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1. As maiores não são as que mais subiram
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1/6 (Wikimedia Commons)
São Paulo – Se você ganhasse uma máquina do tempo igual à de Marty McFly (Michael J. Fox) no filme “De volta para o Futuro” (foto) e subitamente pudesse voltar para o início da década passada, que ações compraria na BM&FBovespa? De imediato, é provável que a maioria das pessoas pense em nomes como Vale e Petrobras. Afinal, se as duas empresas foram capazes de multiplicar diversas vezes o faturamento para se tornar as maiores do Brasil, não é possível que suas ações não tenham acompanhado esse movimento. Uma busca no banco de dados da consultoria Economática mostra que realmente ambas tiveram bons resultados em bolsa, mas estão longe de encabeçar a lista das maiores valorizações. Na liderança, com rentabilidades que chegam a quase 6.000%, aparecem empresas de médio e pequeno porte que conseguiram dar grandes reviravoltas ou reinventar o próprio modelo de negócios. O ranking dos cinco maiores retornos, que pode ser conferido nas próximas páginas, incluiu apenas as ações que já estavam na bolsa em 1º de janeiro de 2000 e que possuem hoje um valor de mercado superior a 1 bilhão de reais. Depois de ler essa reportagem, você só precisará de uma máquina do tempo para ficar rico.
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2. 1 - Telebrás renasceu com plano de banda larga
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2/6 (VEJA)
Após a privatização do sistema Telebrás em 1998 (foto), não sobrou praticamente nada da empresa, mas o fantasma da estatal continuou a ter ações negociadas na BM&FBovespa. Não era de se estranhar que os papéis fossem negociados por valores irrisórios nos anos que se seguiram ao leilão. A grande reviravolta veio a partir de meados de 2007, quando o governo Lula começou a aventar a possibilidade de ressuscitar a Telebrás. A empresa seria responsável por levar adiante o plano de universalizar o serviço de acesso à internet por banda larga pelo Brasil afora. A ideia era aproveitar as redes de fibra óptica da Petrobras, Eletrobrás e Eletronet para nacionalizar a conexão a um preço acessível para residências de baixa renda. Lula, entretanto, deixou o Palácio do Planalto sem conseguir botar o plano em pé. Já Dilma fez o que parecia mais sensato. Assim que obteve condições vantajosas o suficiente, optou por fechar um acordo que obrigará as principais empresas de telecomunicações brasileiras a levar até 2014 o serviço de internet com 1 megabyte de velocidade a 35 reais por mês ao interior do país. O mercado, no entanto, acredita que de alguma forma a Telebrás fará parte desse plano. Como um retorno das ações de nada menos do que 5.921%, a empresa foi a que mais se valorizou desde 2000 e já vale 1,923 bilhão de reais.
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3. 2 - Randon Participações viveu história de reviravolta
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3/6 (VOCÊ S/A)
Em segundo no ranking das maiores altas dos últimos 11 anos e meio, a Randon Participações proporcionou um retorno de 5.737% e vale hoje 2,5 bilhões de reais. A empresa é bastante conhecida por fabricar carretas e implementos de veículos pesados, mas, na verdade, consiste em uma holding que controla diversas fabricantes de autopeças. O principal diferencial é a escala maior que a dos concorrentes para a fabricação de todo tipo de carretas para caminhões – um mercado que cresceu muito no Brasil nos últimos anos. O resultado é que a empresa tem uma margem Ebitda de cerca de 15%. “Pode não parecer muito, mas uma margem dessa no setor automotivo é motivo de festa”, diz Wagner Salaverry, diretor da Geração Futuro, um fundo que investe há mais de dez anos na Randon. Além de carretas, reboques, vagões ferroviários e retroescavadeiras, a Randon também tem uma operação importante de autopeças menores, que vão de pastilhas e lonas de freio a suspensões. Nesse segmento, a holding possui marcas como Fras-le, Master, Suspensys e Jost. A empresa chegou a viver um momento difícil na década passada. Segundo Melhores e Maiores de EXAME, a Randon saiu de um prejuízo de 19 milhões de dólares em 1999 para um lucro de 150 milhões de dólares em 2010. A grande virada aconteceu com a decisão de reduzir a verticalização da produção e de fechar parcerias com grandes fornecedores globais de peças para aumentar a competitividade. “As parcerias permitiram que a empresa importasse tecnologia e também ganhasse mercados para vender seus produtos lá fora”, diz Salaverry. Nos últimos dois anos, a Randon passou por seu primeiro processo de sucessão. O fundador e presidente há 60 anos, Raul Randon, passou o comando da operação para o filho David em 2009. A sucessão não tirou a empresa gaúcha da rota de crescimento. “Agora as decisões são tomadas de forma menos centralizada. Há um grupo de oito executivos que define as estratégias em consenso”, diz Salaverry. “Vejo o David bastante empolgado com as perspectivas de expansão da Randon e de compra de outras empresas.”
