Criança e dinheiro (MarsYu/Thinkstock)
Da Redação
Publicado em 15 de fevereiro de 2018 às 14h05.
Última atualização em 30 de junho de 2021 às 18h08.
Por Sandra da Motta, da Arena do Pavini
Uma pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SCPC) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) em 27 capitais indica que quase metade (45%) dos brasileiros não controla as próprias finanças. Pior que isso, uma parcela alta, de 31%, é insegura para lidar com dinheiro e 34% deixam de cuidar das finanças por indisciplina.
Uma explicação para essa falta de habilidade para lidar com o dinheiro e com o próprio orçamento é a falta de uma orientação dos pais, que se preocupam com vários aspectos da educação dos filhos, menos com a educação financeira. Justamente o tópico que será fundamental para os filhos conduzirem sua vida sem tantos percalços, com menos dívidas e mais segurança para realizar seus planos e garantir um futuro mais tranquilo.
Muitos pais não gostam de falar de dinheiro com os filhos, achando que isso poderia torna-los pessoas avarentas ou materialistas demais. Mas, com isso, acabam deixando de mostrar a importância de se ter uma reserva para emergências e para a velhice ou de controlar os gastos e seus próprios impulsos. Por isso, especialistas recomendam que os pais comecem cedo a mostrar aos filhos a importância de saber como lidar com o dinheiro, mesmo que ele não seja a coisa mais importante da vida.
A planejadora financeira CFP pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros, Eleonora Braude, dá algumas dicas para as famílias conversarem sobre orçamento e dinheiro.
Uma boa estratégia para orientar os filhos pequenos, quando o assunto é lidar com dinheiro e aprender a poupar, é ensinar desde cedo que se trata de um item escasso, e que escolhas precisam ser feitas com cuidado, pois cada uma delas, uma vez feitas, terá consequências e ramificações. Nesse sentido, não basta dar dinheiro eventual ou mesada à criança, sendo necessário guiá-la sobre suas opções.CF
Ela menciona o exemplo simples, de um casal que esteja em passeio num shopping center com o filho e, nesse momento, decida liberar para ele a “semanada”.
“Ao ver a loja de doces, a primeira reação da criança geralmente é a de gastar tudo com as guloseimas. Portanto, antes de ele fazer essa escolha, é importante mostrar que tem opções”, explica Eleonora.No caso, uma alternativa seria, no lugar de gastar de uma vez tudo o que ganhou, reservar uma parte para, mais adiante, poder comprar um brinquedo ou outra coisa mais cara em que ela tenha demonstrado interesse.
“É importante que os pais esclareçam, desde cedo, que existem opções, e que o dinheiro guardado no futuro pode ajudá-lo a alcançar objetivos ou sonhos de consumo mais caros”, diz Braude. “Com isso, ajudamos a desenvolver o autocontrole e demonstramos que há recompensa para quem se planeja.”
Na visão da planejadora, a partir de três ou quatro anos de idade já se pode começar a orientar nesse sentido. E, segundo ela, “principalmente através de nossos exemplos” — como o de comprar um picolé de frutas em vez de um sorvete de chocolate mais caro, e explicar que se está economizando para outras coisas. “O cuidado a ser tomado é que as explicações precisam ser simples, conforme o entendimento da criança”, diz, lembrando que considerações muito elaboradas nesse momento dificilmente serão absorvidas.
Outro item importante, na avaliação de Eleonora, “é vivermos o que ensinamos”. Ou seja, para melhor ensinar aos filhos o equilíbrio financeiro, também será preciso praticá-lo nas finanças familiares.
Para a planejadora, a linguagem do exemplo e da prática é fator decisivo para que a orientação seja bem sucedida. “Ela é a mais poderosa que temos para influenciar nossos filhos; por meio de nossas decisões e hábitos financeiros é que podemos ensinar muito a eles”, orienta.
Antes de investir com foco na criança ou orientá-la sobre o tema, diz Eleonora, primeiramente os pais ou responsáveis precisarão saber qual é o objetivo, o sonho que se pretende alcançar com essas economias.
“Se é a criança que será a investidora, sob a tutela dos pais, começar com um produto simples, como poupança, pode ser uma opção”, destaca, lembrando que a caderneta de poupança ensina que existe uma remuneração ao longo do tempo, ou seja, uma recompensa por se estar guardando para o seu objetivo. O intuito, nesse caso, seria mais educacional, para ensinar bons hábitos financeiros (economizar periodicamente) do que de rentabilização.
Se o principal objetivo é o de educar, diz Eleonora, ao passo que a criança cresce, pode-se ir apresentando outros tipos de investimentos, conforme o entendimento dela for se ampliando. Eles podem ser feitos com pequenas quantias, em produtos como Tesouro Direto, Ações, ETFs, Previdência, etc. “O foco, neste momento, seria mostrar que diferentes produtos podem ter diferentes rentabilidades, mas também riscos a serem considerados.”