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Quem são os investidores que estão conseguindo driblar a inflação

Cerca de 87% das empresas listadas no S&P 500 que divulgaram resultados em julho mencionaram a inflação nas teleconferências na semana passada

Os americanos preocupados com o aumento do custo de vida arrastaram um indicador de sentimento do consumidor para abaixo de todas as previsões dos analistas neste mês (Brendan Mcdermid/Reuters)

Os americanos preocupados com o aumento do custo de vida arrastaram um indicador de sentimento do consumidor para abaixo de todas as previsões dos analistas neste mês (Brendan Mcdermid/Reuters)

Karla Mamona

Karla Mamona

Publicado em 27 de julho de 2021 às 16h05.

Está em toda parte. A preocupação de que a inflação esteja prestes a destruir a economia está na Casa Branca, nos preços ao consumidor, nas previsões de balanços. Porém há dois lugares que são exceções: as ações e os títulos nos EUA, onde os investidores levaram a sério o mantra de impacto inflacionário “transitório” de Jerome Powell , presidente do Fed.

A inflação implícita - um indicador das expectativas de inflação do mercado de títulos - mal se moveu em um mês, mesmo depois da divulgação de um índice de preços mais salgado em mais de uma década. Enquanto isso, os gigantes da tecnologia - considerados vulneráveis a um aumento nas pressões de preços - ofuscaram as ações cíclicas, que normalmente se saem melhor em um ambiente inflacionário.

A temporada de balanços já começou. Aprenda a ler os resultados das empresas

A diferença destaca uma dinâmica que persiste desde que os lockdows da pandemia começaram, há 16 meses: dificuldades econômicas afetando as empresas em tempo real, enquanto os mercados permanecem calmos porque isso também passará. Até agora, tem sido uma estratégia vencedora para os investidores, que permaneceram firmes em meio à mais profunda recessão em gerações.

“É realmente um grande descolamento, que se torna mais aparente à medida que a temporada de lucros avança”, disse Seema Shah, estrategista-chefe global da Principal Global Investors.

O clima está longe de ser otimista fora dos mercados financeiros. Cerca de 87% das empresas listadas no S&P 500 que divulgaram resultados em julho mencionaram a inflação nas teleconferências na semana passada, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

Enquanto isso, os americanos preocupados com o aumento do custo de vida arrastaram um indicador de sentimento do consumidor para abaixo de todas as previsões dos analistas neste mês, e a Casa Branca está aparentemente mudando sua linguagem em torno da inflação para repelir ataques republicanos.

É um cenário totalmente diferente de apenas alguns meses atrás, quando uma combinação inebriante de taxas crescentes de vacinação somadas a estímulos elevaram as expectativas de inflação ao nível mais alto em quase uma década. Isso pesou nas ações de tecnologia por um período, com o Nasdaq 100 entrando brevemente no território de correção em março.

Aqui está o que os outros estão dizendo:

Peter Boockvar, diretor de investimentos no Bleakley Advisory Group: “A maioria das pessoas acha que é transitório ou pelo menos que o Fed está no controle. As duas coisas estão erradas, eu acho”, disse ele. “Se virmos mais alguns meses de inflação bem acima da tendência nos dados ao consumidor, elas ficarão preocupadas novamente. Há essa incrível indiferença em relação à inflação nos mercados e acho que em breve eles acordarão”

Michael O’Rourke, estrategista-chefe de mercado na JonesTrading: “A razão pela qual um indicador de mercado como inflação implícita não mostra os mesmos temores de inflação que consumidores e empresas é que, quando se trata de títulos do Tesouro, o Fed é o mercado”, disse ele. “É perigoso olhar para o mercado de títulos do Tesouro como um indicador de inflação e de confiança econômica precificados pelo mercado quando o Fed está comprando aproximadamente US$ 1 trilhão de Treasuries por ano e detém quase 20% da dívida em curso do país”

Embora a inflação tenha sido mais salgada e talvez mais persistente do que muitos economistas previram, grande parte do salto foi impulsionado pela reabertura de componentes adjacentes. O índice de preços ao consumidor em junho mostrou que veículos usados foram os responsáveis por mais de um terço da alta, de acordo com dados do Departamento do Trabalho.

Esses fatores ajudaram os investidores a considerar as pressões de preços como temporárias - um ponto que Powell vem martelando há meses. No entanto, empresas e consumidores não têm tanta facilidade em achar o mesmo. Empresas como a produtora de tintas e revestimentos PPG Industries, a Coca-Cola e a distribuidora de suprimentos industriais Fastenal já alertaram sobre custos mais altos, algumas semanas após o início da temporada de balanços do segundo trimestre.

Enquanto isso, o americano médio também está sentindo o aperto. O CPI saltou 5,4% em junho em relação ao ano anterior, enquanto o crescimento médio anual dos ganhos por hora atingiu 3,6%. Isso significa que os consumidores estão pagando mais, em média, enquanto seus aumentos salariais ficam para trás.

“É apenas uma função do tempo e da diferença entre como a Main Street pensa sobre isso e como o mercado pensa ”, disse Art Hogan, estrategista-chefe na National Securities. “O mercado realmente acredita que muito disso é transitório, e o consumidor provavelmente tem mais dificuldade em acreditar nisso.”

Mas a divisão entre complacência do mercado e preocupação corporativa pode durar pouco tempo, de acordo com Shah, da Principal Global. Se as pressões do lado da oferta que impactaram os custos dos insumos não diminuírem tão rapidamente quanto os investidores esperam, isso acabará pesando no desempenho do mercado, observou ela.

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