, a corretora destaca que outras plataformas devem entrar em operação este ano: “[...] O que deve contribuir para a recuperação de sua curva de produção a partir do terceiro quadrimestre de 2013 e será mais evidente em 2014, quando os novos sistemas produtivos devem alcançar seu pico de produção”.
Bittencourt acredita em uma recuperação um pouco mais lenta, o que talvez ocorra em um prazo de sete anos, ou mais, quando os resultados dos investimentos no pré-sal podem surtir maiores efeitos. “Uma coisa é certa: depois desse ciclo ruim, a Petrobras, assim como ocorre com qualquer empresa do sistema capitalista, deve passar por um momento de otimização. Até o fim da década, haverá uma recuperação grande, sem dúvida. O petróleo é muito cobiçado e a demanda é crescente, em um horizonte de dez anos eu não ficaria preocupado”, opina.
Oportunidade de compra?
A atual cotação da ação, na casa dos 18 reais, também levanta outra questão: O momento é propício para o investidor que ainda não investe em Petrobras comprar os papéis?
Celso Grisi,diretor presidente do Instituto Fractal de Análises de Mercado, não acredita que o preço mais baixo deva incentivar o investidor, uma vez que a ação não tem boas perspectivas no curto prazo e no médio prazo.
E mesmo se o investimento for feito no longo prazo, quando as expectativas são mais favoráveis, Grisi afirma que não investiria na ação. “Os resultados a longo prazo podem até ser bons, mas precisamos ver como ficará a política de combustível e a questão do intervencionismo estatal porque ainda há grandes limitações nesse sentido. Francamente, acho que mesmo se o objetivo for investir no longo prazo eu aguardaria mais um pouco. Há investimentos melhores na Bolsa, esse não é o momento da Petrobras”, defende.
Paulo Bittencourt já avalia que este pode ser um bom momento de compra, desde que o investidor entenda que mesmo desvalorizada, a ação tem todos os riscos já citados embutidos no seu preço. “Se eu fosse investir na Petrobras agora, eu entraria com um terço que eu poderia alocar. Se ao fazer um rebalanceamento da minha carteira sobrassem 60 mil reais, eu compraria cerca de 18 mil reais porque não se sabe exatamente quais são os desdobramentos da empresa mais para frente” afirma.
Seguindo essa estratégia, Bittencourt explica que o investidor deveria acompanhar o comportamento da empresa para aos poucos investir mais na ação caso ele perceba que os problemas estão se resolvendo, mesmo que ele pague um preço maior. “O investidor tem todo o tempo para isso porque os ciclos de melhora são ciclos demorados, enquanto as quedas são muito mais abruptas", diz.
Conforme ele defende, é preferível que o investidor lucre menos investindo aos poucos e pagando um preço mais caro pela ação, do que arriscar perder dinheiro investindo uma grande quantia no papel por considerar precipitadamente que seu preço está atrativo.
São Paulo -Depois de revisar de estável para negativa a perspectiva da nota da dívida soberana brasileira, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) também indicou a possibilidade de rebaixamento da nota da Petrobras . A notícia levanta novamente a questão que tem perseguido os investidores nos últimos anos: Abandonar ou não a ação?
Antes de chegar às possíveis respostas, cabe aqui um preâmbulo sobre a situação. Conforme a S&P justificou, a revisão da perspectiva sobre a petrolífera acontece por causa da ligação extremamente forte que a companhia tem com o governo e da alta probabilidade de uso da empresa como suporte a eventuais necessidades públicas.
A justificativa provavelmente não surpreende aqueles que acompanham há algum tempo a novela da companhia. Nos últimos anos, com o fraco desempenho da economia, tem ficado cada vez mais claro que a estatal se volta mais aos interesses do país do que aos dos acionistas. Conforme mencionado no relatório da S&P, a Petrobras é a maior produtora e distribuidora de petróleo do país, e, portanto, um instrumento muito usado pelo governo para conter a inflação.
Paulo Bittencourt, diretor técnico da Apogeo Investimentos, também acrescenta que é natural que ao rebaixar a nota de um país, as agências de risco considerem fazer o mesmo com suas empresas. “As agências analisam vários aspectos para compor suas classificações. Em alguns pontos a empresa pode se sair muito bem e ter uma nota melhor do que a do país, mas para a nota global da empresa é muito levado em consideração o país onde ela está. Não à toa, algumas empresas buscam um local mais neutro para se sediar do que o seu país”, explica.
Voltando à questão inicial, as respostas podem ser muito diferentes, pois o que define o momento de vender ou comprar uma ação é o ciclo de cada investidor. Isto é, se ele investe na ação há muito tempo ou não e se ele precisa resgatar os recursos agora ou se pode aguardar.
Conforme explicado em reportagem anteriormente publicada em EXAME.com, de maneira geral é possível dizer que abandonar a ação não é um bom negócio para quem investe no papel há mais de cinco anos, antes do início do ciclo mais forte de quedas da companhia. Mas, pode ser a melhor opção para o investidor de curto prazo, que teve perdas menores e pode recuperá-las em outros investimentos mais facilmente.
De cinco anos para cá (período de 06/06/2008 a 07/06/2013) as ações preferenciais da Petrobras (PETR4) tiveram uma queda de 53,29% e as ordinárias (PETR3), de -63,71%. Como a perda é significativa nesse prazo, se o investidor não precisar resgatar os recursos hoje, esperar alguns anos pela recuperação da empresa pode ser a melhor alternativa para reverter o prejuízo que ele teria ao vender os papéis.
