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10 trapaças para inflar o preço de ações

O emblemático caso Enron ilustra até que ponto uma companhia pode chegar para tapear seus acionistas em interesse próprio

Antiga sede da Enron: empresa foi mestre na arte de tapear os próprios acionistas (Wikimedia Commons)
DR

Da Redação

Publicado em 30 de dezembro de 2013 às 10h07.

São Paulo – Falida há quase dez anos, a empresa de energia americana Enron acumulou bons e maus superlativos durante sua existência. Chegou a ser a sétima maior companhia dos Estados Unidos, com valor de mercado de 65 bilhões de dólares. Foi premiada diversas vezes como a companhia americana mais inovadora. E protagonizou a maior fraude corporativa da história dos EUA.

Escândalos como o da Enron estão mais para exceção do que para regra no mercado de capitais. O caso, na verdae, levou a uma completa revisão das leis que regem a atuação dos participantes do mercado americano. Os principais executivos da companhia tiveram punições exemplares: Ken Lay morreu antes de cumprir pena, mas Jeff Skilling foi condenado a 24 anos de prisão e permanece trancafiado até hoje.

Casos como do banco PanAmericano no Brasil e dos fundos de Bernard Madoff nos EUA comprovam, entretanto, que as brechas para novos escândalos no mercado nunca serão totalmente tapadas. A seguir, EXAME.com descreve as trapaças utilizadas pela Enron para enganar os próprios acionistas (as informações foram retiradas do documentário “Enron – Os Mais Espertos da Sala”). Para um investidor precavido, vale a pena conhecê-las.

1- Artifícios contábeis

Essa é a peça-chave de todo o esquema fraudulento montado pela Enron. A empresa sempre apresentava lucros crescentes em seus balanços trimestrais, mas, na verdade, era dona de diversos ativos de energia e gás que só geravam prejuízos. Para disfarçar operações deficitárias, os controladores da Enron usaram e abusaram de uma técnica conhecida como “marcação a mercado”. Potenciais benefícios futuros de contratos fechados pela empresa no presente eram imediatamente lançados como lucro no balanço trimestral – ainda que fosse impossível de avaliar se esses ganhos realmente se materializariam dentro de alguns anos.

Portanto, o balanço, que deveria ser bem objetivo e baseado em números reais, acabava sujeito a todo tipo de manipulação por parte da empresa. Para manter as mentiras antigas encobertas sem despertar a desconfiança do mercado, as fraudes contábeis tinham de ser cada vez maiores. Em determinado ponto, a Enron chegou a esconder dívidas de 30 bilhões de dólares ao colocá-las em nome de subsidiárias. Um investidor que destrinchasse um balanço inteirinho da empresa poderia não ter acesso à informação sobre existência dessa enorme montanha de débitos.

2- Cooptação do auditor

A Arthur Andersen era a auditoria responsável por fiscalizar os balanços da Enron e alertar os acionistas em casos de “contabilidade criativa”. Mas a empresa de auditoria mais antiga dos EUA sempre foi omissa em relação à Enron. Os detalhes de sua atuação não são conhecidos. O que se sabe é que a Enron pagava cerca de 1 milhão de dólares por mês à Arthur Andersen e que, em setembro de 2001, pouco antes da descoberta das fraudes, a auditoria destruiu mais de uma tonelada em documentos relativos às contas da cliente. Essa revelação chocou a opinião pública de tal forma que a própria Arthur Andersen foi obrigada a declarar falência e a demitir 29.000 colaboradores.


3- Pressão sobre os analistas

Quase todos os analistas de grandes bancos e corretoras americanas recomendavam a compra das ações da Enron. Mas nem todos gostavam da empresa. A Merrill Lynch chegou a distribuir relatórios em que fazia uma avaliação ruim da Enron como investimento. No documentário, o analista John Olson, da Merrill Lynch, diz que, em determinado momento, o diretor financeiro da Enron, Andrew Fastow, não gostou nada de seus comentários e telefonou para a cúpula do banco para dizer que não faria negócios com eles se as ações não fossem bem-avaliadas. No dia seguinte ao telefonema, o analista foi demitido.

