7 formas de tentar lucrar com a alta do petróleo
Conflito no Egito e recuperação mais acentuada dos EUA e da Europa podem tornar o petróleo uma boa opção de investimento neste ano
Da Redação
Publicado em 26 de outubro de 2012 às 18h23.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 16h36.
Até o mês passado, quase ninguém previa que o petróleo voltasse aos 100 dólares. Menos gente ainda esperava que o Egito virasse palco de violentas revoltas populares (foto). O mundo já sabe que o ditador Hosni Mubarak ficará no poder no máximo até setembro. O que gera intranquilidade no mercado financeiro é a possibilidade de que ele seja substituído - seja por meio de eleição, acordo ou de golpe - por algum líder fundamentalista islâmico ideologicamente mais alinhado com o Irã. Hoje, o Egito mantém uma relação com os EUA e com Israel bem melhor que a dos vizinhos. A colaboração com Israel se dá por meio do fechamento das fronteiras com a faixa de Gaza - um território palestino - e com o fornecimento de 40% do gás consumido no país vizinho. O Egito também controla o canal de Suez, importante via de transporte do petróleo produzido no Oriente Médio para a Europa. Enquanto o processo de sucessão não é definido, há diversas formas de tentar lucrar com os aumentos do preço do petróleo. A negociação de contratos futuros do barril está concentrada em bolsas dos EUA e Inglaterra. No Brasil, a opção mais óbvia para posicionamento seriam as ações da Petrobras, mas nas próximas páginas EXAME.com apresenta outras possibilidades.
Mais de 13 anos após o fim do monopólio da Petrobras, o setor de exploração de petróleo finalmente entrou em uma fase de grandes investimentos privados. Além da estatal, três outras empresas já possuem ações listadas na BM&FBovespa: OGX, HRT Participações e Queiroz Galvão Exploração e Produção (QGEP). Osmar Camilo, analista da corretora Socopa, acredita que as ações do setor de petróleo são negociadas com múltiplos atrativos em relação às reservas estimadas. Ele recomenda a compra das ações da OGX e da Petrobras porque não vê uma solução fácil para a crise no Oriente Médio e também porque acredita que as economias dos EUA e da Europa devem se recuperar no médio prazo. A Petrobras ainda é a empresa do setor mais negociada na bolsa e desperta interesse de investidores de todo o mundo. Após a capitalização bilionária, a estatal parece pronta para crescer por meio um ambicioso plano de investimentos de 224 bilhões de dólares que pode torná-la a maior empresa do mundo. Companhia de petróleo de Eike Batista (foto), a OGX se transformou numa das grandes vedetes da bolsa nos últimos anos. No curto prazo, entretanto, a empresa não passa por um bom momento. Os papéis chegaram a cair 30% nas últimas semanas, a partir do momento que o mercado percebeu que a venda de parte dos blocos da bacia de Campos atrasaria. A descoberta de poços secos na bacia de Santos adicionou incertezas ao papel, que, no entanto, agora está com um preço considerado atrativo por analistas. A terceira empresa de petróleo da bolsa é a HRT Participações, cujas principais reservas encontram-se no mar da Namíbia e na Amazônia. A companhia tem se apresentado aos investidores como uma "nova OGX". Até agora, a estratégia deu certo: suas ações subiram mais de 40% desde o IPO em outubro. Para analistas, a empresa terá de provar que suas reservas são realmente tão grandes quanto estimadas e que é possível retirar o petróleo desses blocos a um custo interessante. Outra novata do setor é a QGEP, que possui os diretos de exploração de oito blocos na costa brasileira e estreou nesta quarta-feira na BM&FBovespa. A empresa teve que reduzir o tamanho da oferta de ações em seu IPO e aceitou vender os papéis por 19 reais cada - menos que o intervalo sugerido entre 23 e 29 reais. No primeiro dia de negociações, as ações caíram ainda mais.