Mas, se o investidor precisa do dinheiro agora ou em breve, o jeito é encarar a perda. Conforme Bitencourt lembra, há uma máxima que diz que o mercado pode se manter em baixa por mais tempo do que você pode se manter solvente. “Em um curto espaço de tempo o investidor não deve esperar uma grande recuperação. Com esse ‘downgrade’ da Standard & Poor's a perspectiva não é tão favorável para a empresa”, diz.
Já quem passou a investir na petrolífera nos últimos três anos e entrou na ação quando ela já estava desvalorizada teria uma perda menor. Nos últimos três anos (entre 07/06/2010 a 07/0/2012), por exemplo, há uma queda acumulada de -44,13 nas ações ordinárias (PETR3) e de -30,73 nas preferenciais (PETR4).
Se o investimento foi feito há três anos, portanto, ou ainda mais recentemente, como o prejuízo seria menor, o investidor tem mais chances de compensá-lo em outras aplicações. “Quem investiu no curto prazo - partindo do princípio de que essa pessoa gosta de investir em ações-, o melhor a fazer seria realizar o prejuízo, estabelecendo quanto seria razoável, e alocar os recursos à outra empresa que esteja no lucro”, diz o diretor técnico da Apogeo.
Perspectivas
As perspectivas para a Petrobras no curto e médio prazo não são muito animadoras. Segundo especialistas, algumas questões ainda podem prejudicar os resultados da companhia.
Uma delas é o fato de que 78% das suas dívidas são em dólar, um péssimo indicador em um momento de apreciação da moeda norte-americana. Os preços dos combustíveis também continuam defasados em relação a patamares internacionais, questão que dificilmente será revertida com a inflação pressionada.
E ainda podem ser relacionados outros fatores, como a previsão do aumento dos investimentos em 2013, a expectativa de crescimento da produção de petróleo apenas em 2014 e o prejuízo na divisão de refino.
Em seu relatório de mercado diário, divulgado na sexta-feira (07), a Ativa Corretora ressaltou que a possibilidade de rebaixamento da empresa pela S& P deve ter reflexos no curto prazo, com o custo de captação no exterior se elevando, mas o impacto deve ser bem sutil. “Se a situação persistir e a S&P rebaixar, de fato, o rating soberano do Brasil, os efeitos no longo prazo podem ser grandes e aí sim podem prejudicar a capacidade de ambas as empresas (referindo-se também à Eletrobras) de se financiar no mercado externo”, diz o relatório.
Por outro lado, a corretora ressalta alguns fatores positivos para a empresa. Como a entrada em operação de novos sistemas, a intensificação do programa de desinvestimento e de novos reajustes no preço dos combustíveis.
Além do início da operação da nova plataforma de exploração na área de Lula Nordeste, no pré-sal da bacia de Santos, a corretora destaca que outras plataformas devem entrar em operação este ano: “[...] O que deve contribuir para a recuperação de sua curva de produção a partir do terceiro quadrimestre de 2013 e será mais evidente em 2014, quando os novos sistemas produtivos devem alcançar seu pico de produção”.
Bittencourt acredita em uma recuperação um pouco mais lenta, o que talvez ocorra em um prazo de sete anos, ou mais, quando os resultados dos investimentos no pré-sal podem surtir maiores efeitos. “Uma coisa é certa: depois desse ciclo ruim, a Petrobras, assim como ocorre com qualquer empresa do sistema capitalista, deve passar por um momento de otimização. Até o fim da década, haverá uma recuperação grande, sem dúvida. O petróleo é muito cobiçado e a demanda é crescente, em um horizonte de dez anos eu não ficaria preocupado”, opina.
Oportunidade de compra?
A atual cotação da ação, na casa dos 18 reais, também levanta outra questão: O momento é propício para o investidor que ainda não investe em Petrobras comprar os papéis?
Celso Grisi,diretor presidente do Instituto Fractal de Análises de Mercado, não acredita que o preço mais baixo deva incentivar o investidor, uma vez que a ação não tem boas perspectivas no curto prazo e no médio prazo.
E mesmo se o investimento for feito no longo prazo, quando as expectativas são mais favoráveis, Grisi afirma que não investiria na ação. “Os resultados a longo prazo podem até ser bons, mas precisamos ver como ficará a política de combustível e a questão do intervencionismo estatal porque ainda há grandes limitações nesse sentido. Francamente, acho que mesmo se o objetivo for investir no longo prazo eu aguardaria mais um pouco. Há investimentos melhores na Bolsa, esse não é o momento da Petrobras”, defende.
Paulo Bittencourt já avalia que este pode ser um bom momento de compra, desde que o investidor entenda que mesmo desvalorizada, a ação tem todos os riscos já citados embutidos no seu preço. “Se eu fosse investir na Petrobras agora, eu entraria com um terço que eu poderia alocar. Se ao fazer um rebalanceamento da minha carteira sobrassem 60 mil reais, eu compraria cerca de 18 mil reais porque não se sabe exatamente quais são os desdobramentos da empresa mais para frente” afirma.
Seguindo essa estratégia, Bittencourt explica que o investidor deveria acompanhar o comportamento da empresa para aos poucos investir mais na ação caso ele perceba que os problemas estão se resolvendo, mesmo que ele pague um preço maior. “O investidor tem todo o tempo para isso porque os ciclos de melhora são ciclos demorados, enquanto as quedas são muito mais abruptas", diz.
Conforme ele defende, é preferível que o investidor lucre menos investindo aos poucos e pagando um preço mais caro pela ação, do que arriscar perder dinheiro investindo uma grande quantia no papel por considerar precipitadamente que seu preço está atrativo.