A sequência do episódio é ainda mais bizarra. Em semanas, a Enron tomou um empréstimo volumoso da Merrill Lynch, pagando juros interessantes ao banco. A promiscuidade entre as duas empresas cresceu tanto que o banco chegou a se envolver diretamente na fraude. Em 1999, a Merrill Lynch fingiu comprar três termelétricas da Enron na Nigéria, quando, na verdade, a transferência de recursos do banco para a empresa configurava apenas um novo empréstimo. O banco ficou cinco meses com os ativos e depois os revendeu à empresa. O truque serviu apenas para melhorar um balanço da Enron. Quatro funcionários da Merrill Lynch foram posteriormente condenados pela Justiça.

4– Promessas sem fim

No Brasil, executivos de empresas com ações negociadas em bolsa estão submetidos a regras rigorosas de divulgação de informações. Todas as projeções de resultados futuros precisam ser publicadas nos balanços trimestrais ou por meio de comunicados ao mercado divulgados em horários em que o pregão está fechado. Em conversas reservadas com analistas ou jornalistas, os empresários não podem fazer estimativas de lucro nem divulgar promessas de crescimento que ainda não sejam conhecidas pelo mercado.

Já a Enron fazia tudo diferente. Em gravações exaustivamente exploradas no documentário, Ken Lay, Jeff Skilling e outros executivos da Enron prometem, em programas de TV ou em reuniões de acionistas, que as ações da empresa dobrariam de valor em 12 a 18 meses, que os resultados dos próximos trimestres seriam sempre melhores e que investir na Enron seria um negócio da China. Lay e Skilling chegam até mesmo a prometer que a Enron se tornaria a maior empresa do mundo. Nada disso virou realidade.

5– Dribles na fiscalização

A Securities and Exchange Comission (SEC) é o órgão americano equivalente à CVM brasileira, responsável por fiscalizar e reprimir crimes no mercado financeiro. Talvez pela confiança depositada na auditoria, entretanto, o caso Enron passou totalmente despercebido pelo órgão regulador. A fraude pegou a todos de surpresa. A SEC não inibiu nem mesmo as promessas de ganhos futuros constantemente feitas aos acionistas. Para piorar, o principal executivo da Enron, Ken Lay, sempre manteve uma relação muito próxima com a família Bush, que na época da descoberta das fraudes comandava os EUA. Lay foi do comitê de campanha de George Bush (o pai) em sua tentativa de se reeleger em 1992. Com sede no Texas, a Enron foi a maior doadora da primeira campanha de George W. Bush (o filho) à presidência dos EUA. Bush filho costumava chamar Lay de “Kenny Boy” – o mesmo apelido usado pela própria esposa do executivo. Após a vitória de Bush filho, Lay chegou a ser cotado para ocupar cargos importantíssimos da administração federal, como o comando das secretarias do Tesouro ou de Energia. Para a sorte dos EUA, a ideia foi abortada.


6– Furos nos jornalistas

Não foram apenas os analistas de mercado que demoraram em acordar para o fato de que a Enron nunca explicava direito de onde vinham seus lucros. Os jornalistas também foram iludidos pelas falsas promessas. A revista Fortune chegou a premiar a Enron com o título de empresa mais inovadora dos EUA em diversos anos. Somente em 2001, quando a jornalista Bethany McLean questionou a Enron sobre maiores explicações e publicou na revista Fortune uma reportagem em que afirmava que havia indícios de que o preço das ações parecia exagerado é que o mercado começou também a se questionar se as avaliações feitas sobre as ações da empresa não poderiam estar equivocadas. As fraudes só foram descobertas poucos meses depois, quando muitos investidores já haviam embarcado na canoa furada.

