Minhas Finanças

Bancos lançam fundos de previdência privada mais rentáveis e baratos

Objetivo é atender demanda incentivada por juros baixos e expectativa de aprovação da reforma da Previdência, que vai exigir uma poupança maior

Vinicius Cruz, diretor financeiro do Grupo Bradesco Seguros: gestora lança produtos para atender quem quer sair da renda fixa (Bradesco Seguros/Divulgação)

Vinicius Cruz, diretor financeiro do Grupo Bradesco Seguros: gestora lança produtos para atender quem quer sair da renda fixa (Bradesco Seguros/Divulgação)

Marília Almeida

Marília Almeida

Publicado em 18 de julho de 2019 às 06h00.

Última atualização em 22 de julho de 2019 às 15h21.

São Paulo - O cenário formado pela taxa de juros básica na mínima histórica e uma expectativa cada vez maior de que a reforma da Previdência seja aprovada aumenta a procura por aplicações em previdência privada.

Isso porque leva investidores que já tenham a proteção a realizarem a portabilidade dos recursos para produtos mais rentáveis, enquanto obriga quem não tem a aplicação a começar a pensar nessa alternativa em um cenário no qual irá se aposentar mais tarde e, provavelmente, sem recursos suficientes para manter a sua atual qualidade de vida caso dependa exclusivamente da aposentadoria pública.

Um estudo da Economatica mostra a surpreendente evolução da previdência complementar nos últimos 12 anos. Desde 2007, o valor investido em fundos de previdência privada passou de 94 bilhões de reais para 852 bilhões de reais. Antes oferecidos por 45 gestoras, as cotas da proteção atualmente são comercializadas por 124 instituições financeiras. O segmento de previdência privada somava 392 fundos. Hoje, são 1.786.

Diante de uma maior concorrência, menor atratividade de fundos de renda fixa e amargar a perda de 220 mil investidores no ano passado, as maiores gestoras de fundos de previdência privada do país buscam atualizar portfólios ao novo cenário econômico lançando produtos mais baratos ou mais rentáveis, mas com uma volatilidade que não assuste tanto os mais conservadores.

É o caso da Brasilprev. Braço de previdência da BB Seguros, cuja gestora é atualmente a maior no segmento de fundos de previdência do país.

De acordo com o CEO Walter Malieni, a aplicação sempre foi majoritariamente feita pela classe média a alta no país. "Agora, a classe de renda mais baixa começa a se interessar também. Os empregos estão muito mais intermitentes e exigem que novos entrantes comecem a ter uma consciência previdenciária maior".

Para atender esse aplicador que tem renda menor, a seguradora criou um fundo que permite contribuições mensais a partir de 100 reais, o "Fácil". O fundo tem como foco clientes com renda entre 2 mil reais e 8 mil reais e objetivo de usar os recursos no longo prazo – após dez ou mais anos de acumulação.

A sugestão inicial destina toda a contribuição a um fundo de renda fixa com perfil moderado. Composto por títulos públicos e privados de prazo mais longo, ele tem uma volatilidade média visando retornos mais significativos no longo prazo e em um ambientr de juros baixos.

O investidor pode mudar a estratégia a qualquer tempo e sem custos para os demais fundos disponíveis, como outras estratégias de renda fixa e multimercados. O produto, lançado em agosto, já reúne mais de 40 mil investidores.

Um indicador que registra o aumento da demanda pela previdência privada são simulações feitas dentro do app da Brasilprev. As consultas registram uma evolução de quase quatro vezes, de 118 mil nos cinco primeiros meses do ano passado para 550 mil no mesmo período de 2019. O número de contratações de planos neste mesmo período cresceu 40%, passando de 5 mil para 7 mil.

A Brasilprev é seguida na liderança de alocação em fundos de previdência pela Bradesco Seguros e a sua gestora BRAM, que viu o patrimônio alocado nesses fundos crescer em 5 milhões de reais apenas nos últimos meses, atingindo 206,4 bilhões neste ano até junho.

O diretor financeiro da Bradesco Seguros, Vinícius Cruz, aponta que a seguradora também está calibrando a oferta de fundos.

A principal diferença que o executivo sente nos últimos meses é uma migração da renda fixa para a classe de multimercados, que navegam por diversas classes de ativos, respondem mais rapidamente a mudanças na dinâmica da economia e exigem mais da gestão. "A maior parte da alocação da nossa carteira ainda é em renda fixa, mas no atual nível de juros fica difícil manter a competitividade da categoria".

Esse movimento tem um claro motivo. Segundo o estudo da Economatica, em cinco anos três categorias de fundos de previdência perdem para o CDI: Renda fixa, Balanceados 15/30 e Balanceados até 15. Por outro lado, quatro ultrapassam o indicador utilizado como referência para investimentos: Ações, Data-alvo, Multimercados e Balanceados > 30.

Para chamar a atenção de clientes que estão em busca de mais retorno, a Bradesco Seguros lançou, em parceria com a sua gestora, a BRAM, uma família de fundos de previdência privada com estratégia quantitativa, chamada "Alocação". A principal atratividade da estratégia é seu custo menor, já que sua gestão é definida por robôs e algoritmos, e não por uma gestão ativa de uma equipe de pessoas.

