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Por que tantas empresas estão fazendo ofertas de ações na bolsa

Das 12 ofertas de ações no 1º semestre, 10 foram subsequentes; saiba por que as empresas estão emitindo mais papéis

Aberturas de capital previstas foram adiadas na B3, com empresas ainda à espera da conclusão da reforma. (iStock/Getty Images)

Aberturas de capital previstas foram adiadas na B3, com empresas ainda à espera da conclusão da reforma. (iStock/Getty Images)

TL

Tais Laporta

Publicado em 24 de julho de 2019 às 08h00.

Última atualização em 30 de julho de 2019 às 13h25.

Enquanto apenas duas companhias abriram capital na bolsa paulista em 2019 – Centauro e Neoenergia –, o número de ofertas subsequentes (follow-ons) está aquecido. Foram cinco operações somente em junho, quando saiu metade das 10 ofertas do tipo no 1º semestre, segundo a B3. E a julgar pela movimentação de julho, os follow-ons devem continuar em alta. O que explica o fenômeno?

No follow-on, uma empresa que já fez IPO (abertura de capital) emite novas ações, aumentando sua base de acionistas. Quando o objetivo é captar recursos para o caixa da empresa, a oferta é primária. Na secundária, os sócios colocam à venda sua participação e embolsam os recursos. Na maior parte dos casos, o movimento representa a saída de um grande investidor.

As ofertas secundárias vêm ganhando mais adesão das estatais, que aproveitam para se desfazer de ativos em meio aos problemas fiscais do governo. Foi o caso da venda das ações da Petrobras detidas pela Caixa Econômica Federal, que levantou R$ 7,2 bilhões no mês passado. 

No começo deste mês, o Banco do Brasil vendeu os papéis no grupo ressegurador IRB Brasil, movimentando R$ 7,3 bilhões. Foi a maior oferta do ano, superando a da Petrobras. “É hora de as estatais aproveitarem o bom momento para fazer caixa”, explica o analista de ações da Genial Investimentos, Filipe Villegas.

Safra de ofertas em junho e julho

Se as empresas que planejam estrear na bolsa ainda estão com um pé atrás à espera da conclusão da reforma da Previdência, as companhias já listadas começaram a aproveitar a euforia do mercado para emitir mais papéis.

Na leva de follow-ons de junho, a empresa de sistemas Linx fez uma oferta primária para financiar sua expansão, de olho em um IPO na Nasdaq, a bolsa americana focada em tecnologia. Já a operadora de saúde NotreDame Intermédica fez sua segunda oferta de ações em seis meses, com demanda duas vezes maior que a oferta. O BTG Pactual Holding reduziu a participação no BTG com a oferta de ações.

Nem todas as ofertas foram exatamente um sucesso. Em seu follow-on, a elétrica CPFL Energia precificou as ações abaixo do piso da faixa indicativa, a R$ 27,50 por papel. Sua controladora, a chinesa State Grid, pagou um valor acima deste pela compra da empresa em leilão, há cerca de dois anos.

Para julho, são esperadas ainda ofertas da operadora de planos de saúde Hapvida, a construtora Tecnisa, a empresa de aluguel de veículos Movida, o Banco Inter e a elétrica Light. A venda da fatia da Petrobras na BR Distribuidora também está em andamento.

Ação cara ou carona no bull market?

Há motivos positivos e negativos para as companhias optarem por esse tipo de transação. O primeiro é aproveitar o bull market (tendência de valorização dos mercados) na cena local, uma oportunidade de captar recursos em um momento favorável. 

A empresa de aluguel de carros Localiza, por exemplo, fez uma oferta subsequente no início do ano e a operação foi vista pelo mercado como uma oportunidade para expandir os negócios. Desde então, as ações já subiram 30%. “A companhia sinalizou que havia um gap para crescimento”, explica Villegas.

O follow-on também pode ser um indício de que os sócios consideram a ação supervalorizada e pegam carona no otimismo do mercado para se desfazer dos papéis. Pode ser também que a empresa não esteja com uma situação financeira tão boa e aproveite para fazer caixa de forma mais barata, em vez de emitir títulos de dívida (debêntures) nos bancos.

Um follow-on mal planejado pode ser um tiro no pé da empresa. Pode dar a entender, nas entrelinhas, que as ações chegaram a um preço-limite. “As empresas que não souberem se comunicar com transparência podem acabar passando uma mensagem negativa para o investidor, o que pode resultar num movimento de baixa”, diz Villegas, da Genial.

Há gestores de fundos que fogem de todo tipo de ofertas secundárias. Henrique Bredda, do Alaska, já disse várias vezes em sua página no Twitter que não acredita neste tipo de operação. “Quando o dono vende as ações de sua própria companhia, fazemos junto”. O fundo, que tem as ações do Magazine Luiza em boa parte de sua carteira, zerou 100% da posição quando a empresa fez um follow-on do tipo, em 2017. Depois, voltou a comprar ações da companhia.

Forte demanda pelas ações

O apetite dos investidores pelos follow-ons do último mês foi forte, em grande parte bem superior à oferta. A das ações detidas pela Caixa na Petrobras superaram a oferta em duas vezes. 

Para Villegas, da Genial, em momentos mais neutros do mercado, esse número de ofertas poderia ser um sinal negativo, mas o rali da bolsa torna a operação mais interessante para novos entrantes.

“É uma janela de oportunidade para o investidor conseguir comprar uma ação com desconto, por um preço abaixo do negociado no momento”, considera o analista.

Para o acionista que já tem os papéis da companhia, um risco de ficar de fora do follow-on é quando a participação fica diluída pela entrada de novos investidores. “Se ele ficar de fora pode ter sua participação diminuída”, explica Villegas. Pela procura nos últimos tempos, o investidor parece bem atento a essas ofertas.

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