7– Manipulação de preços

Essa pode ser considerada a fraude mais escandalosa cometida pela Enron porque prejudicou não apenas os milhares de acionistas como também praticamente toda a população da Califórnia. Para encobrir o déficit de suas operações, a Enron fazia apostas de risco elevadíssimo no mercado futuro de energia. Para garantir que o preço de energia subiria conforme suas apostas, a Enron foi capaz de usar artifícios sórdidos o suficiente para revoltar a população de tal forma que o então governador da Califórnia acabou com o mandato encurtado por decisão dos eleitores.

O estado sempre foi superavitário em energia e tinha uma capacidade instalada para produzir 45.000 MW. No início da década passada, entretanto, houve momentos em que a produção caiu para 30.000 MW. Em fitas gravadas, operadores de mercado da Enron admitem que parte da energia produzida pelo estado, comprada pela empresa, era vendida a outras regiões do país como forma de inflar os preços. Assim que os valores se tornavam atrativos, a Enron trazia a energia de volta e conseguia milhões de dólares em lucros. Ainda em conversas gravadas, operadores da Enron chegam até mesmo a telefonar para funcionários de usinas de energia e mandar suspender a produção como forma de causar blecautes e colocar pressão sobre os preços.

8- Uso de informação privilegiada

Enquanto milhares de acionistas empobreciam com a derrocada da Enron no começo da década passada, os principais executivos embolsavam lucros fantásticos. A cúpula da Enron obteve 1 bilhão de dólares com a venda de ações da empresa meses antes da falência. Apenas Ken Lay e Jeff Skilling se apropriaram de 500 milhões de dólares. Ao mesmo tempo em que diziam aos acionistas ou na TV que as perspectivas para a Enron eram excelentes, os executivos desovavam rapidamente no mercado as ações que haviam recebido como bônus pelos trabalhos prestados.


Todo o prejuízo ficou com os acionistas que não tinham informações privilegiadas e não sabiam o que se passava nos bastidores. Apenas os fundos de pensão que investiam em ações da Enron para garantir a aposentadoria futura dos quotistas perderam 2 bilhões de dólares com a falência. No documentário, um empregado da Portland General Eletric (PGE), empresa comprada pela Enron, afirma que chegou a ter 348.000 dólares em papéis da própria companhia, mas acabou liquidando todas as posições anos depois e recebeu em troca apenas 1.200 dólares.

9- Esforços para aparecer na crista da onda

Com o único objetivo de inflar o preço das ações no curto prazo, a Enron se metia em negócios arriscados que não faziam parte de seu escopo de negócios e em que fatalmente perderia dinheiro. Na época da bolha da internet nos EUA, a empresa anunciou uma parceria com a Blockbuster para oferecer filmes on-line que poderiam ser assistidos por meio de uma conexão de banda larga com a internet. Em meio à bolha das empresas pontocom e ludibriados pelo potencial de geração de lucros da rede mundial de computadores, os investidores compraram ações da Enron como água. Os papéis subiram 34% em apenas dois dias.

O serviço em si era tão viável que hoje virou um excelente negócio nas mãos de empresas como a Netflix. O problema é que, àquela época, a banda larga não era tão larga assim. Apesar de os executivos da Enron afirmarem que tudo havia sido testado e aprovado, o serviço se revelou um tremendo fracasso. Mesmo assim, no balanço do trimestre em que foi lançado, o novo serviço gerou um lucro de 53 milhões de dólares - graças às possibilidades de contabilidade criativa da “marcação a mercado”.

10- Negócios distantes

Quando as coisas são feitas longe dos olhos acionistas, fica quase impossível afirmar que algo não é o que parece. Foi com essa estratégia que a Enron contou diversas mentiras aos investidores sem ser descoberta. Apenas em um projeto na Índia, a companhia investiu 1 bilhão de dólares, algo bem pouco usual para o país asiático na década de 1990. A promessa era de ganhar muito dinheiro. O problema é que, na época, as empresas e a população local não tinham dinheiro para pagar pela energia o suficiente para tornar o investimento da Enron lucrativo. A unidade foi fechada e se tornou um elefante branco. Mesmo com a perda do capital investido, em balanços anteriores da Enron, os lucros futuros que seriam gerados pelo projeto foram “marcados a mercado” e inflaram os ganhos.

