10 ações que atropelaram a crise
Lista mostra papéis bastante negociados na Bovespa que geram ganhos de mais de 25% neste ano aos investidores
Da Redação
Publicado em 17 de novembro de 2011 às 07h00.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 16h29.
São Paulo – Uma olhada superficial sobre os resultados da bolsa pode levar à falsa impressão de que 2011 foi mais um ano tenebroso para todo mundo que investe em ações. É verdade que, na média, o mercado acumula resultados muito ruins. A queda acumulada pelo Ibovespa neste ano supera 15%. Os investidores que souberam garimpar ações baratas ou que se protegeram com papéis de companhias que geram muito caixa, entretanto, não têm do que se queixar. Apenas dentro do índice IBrX, que reúne 100 ações bastante negociadas na Bovespa, há 10 papéis que acumularam ganhos de mais de 25% entre 1 de janeiro e 14 de novembro. As ações do banco PanAmericano lideram o ranking. Os papéis despencaram no final do ano passado, quando veio a público a notícia de que fraudes contábeis haviam gerado um rombo bilionário na instituição financeira. Com a decisão do apresentador Silvio Santos de vender o controle do banco ao BTG Pactual ao mesmo tempo em que o Fundo Garantidor de Crédito concordou em injetar recursos na instituição, era natural que os papéis se valorizassem. A alta acumulada neste ano alcança nada menos do que 75,3%.
O bilionário Eike Batista ficou bem mais pobre neste ano. A OGX, estrela de seu conglomerado, acumula baixa de 30,9%. Mas 2011 não foi um ano só de dissabores para o homem mais rico do Brasil. Enquanto as empresas que ainda terão de fazer pesado pela frente afundavam, a MPX colheu resultados alentadores. A empresa de energia conseguiu criar no mercado a expectativa de que em breve será uma sólida geradora de caixa. “Conforme os projetos de uma empresa pré-operacional como a MPX vão se tornando mais factíveis, o mercado começa a olhar mais para as ações”, afirma William Castro Alves, analista da XP Investimentos. Ele lembra que a empresa iniciou o ano operando em linha com o desempenho do Ibovespa, mas os resultados melhoraram à medida que notícias de aquisições e políticas de geração de caixa eram divulgadas. A empresa também conseguiu levantar o dinheiro para realizar investimentos nos próximos anos. Por meio uma operação de venda de debêntures (títulos de dívida privada), a MPX levantou 1,37 bilhão de reais.
O ano de 2010 não foi bom para a Cielo e a Redecard. As duas empresas do setor de cartões tiveram de enfrentar pela primeira vez a concorrência uma da outra e de outras companhias que entraram nesse mercado. Até então, a Cielo era a única responsável pelas transações com cartões Visa no Brasil enquanto a Redecard, na prática, detinha o monopólio da Mastercard. O mercado enxergou o risco de queda das (altíssimas) margens de lucro das duas empresas com o aumento da concorrência e puniu os papéis em 2010. Mas ano novo, vida nova. Com os preços já bem mais convidativos, as ações da Cielo e da Redecard voltaram a ser olhadas com carinho pelos investidores. É verdade que as taxas médias cobradas por transação com cartão caíram e as despesas com marketing inicialmente subiram, mas logo em seguida se estabilizaram em um ponto que ainda garantia margens de lucro gordas às companhias. A entrada de empresas como o Santander no segmento ocorreu de maneira pouca agressiva e também favoreceu as empresas já estabelecidas. O crescimento da economia brasileira, a maior bancarização da população e a praticidade do uso dos cartões foram mais do que suficientes para garantir o crescimento de lucros e receitas. Nesse cenário, as ações da Redecard geraram ganhos de 57,4% enquanto Cielo valorizaram 54,1%.
A Hering apresentou na última década uma virada impressionante. A antiga confecção conhecida por suas camisetas brancas de malha conseguiu se consolidar como uma marca desejada entre a pujante classe média. Os preços de seus produtos são competitivos mesmo quando comparados aos de concorrentes agressivos. Com lojas pequenas e bonitas, a rede da empresa cresce ano a ano com um bem-sucedido modelo de franquias e se espalha pelo Brasil. Os resultados não param de surpreender os analistas de mercado. “Os números são fortes e vêm superando estimativas”, afirma Cauê Pinheiro, da corretora SLW. No balanço do terceiro trimestre, a empresa afirmou que o lucro líquido atingiu 63,7 milhões, alta de 63% ante o mesmo período de 2010. Boas surpresas naturalmente levam à reavaliação das cotações. As ações geram ganhos de 48% neste ano. Para Pinheiro, entretanto, o preço dos papéis já está bem próximo do justo. O analista tem recomendação de manutenção das ações da Hering – e não mais de compra.
