Se o objetivo é investir para ganhar dinheiro, a poupança nova é uma das piores opções (Stock.xchng)
Da Redação
Publicado em 6 de fevereiro de 2013 às 14h56.
São Paulo – Não é novidade que com as novas regras a poupança passou a render menos. Mas, isso não parece afetar muito o amor dos brasileiros pelo investimento, já que a caderneta continua batendo recordes de captação. Para alguns objetivos, de fato a poupança é a melhor opção, mas os motivos que pesam contra ela devem ser atentamente considerados por quem quer investir para ganhar dinheiro.
A poupança nunca se propôs a trazer altíssimos rendimentos, mas pela sua facilidade esse fato era minimizado por investidores conservadores. Agora, com a inflação em alta e com seu rendimento ainda menor - para quem investiu depois das mudanças, a partir de 4 de maio - é ainda mais importante não ignorar os contras da aplicação.
Veja a seguir seis motivos que justificam a saída da poupança nova e a busca por outros investimentos.
1) O rendimento é menor do que o aumento dos preços
A inflação esperada para 2013, segundo o último boletim Focus do Banco Central é de 5,68%. O rendimento da poupança nova (de 70% da taxa Selic, mais a Taxa Referencial, atualmente próxima a zero, quando a Selic for igual ou maior que 8,5%) será de 5,03% se a Selic continuar nos atuais 7,25% ao ano. Isso significa que não haverá ganho real, já que seu rendimento não superará a inflação.
Se a inflação é maior do que o rendimento, o investidor perde seu poder de compra, que é como ter menos dinheiro do que antes. “A rentabilidade real zerada da poupança é a razão mais forte para sair dela”, afirma Conrado Navarro, planejador financeiro da consultoria Dinheirama.
Mesmo a poupança antiga, que rende mais (0,5% ao mês mais a TR), em 2012, teve o segundo menor rendimento real em 10 anos. O rendimento nominal da caderneta foi de 6,47%, mas descontada a inflação medida pelo IPCA, o investidor ganhou só 0,6% no ano. Mesmo assim, para seus níveis de segurança, a poupança antiga tem uma remuneração líquida já razoável para o atual patamar de juros, podendo se tornar ainda mais invejável se a Selic cair ainda mais.
2) O investidor pode ficar acomodado
Por ser um investimento muito prático e pelo fato de sua remuneração ser muito previsível, a poupança pode deixar alguns investidores acomodados. “Isso é muito importante e é de uma sutileza cabal. Quando o investidor fica em uma zona de conforto, ele não se exercita, não olha outros investimentos e pode perder boas oportunidades”, Afirma Paulo Bittencourt, diretor da Apogeo Investimentos.
Como a remuneração da poupança nova depende apenas das oscilações da taxa Selic e seu risco é muito baixo, alguns investidores podem não fazer questão de observar como anda a inflação, a Bolsa e demais investimentos. Enquanto que ao investir, por exemplo, em ações e no Tesouro Direto, o investidor já precisa prestar mais atenção ao que ocorre no mercado para não perder dinheiro ou aproveitar um movimento de valorização, o que pode levá-lo a enxergar mais oportunidades também em outras aplicações.
3) Outros investimentos de segurança similar à da poupança pagam mais
A remuneração da nova poupança, que é atrelada à Selic, é como uma trava em relação às outras aplicações de renda fixa - que têm sua forma de remuneração definida previamente, e são os produtos mais conservadores do mercado.
A taxa Selic funciona como um parâmetro para os rendimentos de investimentos de renda fixa. Muitas aplicações buscam pagar ao investidor um valor igual à Selic ou maior. Como o rendimento da poupança é de 70% da Selic isso significa que ela se propõe a pagar sempre menos do que essas outras aplicações.
Um exemplo de investimento tão conservador quanto a poupança e que atualmente paga mais do que ela são as Letras Financeiras do Tesouro (LFT), o título mais conservador do Tesouro Direto. Esses títulos pagam o rendimento da Selic, e se o investidor ficar com eles até o vencimento, ele praticamente não tem riscos de perder o dinheiro (isso apenas ocorreria se o governo quebrasse).
Mesmo com o maior desconto possível de imposto de renda - que é de 22,5% sobre o rendimento em prazos menores que seis meses - a LFT atualmente rende mais que a poupança, que é isenta de imposto de renda (faça a comparação).
4) Se você tiver muito dinheiro para investir, a poupança é ainda mais desvantajosa
Com muito ou pouco dinheiro o rendimento da poupança será igual. Mas alguns investimentos oferecem contrapartidas melhores para valores aplicados mais altos. Por isso, se você tiver uma quantia relevante para investir, a desvantagem da poupança em relação aos investimentos disponíveis para você será ainda mais gritante.
“Regra de ouro das finanças: quanto mais recursos você tem, maior o acesso a produtos exclusivos, que vão desde fundos com aportes maiores e taxas menores até produtos que não estão no radar do investidor comum, mas que pagam mais. É o caso, por exemplo, das Letras de Crédito Imobiliário (LCIs), que podem exigir um aporte mínimo de 30.000 reais; ou das debêntures, que são aplicações de aporte mínimo da ordem de centenas de milhares de reais", afirma Navarro.