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São Paulo – Falida há quase dez anos, a empresa de energia americana Enron acumulou bons e maus superlativos durante sua existência. Chegou a ser a sétima maior companhia dos Estados Unidos, com valor de mercado de 65 bilhões de dólares. Foi premiada diversas vezes como a companhia americana mais inovadora. E protagonizou a maior fraude corporativa da história dos EUA.

Escândalos como o da Enron estão mais para exceção do que para regra no mercado de capitais. O caso, na verdae, levou a uma completa revisão das leis que regem a atuação dos participantes do mercado americano. Os principais executivos da companhia tiveram punições exemplares: Ken Lay morreu antes de cumprir pena, mas Jeff Skilling foi condenado a 24 anos de prisão e permanece trancafiado até hoje.

Casos como do banco PanAmericano no Brasil e dos fundos de Bernard Madoff nos EUA comprovam, entretanto, que as brechas para novos escândalos no mercado nunca serão totalmente tapadas. A seguir, EXAME.com descreve as trapaças utilizadas pela Enron para enganar os próprios acionistas (as informações foram retiradas do documentário “Enron – Os Mais Espertos da Sala”). Para um investidor precavido, vale a pena conhecê-las.

1- Artifícios contábeis

Essa é a peça-chave de todo o esquema fraudulento montado pela Enron. A empresa sempre apresentava lucros crescentes em seus balanços trimestrais, mas, na verdade, era dona de diversos ativos de energia e gás que só geravam prejuízos. Para disfarçar operações deficitárias, os controladores da Enron usaram e abusaram de uma técnica conhecida como “marcação a mercado”. Potenciais benefícios futuros de contratos fechados pela empresa no presente eram imediatamente lançados como lucro no balanço trimestral – ainda que fosse impossível de avaliar se esses ganhos realmente se materializariam dentro de alguns anos.

Portanto, o balanço, que deveria ser bem objetivo e baseado em números reais, acabava sujeito a todo tipo de manipulação por parte da empresa. Para manter as mentiras antigas encobertas sem despertar a desconfiança do mercado, as fraudes contábeis tinham de ser cada vez maiores. Em determinado ponto, a Enron chegou a esconder dívidas de 30 bilhões de dólares ao colocá-las em nome de subsidiárias. Um investidor que destrinchasse um balanço inteirinho da empresa poderia não ter acesso à informação sobre existência dessa enorme montanha de débitos.

2- Cooptação do auditor

A Arthur Andersen era a auditoria responsável por fiscalizar os balanços da Enron e alertar os acionistas em casos de “contabilidade criativa”. Mas a empresa de auditoria mais antiga dos EUA sempre foi omissa em relação à Enron. Os detalhes de sua atuação não são conhecidos. O que se sabe é que a Enron pagava cerca de 1 milhão de dólares por mês à Arthur Andersen e que, em setembro de 2001, pouco antes da descoberta das fraudes, a auditoria destruiu mais de uma tonelada em documentos relativos às contas da cliente. Essa revelação chocou a opinião pública de tal forma que a própria Arthur Andersen foi obrigada a declarar falência e a demitir 29.000 colaboradores.


3- Pressão sobre os analistas

Quase todos os analistas de grandes bancos e corretoras americanas recomendavam a compra das ações da Enron. Mas nem todos gostavam da empresa. A Merrill Lynch chegou a distribuir relatórios em que fazia uma avaliação ruim da Enron como investimento. No documentário, o analista John Olson, da Merrill Lynch, diz que, em determinado momento, o diretor financeiro da Enron, Andrew Fastow, não gostou nada de seus comentários e telefonou para a cúpula do banco para dizer que não faria negócios com eles se as ações não fossem bem-avaliadas. No dia seguinte ao telefonema, o analista foi demitido.

