Cereja no bolo: COEs permitem ao investidor acessar investimentos sofisitcados sem risco de perda do dinheiro investido (ThinkStock/ene)
Da Redação
Publicado em 31 de março de 2016 às 10h53.
São Paulo - A combinação perfeita para qualquer investidor seria uma aplicação que permitisse obter altos retornos com baixo risco. Apesar de soar como algo utópico, os Certificados de Operações Estruturadas (COE) chegam perto disso.
O investimento pode ser entendido como um pacote que comporta diferentes aplicações, de renda fixa e variável, para alcançar um objetivo, como a proteção contra a alta do dólar ou da inflação, por exemplo.
A utopia se dá pelo fato de se tratar de um investimento que permite alcançar retornos mais agressivos, característicos da renda variável, mas com a segurança de que o valor investido não será perdido, traço mais comum à renda fixa.
Isso é possível porque os COEs podem ser oferecidos com valor nominal protegido, o que garante que o investidor não perderá o valor que foi aplicado.
A despeito da blindagem contra perdas, o COE também não garante que o investidor terá ganhos, como ocorreria em um investimento em um Certificado de Depósito Bancário (CDB) ou título público, por exemplo.
Por essa razão ele é mais indicado como um ingrediente adicional à sua carteira de investimentos.
“O COE pode ser a cereja do bolo do portfólio. Ao investir 10% dos recursos no COE, por exemplo, se a estratégia não for bem-sucedida, o investidor recebe o dinheiro de volta e só perde o custo de oportunidade. Mas, se der certo, o retorno pode ser bem interessante”, afirma Fábio Zenaro, gerente-executivo de produtos e negócios da Cetip.
O custo de oportunidade seria o “preço” que o investidor pagaria ao deixar de ganhar dinheiro com outras aplicações que gerariam retornos maiores no mesmo período.
Crescimento
Os COEs foram lançados em janeiro de 2014 e em um ano foram emitidos 6,2 bilhões de reais em operações estruturadas, sendo que o investidor pessoa física foi responsável por cerca de 93% dos COEs emitidos no mercado (em número de operações).
As informações fazem parte de um balanço sobre o primeiro ano de existência do COE (de 06/01/2014 a 06/01/2015), divulgado pela Cetip, central depositária, de negociação e liquidação de ativos e títulos, e responsável pelo registro dos COEs.
Apesar da movimentação bilionária de recursos em 2014, sem a permissão de oferta pública do COE - que viabilizaria emissões maiores e a comercialização por outros agentes, como corretoras - o investimento ainda engatinha na comparação com outros produtos.
As emissões de Letras de Crédito Imobiliárias (LCI) registradas na Cetip, por exemplo, somaram 159,6 bilhões de reais em 2014 e as Letras de Crédito Agrícola (LCA) totalizaram 98,2 bilhões de reais.
A expectativa, segundo Fábio Zenaro, é de que os COEs ganhem escala com a publicação de uma medida da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que permitirá a distribuição pública do COE, prevista para sair ainda neste semestre.
Rendimentos superam taxa DI
O balanço da Cetip mostrou que 91% dos COEs vencidos no seu primeiro ano de comercialização apresentaram rendimento positivo, registrando ganhos além do capital investido.
Além disso, 64% das emissões já vencidas ofereceram aos investidores um retorno financeiro anualizado igual ou superior à taxa DI, que serve como parâmetro para o rendimento das operações de renda fixa (considerando a taxa DI de 10,78%, de 06/01/14 a 05/01/15).
Confira os resultados no gráfico abaixo:
Divulgação/Cetip
Como é possível observar, apesar de o COE gerar retornos positivos na maior parte dos casos, nem sempre ele registra algum ganho.
Por essa razão, as operações estruturadas são mais indicadas para compor a parcela mais agressiva de uma carteira formada por vários investimentos - e dar um toque especial ao portfólio, tal como a cereja do bolo.
Caso o investidor tenha um perfil mais conservador, é importante que a carteira inclua principalmente investimentos de renda fixa, que garantam uma remuneração de pelo menos 100% do DI, o que é possível obter facilmente com outros tipos de investimento, como títulos públicos, CDBs, LCIS e LCAs.
Funcionamento
Cada COE segue uma estratégia própria e tem uma forma de remuneração diferente. Eles podem incluir tanto investimentos de renda fixa, como títulos públicos, quanto produtos menos conhecidos pelo pequeno investidor, como os derivativos, que permitem, por exemplo, ganhar com a desvalorização da bolsa.