O setor de óleo e gás deve passar por um boom nos próximos anos. Somente a Petrobras planeja investir 224 bilhões de dólares até 2014. "Como o governo estabeleceu incentivos para que a estatal contrate bens e serviços nacionais, toda a cadeia de fornecedores deve ser beneficiada", afirma Luis Fernando Pessôa, da Loca Invest, empresa que planeja estruturar fundos de investimento no setor. Hoje há três grandes fabricantes de equipamentos para a indústria do petróleo com ações em bolsa: Lupatech (foto), Confab e Inepar. Segundo a reportagem de capa da revista EXAME que está nas bancas, ao menos outras três empresas planejam fazer o IPO nos próximos meses: a multinacional norueguesa de perfuração de poços de petróleo Seadrill, a empresa de manutenção de refinarias Enesa e a transportadora de combustíveis Petroserv. A política do governo para incentivo à cadeia de óleo e gás inclui muitas outras medidas além do percentual mínimo de conteúdo nacional nos investimentos da Petrobras. Empresas que valorizam bens e serviços produzidos no Brasil têm mais chances de vencer leilões da ANP. O BNDES está disposto a financiar a expansão de empresas do setor. O governo incentiva a qualificação de profissionais para forma mão de obra para a indústria. Antes de investir em uma empresa dessa cadeia produtiva, entretanto, é importante verificar se ela possui contratos de longo prazo e está na lista de fornecedores preferenciais da Petrobras.
Entre os grandes bancos brasileiros, o Banco do Brasil foi o mais criativo na montagem de um fundo ligado à indústria do petróleo. Lançado em 2009, o BB Multimercado Capital Protegido Petróleo tem como referência o índice WTI de petróleo negociado nos EUA. A grande vantagem de investir diretamente na commodity ao invés de comprar ações de uma empresa de petróleo é não ficar exposto aos riscos de governança de determinada companhia. Em 2010, por exemplo, as ações da Petrobras andaram na contramão do barril e tiveram forte queda por causa da capitalização. "Esse fundo é uma alternativa interessante de diversificação para investidores brasileiros", diz Paulo Dutra, assessor sênior da BB DTVM. O fundo possui uma espécie de "amortecedor" que faz com que os quotistas não recebam todo o resultado obtido pelo índice WTI. Por esse motivo, apresentou um ganho de apenas 3,64% nos últimos 15 meses. Por outro lado, o investidor não precisa se preocupar com eventuais quedas do petróleo porque, nesse caso, todo o capital investido será devolvido após os dois anos de duração do fundo. O BB Multimercado Capital Protegido Petróleo captou 130 milhões de reais antes de seu lançamento somente junto a investidores qualificados (que possuem mais de 300.000 reais em aplicações financeiras). O produto não está aberto a novas aplicações. Segundo Paulo Dutra, a BB DTVM ainda analisa se lança um novo fundo com as mesmas características após o encerramento do primeiro em outubro.
Desde o final do ano passado, investidores brasileiros também podem comprar papéis da ExxonMobil sem enviar dinheiro para fora do país. A empresa americana é uma das 20 companhias incluídas no programa de BDRs não-patrocinados da BM&FBovespa. Os BDRs são certificados com lastro em ações negociadas no exterior e seguem a oscilação dos papéis lá fora. O investidor brasileiro ganha se a ação real da Exxon subir na bolsa americana, e vice-versa. A lista de 20 empresas estrangeiras com BDRs não-patrocinados inclui outros nomes como a Apple e o Google, mas nenhuma outra é do setor petrolífero. Em breve, o Itaú Unibanco trará mais 10 BDRs não-patrocinados para a BM&FBovespa – a lista ainda não foi divulgada. Hoje, o produto só pode ser negociado no mercado de balcão organizado por instituições financeiras, fundos de investimento e administradores de carteira. Em janeiro, entretanto, a CVM colocou em consulta pública uma proposta para permitir que fundos de pensão e pessoas físicas com aplicações financeiras superiores a 1 milhão de reais possam negociar os BDRs. A decisão final deve sair nos próximos meses.