A sequência do episódio é ainda mais bizarra. Em semanas, a Enron tomou um empréstimo volumoso da Merrill Lynch, pagando juros interessantes ao banco. A promiscuidade entre as duas empresas cresceu tanto que o banco chegou a se envolver diretamente na fraude. Em 1999, a Merrill Lynch fingiu comprar três termelétricas da Enron na Nigéria, quando, na verdade, a transferência de recursos do banco para a empresa configurava apenas um novo empréstimo. O banco ficou cinco meses com os ativos e depois os revendeu à empresa. O truque serviu apenas para melhorar um balanço da Enron. Quatro funcionários da Merrill Lynch foram posteriormente condenados pela Justiça.

4– Promessas sem fim

No Brasil, executivos de empresas com ações negociadas em bolsa estão submetidos a regras rigorosas de divulgação de informações. Todas as projeções de resultados futuros precisam ser publicadas nos balanços trimestrais ou por meio de comunicados ao mercado divulgados em horários em que o pregão está fechado. Em conversas reservadas com analistas ou jornalistas, os empresários não podem fazer estimativas de lucro nem divulgar promessas de crescimento que ainda não sejam conhecidas pelo mercado.

Já a Enron fazia tudo diferente. Em gravações exaustivamente exploradas no documentário, Ken Lay, Jeff Skilling e outros executivos da Enron prometem, em programas de TV ou em reuniões de acionistas, que as ações da empresa dobrariam de valor em 12 a 18 meses, que os resultados dos próximos trimestres seriam sempre melhores e que investir na Enron seria um negócio da China. Lay e Skilling chegam até mesmo a prometer que a Enron se tornaria a maior empresa do mundo. Nada disso virou realidade.

5– Dribles na fiscalização

A Securities and Exchange Comission (SEC) é o órgão americano equivalente à CVM brasileira, responsável por fiscalizar e reprimir crimes no mercado financeiro. Talvez pela confiança depositada na auditoria, entretanto, o caso Enron passou totalmente despercebido pelo órgão regulador. A fraude pegou a todos de surpresa. A SEC não inibiu nem mesmo as promessas de ganhos futuros constantemente feitas aos acionistas. Para piorar, o principal executivo da Enron, Ken Lay, sempre manteve uma relação muito próxima com a família Bush, que na época da descoberta das fraudes comandava os EUA. Lay foi do comitê de campanha de George Bush (o pai) em sua tentativa de se reeleger em 1992. Com sede no Texas, a Enron foi a maior doadora da primeira campanha de George W. Bush (o filho) à presidência dos EUA. Bush filho costumava chamar Lay de “Kenny Boy” – o mesmo apelido usado pela própria esposa do executivo. Após a vitória de Bush filho, Lay chegou a ser cotado para ocupar cargos importantíssimos da administração federal, como o comando das secretarias do Tesouro ou de Energia. Para a sorte dos EUA, a ideia foi abortada.


6– Furos nos jornalistas

Não foram apenas os analistas de mercado que demoraram em acordar para o fato de que a Enron nunca explicava direito de onde vinham seus lucros. Os jornalistas também foram iludidos pelas falsas promessas. A revista Fortune chegou a premiar a Enron com o título de empresa mais inovadora dos EUA em diversos anos. Somente em 2001, quando a jornalista Bethany McLean questionou a Enron sobre maiores explicações e publicou na revista Fortune uma reportagem em que afirmava que havia indícios de que o preço das ações parecia exagerado é que o mercado começou também a se questionar se as avaliações feitas sobre as ações da empresa não poderiam estar equivocadas. As fraudes só foram descobertas poucos meses depois, quando muitos investidores já haviam embarcado na canoa furada.

7– Manipulação de preços

Essa pode ser considerada a fraude mais escandalosa cometida pela Enron porque prejudicou não apenas os milhares de acionistas como também praticamente toda a população da Califórnia. Para encobrir o déficit de suas operações, a Enron fazia apostas de risco elevadíssimo no mercado futuro de energia. Para garantir que o preço de energia subiria conforme suas apostas, a Enron foi capaz de usar artifícios sórdidos o suficiente para revoltar a população de tal forma que o então governador da Califórnia acabou com o mandato encurtado por decisão dos eleitores.