Os novos fundos atendem tanto o cliente com um perfil mais conservador até quem já consegue experimentar um pouco mais, já que podem ter uma maior diversidade de ativos e um equilíbrio maior de volatilidade do que fundos macros, por exemplo, diz Cruz. "Foi um jeito que encontramos para que o cliente faça uma transição mais tranquila de um fundo de renda fixa para um fundo Macro, que dependendo do tempo de investimento e apetite ao risco não traz conforto ao aplicador. Mesmo investidores mais sofisticados preferem ter menos volatilidade quando se trata de fundos de Previdência".

A taxa de administração cobrada na nova família de fundos fica em torno de 1% ao ano, enquanto cotas de fundos Macro comercializadas pela gestora têm custo que varia de 1,5% a 2% ao ano. A aplicação mínima mensal parte de 100 reais.

Cruz ressalta que os fundos de renda fixa não devem ser descartados por quem começa a aplicar no segmento. "Esses fundos recentemente foram classificados como de uma gestão preguiçosa, mas tem muitos fundos de renda fixa atrelados a índices de inflação com ganhos relevantes no ano, que podem render mais do que fundos multimercados". A escolha, diz o executivo, vai depender do objetivo e tolerância a risco do cliente e costuma fazer mais sentido para quem aplica em prazos menores".

Entre os novos fundos de previdência privada disponibilizados, o Santander destaca o "PB Ativo FIC Renda Fixa". O fundo cobra uma taxa de administração de apenas 0,6% e teve um retorno de 140% do CDI entre janeiro e julho (até o dia 12) deste ano, com captação líquida de 254 milhões de reais.

Como funciona

Nos planos de previdência complementar é possível escolher o valor da contribuição e a periodicidade dos pagamentos. Além disso, o valor investido pode ser resgatado pela pessoa se ela desistir do produto com qualquer tempo de contribuição.

Existem basicamente dois tipos: o PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre) e o VGBL (Vida Gerador de Benefícios Livres). Em ambos o consumidor paga uma quantia mensal ou faz depósitos esporádicos para gerar um montante que pode ser recebido de uma só vez ou convertido em parcelas mensais.

A principal diferença entre PGBL e VBGL está na forma de incidência do Imposto de Renda: o PGBL oferece a possibilidade de deduzir gastos relativos ao pagamento, respeitando-se o teto de 12% do salário bruto do contribuinte. O benefício fiscal só poderá acontecer se o contribuinte fizer a declaração do imposto pelo formulário completo, que não oferece desconto automático nenhum. No PGBL, a incidência do imposto de renda é sobre todo o montante acumulado, enquanto no VGBL é apenas sobre a rentabilidade do que foi aplicado.

O primeiro passo para iniciar um investimento em um plano de previdência privada é preencher um cadastro exigido por algumas instituições. Alguns bancos exigem que o cliente seja correntista do banco que oferece o produto e/ou limitam as idades mínima e máxima dos participantes.

Com relação à carência necessária para fazer o primeiro resgate e saques posteriores, a maior parte dos planos analisados em uma pesquisa da associação de consumidores Proteste, que inclui produtos para diferentes perfis de investidores comercializados por 16 gestoras, exige uma carência mínima de 60 dias. No Banco do Brasil a carência inicial é de seis meses, ao passo que no Bradesco ela chega a um ano.

No momento da contratação do plano é necessário escolher a forma de recebimento do benefício . Os planos padrões aprovados pela Susep (Superintendência de Seguros Privados) atualmente são Renda Mensal Vitalícia, Renda Mensal Temporária, Renda Mensal Vitalícia com Prazo Mínimo Garantido, Renda Mensal Vitalícia Reversível ao Beneficiário Indicado, Renda Mensal Vitalícia Reversível ao Cônjuge com Continuidade aos Menores, Pagamento Único e Renda Mensal Por Prazo Certo.

É preciso ficar atento às perspectivas de oscilação da taxa de juros e inflação nos próximos anos, pois os fundos de previdência são diretamente afetados por estes indicadores. Tanto o PGBL quanto o VGBL não garantem uma remuneração fixa, dependendo estritamente dos rendimentos do fundo. Portanto, para fazer a melhor escolha é preciso avaliar também as taxas cobradas pelos fundos de previdência, pois elas definirão a rentabilidade líquida do dinheiro investido.

Nos fundos de previdência privada existem três tipos de taxas: administração, carregamento e imposto de renda. Dentre as instituições participantes da amostra da Proteste, as taxas de administração variaram de 1% a 2% ao ano. A taxa de carregamento é cobrada no momento do aporte inicial ou seguintes no fundo (antecipada) ou nos casos resgate (postecipada). A cobrança da taxa de carregamento postecipada varia de acordo com o período que foi investido e o saldo a ser resgatado. Ou seja, quanto maiores o prazo e o valor, menor a taxa cobrada. As taxas do levantamento da Proteste variaram de 0 a 10%, sendo a maior cobrada para tempo de permanência de até 12 meses

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