Cerca de 5.000 empresas fazem parte da cadeia de fornecedores de bens e serviços para a indústria de óleo e gás. A imensa maioria dessas empresas não têm porte suficiente para fazer um IPO na BM&FBovespa. No entanto, boa parte delas possui contratos de longo prazo com a Petrobras - a foto dos mergulhadores ao lado é de uma delas, a Acergy Brasil. O dinheiro que será recebido da estatal no futuro por essas empresas pode se transformar em um excelente ponto de partida para a constituição de FIDCs (Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios). Nesses fundos, o investidor compra o direito de receber no futuro um crédito que pertence a determinada empresa em troca de uma remuneração pelo adiantamento do dinheiro. "Aplicar em créditos que serão recebidos da Petrobras pode ser um belo negócio porque o risco de inadimplência é baixíssimo", diz Luis Fernando Pessôa, sócio da Local Invest, empresa que estuda a estruturação de um FIDC desse tipo. O problema é que essa classe de fundos costuma ser oferecida primeiro a grandes investidores antes de chegar a pessoas físicas.
O Santander e a gestora de recursos Mare Investimentos vão lançar dois fundos de private equity para investir 2 bilhões de reais no setor de óleo e gás. A Mare Investimentos tem entre seus sócios Rodolfo Landim, ex-presidente da OGX e da BR Distribuidora, e Demian Fiocca, ex-presidente do BNDES. São, portanto, dois nomes de peso, capazes de atrair tanto empresas de petróleo que precisam de dinheiro para tocar planos de expansão quanto investidores interessados em financiar esses projetos. O objetivo do Santander e da Maré é comprar participações em até dez empresas que possam fornecer equipamentos e serviços para a Petrobras e outras petrolíferas. Essas companhias não devem ser de pequeno porte, uma vez que o Santander também planeja ajudar as mais bem-sucedidas a abrir o capital, lançar títulos ou comprar concorrentes. O dinheiro levantado será dividido em dois fundos: um para investidores brasileiros, que terá entre 400 e 600 milhões de reais, e outro para estrangeiros, com 500 milhões a 1 bilhão de dólares. Procurado, o Santander não informou quando o dinheiro começa a ser captado.
Quem não gostou de nenhuma das opções anteriores ainda pode enviar dinheiro para fora do país e comprar ativos no exterior. Além dos contratos de petróleo negociados em bolsas de Nova York e Londres, também é possível comprar papéis de dezenas de empresas do setor em Wall Street. Por desconhecer a maioria delas, o investidor brasileiro geralmente prefere investir no exterior por meio de fundos. Há inclusive profissionais que se dedicam exclusivamente a dar aconselhamento aos investidores sobre os melhores gestores de fundos lá fora. Contratar um deles é um cuidado necessário porque a indústria de hedge funds é bem menos transparente no exterior - vide o caso Madoff. Também é necessário enfrentar uma verdadeira via-crúcis burocrática e tributária. Quem tem dinheiro no Brasil terá de fechar uma operação de câmbio e pedir para o banco onde possui conta fazer uma remessa para uma de suas agências fora do país. O envio do dinheiro para um fundo não é tributado. O Imposto de Renda precisará ser pago sempre que houver ganho de capital em algum fundo no momento do resgate. A alíquota é de 15%, e a variação cambial entra na conta dos lucros. Eventuais prejuízos não geram créditos tributários para abater o imposto no futuro. O IR precisa ser pago no mês seguinte ao resgate. Se o contribuinte deixar para pagar quando trouxer os recursos de volta ao Brasil, terá de arcar com multa e juros. Também é necessário declarar ao Banco Central uma vez por ano o valor do patrimônio no exterior. São por esses motivos que especialistas costumam recomendar investimentos lá fora apenas para quem já tem dinheiro em outro país ou então planeja diversificar suas aplicações com ativos que não existem no Brasil. Mesmo assim, ainda é necessário avaliar se eventuais oscilações cambiais não poderão comer todos os ganhos obtidos com o investimento.