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Ações com mais liquidez são mais arriscadas em momentos de crise

Das 12 maiores quedas do Ibovespa desde o agravamento da crise, cinco estão no grupo dos dez papéis mais líquidos da bolsa

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

Aplicar em papéis com elevada liquidez, um dos princípios básicos do mercado de capitais, tornou-se uma operação mais arriscada com a recente turbulência que sacode o mundo. Primeira porta de saída dos estrangeiros e dos investidores institucionais, os papéis mais negociados na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) estão, também, entre os mais sensíveis aos tombos do mercado. De acordo com levantamento da consultoria Economática, das 12 ações mais desvalorizadas desde que a bolsa atingiu seu pico (meados de maio), cinco estão entre as dez mais negociadas da bolsa (veja tabela abaixo ).

Para os analistas, isso acontece porque as ações mais líquidas são as preferidas pelos investidores em momentos de turbulência por um motivo óbvio: se eles precisarem desfazer suas posições, têm mais condições de vender os papéis rapidamente e obter caixa. "As ações líquidas são a janela com que os investidores contam para deixar a bolsa em caso de necessidade, por isso, em momentos de estresse, são as primeiras que caem", afirma Rossano Oltramari, analista da corretora XP Investimentos.

Quando o cotista de um fundo de ações ou de um fundo multimercados pede o resgate de seu investimento, o gestor, para reembolsá-lo, começa vendendo as ações mais líquidas. Em épocas de pânico, como a atual, os pedidos de resgate se acumulam e as ações mais líquidas começam a ser sacrificadas. Algumas vezes, o gestor do fundo acaba vendendo os papéis no prejuízo, apenas para fazer dinheiro. E, segundo a velha lei da oferta e da procura, se há muitos vendedores, o preço cai.

Líquidas e arriscadas   
Oscilação (%)*EmpresaClassePeso no Ibovespa (%)Posição no Ibovespa
-66,6RossiON0,58248º
-60,1BM&F BovespaON3,944
-59,4UsiminasON0,56549º
-58,8SadiaPN1,0423º
-56,9UsiminasPNA3,036
-56,5GolPN0,98926º
-54,7AracruzPNB0,75335º
-54,6CSNON3,265
-54,3BradesparPN1,33917º
-52,7ValeON3,271
-51,4GerdauPN2,866
-50,7CosanON0,73337º
-48,8CespPNB1,35416º
-48,6Gerdau MetPN0,86931º
-48,3ValePNA12,639
-47,7JBSON0,58347º
-46,7VCPPN0,68443º
-46,5Lojas RennerON0,95728º
-45,6KlabinPN0,39857º
-43,6SabespON0,43554º
-43,0Lojas Americanas PN1,2718º
-42,4ALLUNT N21,45915º
-40,6B2W GlobalON124º
-37,7NetPN1,2520º
-37,4Ibovespa na**na**
*de 20 de maio a 29 de setembro
** não aplicável
Fonte: Economática

No caso dos papéis mais negociados, isso acaba amplificando o potencial de perdas. É o caso das preferenciais da Vale (VALE5, sem direito a voto). De meados de maio até a fatídica segunda-feira, 29 de setembro, quando os deputados americanos rejeitaram a primeira versão do socorro aos bancos, esses papéis acumularam uma perda de 48,3%, ante o recuo de 37,4% do Ibovespa, principal indicador da bolsa paulista, no mesmo período. As ações ordinárias da BM&F Bovespa (BVMF3, com direito a voto) são outro exemplo. Incorporado recentemente ao Ibovespa como terceiro mais negociado do pregão, o papel perdeu 60,1% de seu valor no período comparado.

É claro que os fundamentos do mercado também pesam no preço das ações. No caso da Vale, por exemplo, a queda das commodities metálicas também pressiona os papéis. E, quanto à BM&F Bovespa, a própria queda da bolsa é interpretada pelos investidores como um mau sinal para quem, afinal de contas, administra o ambiente de negociações brasileiro. Mas o fato de estarem entre os títulos mais transacionados no pregão também pesa. "Muitas vezes, esses papéis acabam sofrendo mais que o Ibovespa", afirma Pedro Galdi, analista de investimentos da corretora SLW.

Blue chips

Tradicionalmente, o mercado associa liquidez com as blue chips - as grandes e melhores companhias do pregão. A relação não deixa de ser correta: as ações são as mais procuradas porque estão entre as de maior retorno. E a própria demanda influencia a sua cotação. Um exemplo de que o potencial de comercialização da ação é importante, mas não é o único fator que determina o seu preço, é a Petrobras. A estatal é a maior blue chip do país. Em conjunto, suas ações ordinárias e preferenciais respondem por 18% do Ibovespa, índice composto por 66 papéis.

No ano passado, enquanto o Ibovespa registrava sucessivas quedas, por conta do estouro da crise imobiliária e dos primeiros sinais da crise financeira que hoje assola o mundo, os papéis da estatal seguiam em alta, impulsionados pelo salto do petróleo no mercado mundial e pela descoberta de novos campos de óleo. O mesmo ocorreu com a Vale. Diante da escalada das commodities metálicas, a mineradora brasileira assistiu à valorização de seus papéis.

Naquele momento, a Petrobras e a Vale viveram uma feliz coincidência: uma situação favorável em seus mercados e a boa liquidez de seus papéis. Por isso, os investidores estrangeiros e nacionais viram nas empresas um meio de se proteger contra a crescente incerteza da economia mundial.

Mas, desde o momento em que as commodities começaram a cair e o cenário econômico piorou, o fato de estarem entre as mais líquidas está pesando contra. "Em horas de nervosismo, esses são os papéis mais visados pelos investidores", afirma Galdi, da SLW.

Estratégia

Hoje, comprar ações muito líquidas significa sentar no primeiro carrinho da montanha-russa em que se transformou o mercado. Esses são os primeiros papéis a cair, em caso de pânico. E também são os primeiros a se valorizar, quando os investidores recobram o fôlego e voltam a aplicar na bolsa. Mas é possível atenuar o impacto da liquidez sobre a carteira.

Para Eduardo Collor, analista técnico da corretora Ativa, os investidores ficam muito focados nas blue chips, mas é preciso ampliar a idéia de liquidez. "Ações que geram, historicamente, mais de 100 negócios por dia já são uma boa opção de investimento", afirma. Assim, ao ampliar o conjunto de papéis para além das que giram milhares de transações por dia, o investidor pode encontrar opções com bom potencial de valorização e também facilidade de venda, segundo Collor.

Por último, o mantra de todos os analistas, neste momento, é ter em mente que a bolsa é um jogo de longo prazo. "O potencial de valorização dos papéis é alto, e os preços estão atraentes para quem tiver paciência de esperar um ou dois anos", afirma Galdi, da SLW. Como em toda montanha-russa, às vezes, o melhor é fechar os olhos e agüentar os solavancos até que a viagem termine. Sobretudo para quem está no primeiro carrinho, com as ações mais líquidas.

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