O estado sempre foi superavitário em energia e tinha uma capacidade instalada para produzir 45.000 MW. No início da década passada, entretanto, houve momentos em que a produção caiu para 30.000 MW. Em fitas gravadas, operadores de mercado da Enron admitem que parte da energia produzida pelo estado, comprada pela empresa, era vendida a outras regiões do país como forma de inflar os preços. Assim que os valores se tornavam atrativos, a Enron trazia a energia de volta e conseguia milhões de dólares em lucros. Ainda em conversas gravadas, operadores da Enron chegam até mesmo a telefonar para funcionários de usinas de energia e mandar suspender a produção como forma de causar blecautes e colocar pressão sobre os preços.

8- Uso de informação privilegiada

Enquanto milhares de acionistas empobreciam com a derrocada da Enron no começo da década passada, os principais executivos embolsavam lucros fantásticos. A cúpula da Enron obteve 1 bilhão de dólares com a venda de ações da empresa meses antes da falência. Apenas Ken Lay e Jeff Skilling se apropriaram de 500 milhões de dólares. Ao mesmo tempo em que diziam aos acionistas ou na TV que as perspectivas para a Enron eram excelentes, os executivos desovavam rapidamente no mercado as ações que haviam recebido como bônus pelos trabalhos prestados.


Todo o prejuízo ficou com os acionistas que não tinham informações privilegiadas e não sabiam o que se passava nos bastidores. Apenas os fundos de pensão que investiam em ações da Enron para garantir a aposentadoria futura dos quotistas perderam 2 bilhões de dólares com a falência. No documentário, um empregado da Portland General Eletric (PGE), empresa comprada pela Enron, afirma que chegou a ter 348.000 dólares em papéis da própria companhia, mas acabou liquidando todas as posições anos depois e recebeu em troca apenas 1.200 dólares.

9- Esforços para aparecer na crista da onda

Com o único objetivo de inflar o preço das ações no curto prazo, a Enron se metia em negócios arriscados que não faziam parte de seu escopo de negócios e em que fatalmente perderia dinheiro. Na época da bolha da internet nos EUA, a empresa anunciou uma parceria com a Blockbuster para oferecer filmes on-line que poderiam ser assistidos por meio de uma conexão de banda larga com a internet. Em meio à bolha das empresas pontocom e ludibriados pelo potencial de geração de lucros da rede mundial de computadores, os investidores compraram ações da Enron como água. Os papéis subiram 34% em apenas dois dias.

O serviço em si era tão viável que hoje virou um excelente negócio nas mãos de empresas como a Netflix. O problema é que, àquela época, a banda larga não era tão larga assim. Apesar de os executivos da Enron afirmarem que tudo havia sido testado e aprovado, o serviço se revelou um tremendo fracasso. Mesmo assim, no balanço do trimestre em que foi lançado, o novo serviço gerou um lucro de 53 milhões de dólares - graças às possibilidades de contabilidade criativa da “marcação a mercado”.

10- Negócios distantes

Quando as coisas são feitas longe dos olhos acionistas, fica quase impossível afirmar que algo não é o que parece. Foi com essa estratégia que a Enron contou diversas mentiras aos investidores sem ser descoberta. Apenas em um projeto na Índia, a companhia investiu 1 bilhão de dólares, algo bem pouco usual para o país asiático na década de 1990. A promessa era de ganhar muito dinheiro. O problema é que, na época, as empresas e a população local não tinham dinheiro para pagar pela energia o suficiente para tornar o investimento da Enron lucrativo. A unidade foi fechada e se tornou um elefante branco. Mesmo com a perda do capital investido, em balanços anteriores da Enron, os lucros futuros que seriam gerados pelo projeto foram “marcados a mercado” e inflaram os ganhos.

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