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Títulos da Odebrecht desabam com favoritismo de Bolsonaro

Os títulos denominados em dólares com vencimento em 2025 e 2042 estão próximos da menor cotação em cinco meses

Odebrecht: credores temem que a construtora esteja ficando sem dinheiro para honrar suas obrigações (REUTERS/Rodrigo Paiva/Reuters)

Odebrecht: credores temem que a construtora esteja ficando sem dinheiro para honrar suas obrigações (REUTERS/Rodrigo Paiva/Reuters)

Karla Mamona

Karla Mamona

Publicado em 19 de outubro de 2018 às 15h02.

Última atualização em 19 de outubro de 2018 às 15h02.

(Bloomberg) -- Os detentores dos títulos da Odebrecht Engenharia e Construção estão ficando mais pessimistas sobre a perspectiva da empresa no próximo governo.

Os títulos denominados em dólares com vencimento em 2025 e 2042, que somam US$ 1,4 bilhão, caíram mais de 10 centavos de dólar no último mês e estão próximos da menor cotação em cinco meses, negociados a cerca de 25 por cento do valor de face.

Credores temem que a construtora esteja ficando sem dinheiro para honrar suas obrigações, diante da falta de novos projetos e do caixa mais magro.

O favoritismo de Jair Bolsonaro na eleição presidencial é o mais recente fator de preocupação. Analistas especulam que, dados os laços históricos da empresa com o PT e o envolvimento na Operação Lava Jato, é menos provável que o próximo presidente faça projetos com a Odebrecht.

“Alguns investidores podem pensar que, em um governo Jair Bolsonaro, ficará ainda mais difícil para a empresa conseguir contratos com o setor público”, disse Rafael Elias, responsável por pesquisa de crédito da Exotix na América Latina. Em maio, quando os títulos da Odebrecht eram negociados perto dos níveis atuais, Elias divulgou um relatório afirmando que o preço sugeria que uma reestruturação estava por vir.

A Odebrecht se recusou a comentar sobre sua situação financeira ou sobre o desempenho dos títulos.

A companhia, que tinha grau de investimento em 2016, não se recuperou desde que despontou no centro do esquema de corrupção revelado pela Lava Jato. A investigação começou há mais de quatro anos e se expandiu para outros países da América Latina, provocando a perda de contratos da Odebrecht no Peru e Colômbia, onde a atuação da empresa foi proibida após a descoberta de propinas em projetos de infraestrutura.

A Fitch Ratings prevê que a construtora do grupo continuará queimando caixa — a um ritmo de R$ 252 milhões neste ano e R$ 57 milhões no ano que vem. Em 2017, o fluxo de caixa livre foi negativo em R$ 1,7 bilhão. A agência de classificação de risco atribui nota CC à Odebrecht devido à sua “forte vulnerabilidade a estresse e liquidez fraca e incompatível com pagamentos futuros de principal e cupons”.

Outra preocupação é o atraso na venda da Braskem, na qual a Odebrecht detém participação de 38,3 por cento. A expectativa era que a venda gerasse caixa antes do final do ano — facilitando o pagamento de dívidas que vencem no curto prazo —, mas ainda está pendente. A Odebrecht precisa pagar quase US$ 22 milhões em juros no dia 25 de outubro, o que pode estar contribuindo para a volatilidade dos papéis.

Com menor liquidez e falta de novos projetos, a empresa atrasou um pagamento de R$ 500 milhões em abril, que conseguiu cobrir um mês depois, após a extensão de uma linha de crédito de R$ 2,6 bilhões junto ao Banco Bradesco e ao Itaú Unibanco Holding. O crédito foi concedido em troca de prioridade nos pagamentos e as ações da Braskem foram usadas como colateral.

A Odebrecht Finance, divisão offshore que emitiu os títulos, precisa pagar mais de US$ 150 milhões em juros no ano que vem e os títulos começam a vencer em 2020.

“Não estou preocupado com o próximo pagamento de cupom e acredito que conseguirão mais projetos nos próximos 12 meses, o que aliviará a pressão sobre os títulos”, disse Elias. “Mas no médio e longo prazo, acho que a sobrevivência da companhia ainda está em xeque.

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