Abigail Johnson em uma de suas raras entrevistas (Getty Images/The Boston Globe)
Da Redação
Publicado em 16 de novembro de 2015 às 08h22.
São Paulo - Com uma fortuna estimada em 13,2 bilhões de dólares, