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Hegemonia do dólar é ameaçada por pandemia e retomada da China

Desempenho da potência asiática e fraqueza dos EUA reacendem debate sobre perda de terreno do dólar como moeda de reserva mundial

A moeda americana teve em seu pior desempenho desde 2017, enquanto o yuan chinês avançou (hudiemm/Getty Images)

A moeda americana teve em seu pior desempenho desde 2017, enquanto o yuan chinês avançou (hudiemm/Getty Images)

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Beatriz Quesada

Publicado em 9 de janeiro de 2021 às 07h00.

Última atualização em 11 de janeiro de 2021 às 15h36.

A rápida recuperação da China dos efeitos da pandemia reacendeu o contínuo debate sobre por quanto tempo o domínio de 50 anos do dólar nos mercados globais pode persistir.

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A dificuldade dos EUA de controlar o coronavírus e reativar a economia é um forte contraste com o país asiático, onde o crescimento foi retomado. Essa divergência -- que levou o dólar ao pior desempenho desde 2017, enquanto o yuan avançou -- deu força à investida da China contra a hegemonia do dólar, com a migração de investidores para ativos onshore, uso do renminbi para o comércio e até uma nova aparência como moeda de reserva.

É fato que a perda de terreno do dólar como moeda de reserva mundial tem sido especulada e prevista há anos. Antes do yuan, o debate girava em torno do euro como sucessor do dólar. Nada, porém, conseguiu prejudicar as forças gêmeas que sustentam a supremacia do dólar: o papel dos EUA como motor de crescimento global e como primeira opção de refúgio para investidores durante crises.

Mas, recentemente, o coronavírus começou a corroer ambos os pilares tradicionais da moeda americana. Agora, é o yuan que se beneficia da demanda por desempenho econômico superior e por ativos protegidos das consequências da pandemia, trazendo as perspectivas de longo prazo da moeda de volta ao foco.

“O centro da economia mundial está mudando do Atlântico Norte, onde está há 500 anos, para o Pacífico”, disse Marc Chandler, estrategista-chefe de mercado da Bannockburn Global Forex. “Os mercados de câmbio vão refletir isso com o tempo”.

Força do yuan

É um fim um tanto irônico para a busca do presidente Donald Trump por um dólar mais fraco. Apesar de frequentemente criticar autoridades de Pequim por controlar a moeda chinesa com o objetivo de apoiar as exportações chinesas às custas dos EUA -- e lançar uma guerra comercial para pressionar o país asiático --, foi necessária uma pandemia para mudar a maré.

A China está colhendo os frutos. A segunda maior economia do mundo está a caminho de tomar o lugar dos EUA como o maior motor de crescimento em 2028, cinco anos antes do esperado há apenas um ano, devido ao melhor combate à pandemia, disse o Centro de Pesquisa Econômica e Empresarial no mês passado.

Embora o PIB dos EUA deva se recuperar em 2021 com expansão de 3,9%, a China pode fechar o ano com crescimento acima de 8%. E o banco central chinês estuda apertar a política monetária -- em forte contraste com a promessa do Federal Reserve de manter as medidas acomodatícias, o que ajudou a derrubar o dólar.

Na verdade, alguns veem que o próprio sucesso econômico da China -- especialmente ao se tornar um eixo da cadeia de abastecimento global -- reforçará a tendência de taxas de juros baixas em outros países e aumentará a divergência.

“Os EUA e outros países continuam dependentes da cadeia de suprimentos chinesa para controlar a pandemia enquanto as vacinas são distribuídas”, disse Ben Emons, diretor-gerente de estratégia macro da Medley Global Advisors. Essa vantagem é o que “mantém os bancos centrais do G10 (grupo que reúne onze dos países mais ricos do mundo) altamente acomodatícios”.

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