A Letra de Crédito Imobiliário (LCI) e as debêntures são claros exemplos de que com mais dinheiro é possível ganhar mais, pois geralmente não é possível investir nelas sem alguns milhares de reais. Mas já existem LCIs mais acessíveis ao pequeno investidor e que apresentam rentabilidade maior que a poupança. O principal problema desses investimentos, porém, é a liquidez reduzida ou inexistente, sendo necessário esperar por um período de carência ou mesmo até o vencimento para resgatar os recursos.
A LCI é um título vendido por instituições financeiras cujos valores captados são usados como crédito para financiar projetos imobiliários. Seus rendimentos são isentos de IR. E as debêntures são títulos de dívida de empresas, que rendem juros que podem estar atrelados, entre outros indexadores, à inflação (IPCA + juros), ao CDI ou às taxas de juros de referência. As debêntures que serão emitidas para o financiamento de projetos de infraestrutura serão isentas de IR para o investidor pessoa física.
5) A poupança perde para o Tesouro Direto
O Tesouro Direto é mais rentável que a poupança, ainda que seja um investimento tão conservador, líquido e seguro quanto a caderneta. Mesmo com a incidência de imposto de renda, os títulos mais conservadores do Tesouro, as LFTs, atualmente pagam mais que a poupança, já que reumuneram praticamente 100% da Selic, enquanto a poupança remunera apenas 70%.
A LFT com vencimento em 2017, que foi o título com menor rendimento do Tesouro Direto em 2012 rendeu 8,31% no ano, rendimento superior à poupança nova e à antiga.
A diferença pode ser ainda maior se a comparação for com as Notas do Tesouro Nacional série B (NTN-B). Esses títulos pagam ao investidor uma taxa de juros prefixada, mais a inflação do período, medida pelo IPCA. Em momentos como o atual, no qual os juros da Selic estão em baixa e a inflação em alta, as NTN-B ganham em muito da poupança.
A NTN-B que mais rendeu em 2012 foi a de vencimento em 2035. Sua rentabilidade foi de 48,58%. Mesmo que o investidor não realize esse lucro e fique com o título até seu vencimento, ao menos ele terá certeza de receber um ganho acima da inflação por todo o período de investimento.
Até mesmo em relação ao risco de crédito o Tesouro Direto bate a poupança. Se o investidor levar o título até o vencimento, o único risco de perder dinheiro seria o risco do governo quebrar, hipótese menos provável do que a quebra de bancos, que seria o risco da poupança.
Paulo Bittencourt afirma que pelo fato de a poupança não ser isenta de riscos, como qualquer outro investimento, o investidor não deve deixar todos os recursos apenas na caderneta, para não correr o risco de perder tudo se o pior ocorrer. “Nós temos visto alguns bancos quebraram, como o PanAmericano e o Bamerindus, e não existe negócio grande demais para não quebrar. Poderia ocorrer um problema sistêmico que não permitisse que um banco grande socorresse outro. E aí, o que poderia acontecer é uma coisa que você só sabe quando dá errado”, afirma.
A poupança é garantida pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), fundo sustentado pelos bancos que tem o objetivo de cobrir prejuízos de investidores em uma eventual quebra de uma instituição. O prejuízo é reembolsado até o limite de 70.000 reais. Portanto, até este valor o risco que existe é do FGC não conseguir cobrir o prejuízo, fato que só ocorreria se houvesse um colapso no setor bancário e os bancos não conseguissem mais contribuir para o fundo.
6) Com a poupança é mais fácil corromper o investimento para atender a impulsos de consumo
Pode-se dizer que uma das maiores vantagens da poupança é também o seu “calcanhar de Aquiles”. Muitos investidores gostam da poupança pela facilidade de movimentação e pela alta liquidez, já que o dinheiro investido pode ser resgatado a qualquer hora. Ocorre que essa é uma via de duas mãos.
“Como a poupança é muito fácil de usar, infelizmente é comum que o investidor veja uma liquidação, um carro com IPI reduzido e use o dinheiro que estava sendo poupado para outra coisa”, afirma Navarro. Ele ressalta que uma das melhores formas de respeitar o investimento é definir um prazo e um objetivo para ele, para que o valor acumulado não se desvirtue para outros fins.
Enquanto é possível usar imediatamente o dinheiro da poupança apenas acessando o internet banking, fazendo uma ligação para o banco ou indo até a agência bancária, no investimento em ações, por exemplo, para o valor investido ser resgatado e chegar às mãos do investidor o processo demora três dias.
Em alguns fundos de investimento, ainda, há prazos de carência, que impedem que o investidor resgate o seu dinheiro dentro de um determinado prazo, que pode durar meses. E outro fator que pesa na decisão de retirar o dinheiro para um motivo tolo é que tanto para ações, fundos, quanto para o Tesouro Direto o investidor pode perder dinheiro ao fazer um resgate na hora errada.
A poupança pode ser muito boa, por exemplo, para guardar a parcela de investimentos destinada à reserva de emergência do investidor, que é um valor que ele deve ter sempre à mão caso ocorra algum imprevisto. Mas, sua facilidade definitivamente não combina com o objetivo de multiplicar o patrimônio, já que para esse fim a melhor orientação é não usar o dinheiro investido no dia a dia.
Veja também se você deve tirar o seu dinheiro da poupança que segue a regra antiga
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