Minhas Finanças

As ações que ganham com a eleição de Bolsonaro ou Haddad

Corretora Spinelli aponta os papéis que podem se beneficiar com a vitória de cada um dos candidatos

Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL): com o primeiro, ganha empresas exporadoras. O segundo, empresas de armas, agronegócio e estatais (Montagem/Exame)

Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL): com o primeiro, ganha empresas exporadoras. O segundo, empresas de armas, agronegócio e estatais (Montagem/Exame)

Marília Almeida

Marília Almeida

Publicado em 20 de setembro de 2018 às 14h27.

São Paulo - A corretora Spinelli fez uma lista das ações que podem se beneficiar de uma vitória do candidato do PSL, Jair Bolsonaro, na disputa pela Presidência da República. Segundo a equipe de analistas fundamentalistas da corretora, as mais beneficiadas seriam a fabricante de armas Forjas Taurus (FGTA4), as empresas do agronegócio SLC Agrícola (SLCE3) e Brasil Agro (AGRO3), além das estatais Banco do Brasil (BBAS3) e Eletrobras (ELET6).

No caso da Forjas Taurus, a empresa seria beneficiada pela política de reforço no investimento em segurança pública, que deve resultar na contratação de mais policiais e, com isso, na compra de mais armamento, expica Glauco Legat, analista-chefe da Spinelli. “Seria preciso comprar pelo menos mais duas armas para cada novo policial”, diz.

Outro efeito benéfico para a empresa seria a possível mudança nas leis que regulamentam o porte de armas, permitindo à população ter armas em casa ou andar armada. “Acho mais difícil essa liberação das armas, mas seria um diferencial para a companhia”, explica Legat. “O contexto da recomendação seria mais pelo aumento do efetivo das polícias e pela renovação das armas.

Legat admite que a Forjas Taurus enfrenta problemas, como denúncias de defeitos em armas vendidas para as polícias de alguns estados e uma dívida elevada. A empresa sofre ainda forte concorrência externa. “Mas considerando que o Bolsonaro é um pouco nacionalista, ele poderia dar um empurrão para facilitar um pouco a fabricante local de armas”, diz.

Estatais

No caso das estatais, Legat diz que, olhando o plano de governo de Bolsonaro, há um viés liberal grande. “A úncia coisa é que não sabemos se ele vai conseguir levar as propostas do provável ministro Paulo Guedes, de vender todas as estatais, adiante, se vai ter governabilidade para isso”, afirma. “Vender uma empresa já é difícil, imagine então uma estatal, que tem pressões do Congresso, do Tribunal de Contas, dos funcionários, mas ele deve pelo menos colocar isso em debate”, explica. “Pelo menos vai tentar discutir e colocar como possibilidade.”

Então, por que não incluir Petrobras na lista? Segundo Legat, alguns comentários de Bolsonaro mostram que ele não segue a mesma toada para a estatal do petróleo. “Quando ele fala em Petrobras, fala em ajustes e, se não der a gente vende”, lembra o analista. Durante uma sabatina, quando foi questionado sobre a política de preços da Petrobras, Bolsonaro disse que a estatal “não precisa ganhar tudo isso”.

Por isso, Legat acha mais factível um eventual governo Bolsonaro tentar vender outras empresas menos complexas, como a Eletrobrás, que já está com seu processo de desestatização em andamento. “E seria até interessante para o governo continuar como investidor na Eletrobrás e ter um gestor privado”, afirma.

Já o Banco do Brasil também seria uma privatização difícil, pois o banco tem um papel importante na alocação de recursos e nas políticas do governo. “Mas vamos ver até onde ele vai levar a desestatização.”

Agronegócio

No caso das duas empresas do agronegócio, a escolha foi porque, para Legat, a visão liberal de Paulo Guedes deverá levar o governo a reduzir incentivos e subsídios para o setor industrial e abrir mais a economia, que pode criar maiores dificuldades para o setor. “Assim, buscamos segmentos em que o país tem mais vantagens comparativas em termos internacionais e o agronegócio é o destaque, crescendo acima do PIB”, justifica. O problema é que o setor não tem grande representatividade na bolsa, com poucas empresas negociadas.

Legat faz questão de ressaltar, porém, que as indicações são conjecturas, pois é difícil enxergar o que será na realidade um governo Bolsonaro . “Há a questão da governabilidade, o fato de ele ter temperamento forte, por isso vemos um cenário de risco, com a possibilidade de queda do Índice Bovespa se ele for eleito”, diz.