Os produtos incluídos na operação variam de acordo com o objetivo do COE. Para acompanhar a alta do dólar e, mesmo assim, garantir que o investidor não terá perda, o COE pode incluir, por exemplo, um contrato futuro de dólar e um título público pré-fixado.
“O COE fica bem no meio do caminho entre uma operação de renda fixa e uma operação de renda variável. Na remuneração parece com a renda variável, já que o retorno é incerto e eles trabalham até com três cenários de remuneração, mas na estrutura parece renda fixa, já que o investidor aporta um determinado valor e compra uma quantidade de títulos, como ocorre com os CDBs”, afirma Fábio Zenaro.
Existem dois tipos de COE, o de valor nominal protegido, já mencionado, e o COE com valor nominal em risco, que prevê a possibilidade de perda até o limite do capital investido.
De acordo com o balanço da Cetip, 95,5% dos COEs emitidos no seu primeiro ano de existência foram contratados com valor nominal protegido.
Na prática, segundo Zenaro, um COE de valor protegido pode funcionar da seguinte forma: se o dólar hoje está a 3 reais, caso a cotação supere os 3,20 reais, o investidor recebe a variação da moeda e ganha sua valorização, mas, se ficar abaixo de 3 reais, ele não terá nenhum rendimento, mas recebe de volta o valor aplicado inicialmente, sem prejuízos.
Ou então, no caso do COE com valor nominal em risco, por exemplo, a estrutura pode permitir que o cliente perca até 10% do capital investido, mas receba 85% do Ibovespa.
“Em um COE com capital protegido, o investidor pode ter a garantia de que não perderá o valor investido, mas ele pode ter um ganho de apenas 60% se o Ibovespa subir, por exemplo. Já em um COE que permite perdas, em vez de ganhar 60% da alta do Ibovespa, o investidor pode ganhar 85%, mas se a bolsa cair ele pode ter prejuízo”, afirma o gerente-executivo da Cetip.
Vantagens
De acordo com Fábio Zenaro, a principal vantagem do COE é permitir ao investidor o acesso a um produto com estratégias sofisticadas de aplicação, mas que conta com a praticidade de vir montado como um único instrumento.
“Ele dá ao investidor pessoa física a possibilidade de acessar o mercado de câmbio ou aplicar em ações estrangeiras, como na Apple, ou no índice S&P 500, que seriam aplicações mais complicadas para o investidor acessar por conta própria”, diz o gerente-executivo da Cetip
E a segunda maior vantagem, segundo ele, seria a possibilidade de definição do risco ao qual o investidor se sujeitará. “Os bancos fazem o processo de 'suitability' [análise da adequação do produto ao perfil do cliente] para ver qual COE combina mais com o perfil de risco do cliente”, afirma Zenaro.
Ao unir diferentes investimentos em um produto só, o COE também conta com a vantagem de ter uma tributação única, feita pela tabela regressiva do Imposto de Renda, na qual o imposto diminui conforme aumenta o prazo de investimento.
Outro destaque do investimento é que não é cobrada nenhuma taxa. Assim como nos CDBs, o banco ganha com as operações ao captar os recursos dos clientes e oferecer uma remuneração menor do que aquela cobrada nos seus empréstimos. Em outras palavras, o banco ganha com o "spread", que é a diferença entre os juros recebidos nos empréstimos e os juros pagos nos investimentos.
Ainda que os COEs sejam estruturados com diferentes tipos de investimentos e sigam estratégias diversas, os bancos não permitem ao investidor solicitar a montagem de um COE de acordo com seus objetivos, segundo Zenaro. Eles oferecem um menu com as opções de estratégias já montadas.
Perfil do investidor
De acordo com a Cetip, no dia 06/01/15, quando o investimento completou um ano no mercado, o tíquete médio dos COEs disponíveis no mercado adquiridos por pessoas físicas estava em 93 mil reais, próximo ao tíquete médio geral do COE, de cerca de 112 mil.
Os COEs normalmente são oferecidos pelos bancos aos clientes de alta renda, como dos segmentos “private”, mas não são restritos aos investidores qualificados, que são aqueles possuem ao menos 300 mil reais só em aplicações financeiras.
Apesar do tíquete médio ser próximo de 100 mil reais, o gerente-executivo da Cetip afirma que alguns bancos já aceitam investimentos em COEs a partir de 15 mil reais.