O setor de telecomunicações tem apresentado um bom desempenho em bolsa ao redor do mundo devido à busca dos investidores por empresas com geração de caixa mais sólida e previsível. No caso da Telefônica Brasil, entretanto, a alta de 33,2% registrada pelas ações também é atribuída às provas de boa governança corporativa. A empresa finalizou neste ano o processo de incorporação da Vivo pela Telesp, que uniu os principais ativos do grupo espanhol no Brasil em uma única companhia. Havia no mercado o temor de que o processo pudesse tomar um rumo que beneficiasse bem mais os controladores da empresa do que os acionistas minoritários – assim como na fusão entre a Oi e a Brasil Telecom. Como a Telefônica surpreendeu positivamente, os investidores passaram a pagar um prêmio para ter os papéis em carteira. A valorização das ações já é a sexta maior do ano entre as empresas do IBrX.
Quem tem ações da Vale Fertilizantes não precisa se preocupar com possíveis calotes de dívidas soberanas de países europeus nem com outros dissabores do mercado. A empresa planeja fazer uma oferta pública de recompra de suas próprias ações que hoje circulam na Bovespa por um preço já definido de 25 reais por papel. Durante os últimos meses, as cotações da fabricante de fertilizantes se alinharam à proposta apresentada pelo controlador da companhia, o que garantiu um retorno de 30,8% para os investidores que compraram os papéis no começo deste ano. A Vale Fertilizantes, na verdade, é a antiga Fosfertil. A empresa foi comprada pela Vale em 2010 e mudou de nome. O leilão em que os minoritários poderão aderir à oferta pública de recompra está previsto para acontecer no dia 12 de dezembro.
Em um dado momento deste ano, ficou a impressão no mercado de que os conselheiros do Cade barrariam a compra da Sadia pela Perdigão, que deu origem à Brasil Foods. O órgão regulador se mostrava avesso a acordos e rejeitava as propostas que até então eram apresentadas pela empresa. Após muitas discussões, o martelo foi finalmente batido em termos não muito favoráveis à Brasil Foods, que terá de se desfazer de fábricas, marcas e cadeias produtivas inteiras para garantir a existência de concorrência em determinados segmentos do setor. Em troca, no entanto, a empresa ganhou o sinal verde para levar adiante a fusão e criar um gigante brasileiro de proteínas e alimentos industrializados. A demora na decisão do Cade serviu para que a empresa planejasse a integração em detalhes. A captura de sinergias tem ocorrido de forma rápida e garantido um forte aumento no lucro. No mercado, o resultado também é excelente: alta de 27,4% para as ações neste ano.
Outra empresa que só trouxe alegria aos investidores neste ano foi a TIM. As ações ordinárias da empresa geram ganhos de 26,2% em 2011. Assim como a Vivo, a companhia foi beneficiada pela procura mundial por ações de telefonia. Também pesou a migração de todos os papéis da TIM para o Novo Mercado, o mais alto nível de governança corporativa da Bovespa. “Tudo o que leva uma empresa para uma melhor governança corporativa é positivo”, afirma Alex Pardellas, analista do Banif. São os próprios resultados financeiros da empresa, entretanto, que mais agradaram os investidores. “A TIM vem crescendo em geração de caixa, faturamento e base de clientes”, destaca Pardellas. O balanço do terceiro trimestre apontou receita líquida de 4,4 bilhões de reais (alta de 18,9% ante o mesmo período de 2010) e uma base de 59,2 milhões de clientes (crescimento de 26,1%). Ou seja, a empresa não apenas parou de perder mercado para concorrentes como vinha acontecendo em anos anteriores como se destacou com uma agressiva política de preços para tirar clientes dos rivais.
O principal motivo para a alta de 26,2% nos papéis da Souza Cruz em 2011 é a característica do próprio papel, definido como defensivo. “Um período de crise, com mercado em baixa e expectativas de maior volatilidade, tende a promover uma ida dos investidores para papéis como este”, afirma Cauê Pinheiro, analista de investimentos da corretora SLW. Segundo ele, a ação é reconhecida no mercado por pagar dividendos relativamente bons e ser um papel de perfil mais conservador. "Ela é muito parecida com papéis do setor de energia elétrica nesse aspecto", afirma. A recomendação da SLW para as ações é de manutenção, com preço-alvo alvo estimado em 24,50 reais em 12 meses, o que representaria uma alta de 13,5% ante o fechamento do dia 14 de novembro.