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4. 3 - Alpargatas dispara no rastro das Havaianas
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4/6 (Divulgação)
O ganho de 4.077% acumulado pelas ações da Alpargatas nos últimos anos reflete a construção de uma marca de reputação internacional. A empresa nunca valeria 3,9 bilhões de reais em bolsa se não fossem as sandálias Havaianas. O modelo de chinelo mais vendido do Brasil foi criado em 1962 e se tornou um sucesso instantâneo. Na década de 1980, entretanto, perdeu participação de mercado e passou a ser visto como “coisa de pobre”. Foi só no final da década dos anos 90 que as sandálias de borracha voltaram a ser um acessório da moda consumido pelas classes A e B. Ainda infelizes com o status nacional, as Havaianas deram um passo além e ganharam o mercado externo, com espaço em vitrines de lojas de departamentos chiques como Saks Fifth Avenue e Bergdorf Goodman, em Nova York, e Galleries Lafayette, em Paris. Celebridades como Julia Roberts, Jennifer Aniston, Sandra Bullock, Naomi Campbell e Kate Moss já foram flagradas com as sandálias nos pés. No Brasil, diversos atores globais como Juliana Paes (foto) já fizeram propagandas da marca. O mercado começou a perceber o potencial de lucros das sandálias em 2003, quando as ações, que valiam centavos, começaram a subir a passos largos. Melhorias de gestão que levaram ao fim do licenciamento de marcas pouco lucrativas também contribuíram para melhorar o balanço financeiro. Além das Havaianas, hoje a empresa trabalha com marcas como Rainha, Topper e Mizuno e continua a ser enxergada no mercado como uma boa opção para surfar o boom do consumo interno.
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5. 4 - Transmissão Paulista brilha com privatização
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5/6 (Divulgação)
As ações da CTEEP (Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista) proporcionaram um ganho de 4.058% para quem manteve os papéis em carteira nos últimos 11 anos e meio. A empresa fazia parte da Cesp, que foi fatiada pelo governo paulista em 2000 para a privatização. A área de transmissão foi a última a ser vendida à iniciativa privada. O mercado se antecipou ao leilão, com as ações entrando em uma trajetória de alta já a partir de 2002. A privatização propriamente dita, realizada em 2006, deu um novo impulso aos papéis. O grupo colombiano ISA pagou 1,193 bilhão de reais pelo controle da CTEEP , um ágio de quase 58% sobre o preço mínimo. Nos últimos anos, a CTEEP venceu diversos leilões de energia com propostas bem agressivas de preço, realizou pesados investimentos e expandiu sua atuação para diversos estados. No início, o mercado achava que os novos gestores eram um tanto imprudentes. No entanto, com o boom da economia brasileira, a aposta da empresa se mostrou acertada. A forte geração de caixa tem beneficiado tanto os controladores quanto os acionistas minoritários, que hoje são donos de uma empresa que vale 7,625 bilhões de reais. “O próprio governo ganhou muito com a privatização. A empresa era deficitária e consumia recursos públicos, mas, depois do leilão, passou a ser uma grande pagadora de impostos”, diz Ricardo Corrêa, analista de energia da Ativa.
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6. 5 – AES Tietê não deixou investidores na mão
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6/6 (Divulgação)
A AES Tietê é outra empresa resultante da cisão da Cesp, mas seu foco está na área de geração de energia elétrica. Com as melhorias de gestão proporcionadas pela privatização, as ações da empresa entregaram aos acionistas um retorno de 3.507% desde janeiro de 2000. Para se ter uma ideia da importância da privatização na valorização dos papéis, basta olhar o que aconteceu com companhias que continuaram nas mãos governamentais. No mesmo período, as ações PNB da Eletrobrás proporcionaram um ganho de 167% e as PNA da Cesp, 377%. Mas ao contrário do que aconteceu no caso da CTEEP, a AES Tietê não realizou pesados investimentos nem tem sido agressiva em leilões de energia para justificar seu atual valor de mercado de 8,8 bilhões de reais. A empresa praticamente não ampliou a capacidade de geração desde a privatização, o que já a levou a atritos com o governo paulista. A expectativa de Ricardo Corrêa, analista de energia da Ativa, é que o acordo entre as partes aconteça por meio de novos investimentos da AES Tietê em termelétricas. Enquanto isso não acontece, a empresa distribui quase todo o lucro que obtém aos acionistas. Por esse motivo, suas ações costumam frequentar as listas das mais indicadas pelas corretoras para quem está interessado em colher dividendos na bolsa.