Cenário hoje aponta para Bolsonaro e Haddad

Levando em conta as últimas três pesquisas divulgadas desde sexta-feira, do Datafolha, do BTG Pactual e da CNT/MDA, o cenário mais provável parece ser um segundo turno entre Bolsonaro e Fernando Haddad, do PT. E, pelas pesquisas, Bolsonaro se beneficiou do atentado a faca, que o colocou em destaque na imprensa e promoveu uma comoção de aumentou sua parcela de eleitores e reduziu sua rejeição. “Assim, estamos vendo o candidato do PSL mais competitivo no segundo turno, revertendo aquele cenário em que ele perderia de qualquer um”, afirma.

Carteira Haddad

Mas, como seguro morreu de velho, Legat fez também uma carteira de ações para o caso do candidato do PT vencer a eleição. Para um eventual governo Haddad, o analista vê maior potencial nas empresas exportadoras, que ganhariam com uma disparada do dólar. “Com a desconfiança em um novo governo petista, e uma proposta de ajuste fiscal controversa, com muito gradualismo e sem reformas e medidas imediatas e fortes, o dólar subiria e o foco seriam as ações de exportadoras”, diz.

Como as exportadoras são em geral ligadas ao setor de commodities, seus preços não dependeriam do cenário interno. “Vale, por exemplo, teria a proteção do dólar e o preço de seu produto depende da China, não do mercado local”, explica. Outras opções de uma carteira Haddad, além de Vale (VALE3), ou mesmo Ciro Gomes, seriam Suzano Papel (SUSB3), Weg (WEGE3), Braskem (BRKM5) e, para um segundo momento, uma construtora ligada à baixa renda, como Direcional (DIRR3) ou MRV (MRVE3). “Em um contexto de vitória de Haddad ou Ciro, haveria um foco maior em políticas sociais, e uma retomada no programa Minha Casa Minha Vida, que teve seu orçamento reduzido nos últimos anos”, explica.

O Ibovespa de cada candidato

O analista-chefe da Spinelli não acredita nas projeções de que a eleição de Haddad ou Ciro levariam o Índice Bovespa, hoje em 76 mil pontos, para 40 mil pontos. “No primeiro momento, o impacto seria muito negativo, mas trabalhamos com uma queda menor, para 66 mil pontos”, explica.

Além de Haddad, Legat fez uma estimativa para o Índice Bovespa em caso de vitória de cada candidato. O preferido do mercado, João Amoeda, do Novo, levaria o Ibovespa para 137 mil pontos. Já Geraldo Alckmin, do PSDB, poderia fazer o índice bater nos 133 mil pontos. Álvaro Dias, do Podemos, teria um Ibovespa na casa dos 100 mil pontos, e Marina Silva, da Rede, para 89 mil pontos. Bolsonaro, apesar da pregação liberal, faria o Ibovepa recuar em um primeiro momento para 70 mil pontos, perto dos 69 mil no caso da eleição de Ciro Gomes.

Mudanças de discurso após a vitória

Legat observa que os cenários negativos de curtíssimo prazo no caso de eleição de um candidato de esquerda podem ser revertidos de acordo com as sinalizações dadas pelos eleitos. “Se tivermos um PT parecido com o de 2002, que indique ministros da Fazenda e Planejamento que defendam a responsabilidade fiscal, o mercado pode dar o benefício da dúvida”, explica. “É provável que, com a disputa ganha, o PT ou Ciro busquem reverter as expectativas negativas e não coloquem em prática todo o discurso para o eleitorado”, diz.

Alckmin, espelho de Haddad

No caso oposto, de vitoria do candidato Geraldo Alckmin, o foco para as ações seria parecido com o de Bolsonaro, com empresas públicas beneficiadas, apesar de o candidato não ser tão radical nas privatizações. “Mas um governo Alckmin focaria na governança e na eficiência das estatais, o que se refletiria em melhora na gestão das companhias públicas e em benefício para os investidores”, diz. O mercado tenderia a apostar mais também na retomada do consumo e em empresas de varejo, e no setor de construção civil, que se beneficiaria da queda dos juros proporcionada pela continuidade do ajuste fiscal, assim como empresas alavancadas, com dívidas altas. Já as empresas exportadoras sofreriam um pouco com a queda do dólar. “Seria um espelho das indicações para um governo Haddad”, diz.

Fatores para ser otimista

Legat justifica uma visão mais otimista para o próximo governo, seja ele quem for, pois ele vai ser legitimado pelo voto popular e, assim, poderá levar adiante propostas de ajuste. “Haverá um período curto, mas com espaço para trabalhar de maneira mais tranquila, o que o presidente Michel Temer teve no início do governo, mas perdeu rapidamente pelas denúncias de corrupção”, lembra. O novo governo teria condições de tocar uma agenda positiva e tentar aprovar reformas. “E a economia está muito fraca e qualquer coisa que melhore, mesmo que seja uma melhora marginal, já fará o país voltar a crescer”, diz. “Se não fizerem muita besteira, o cenário não será tão negativo.”

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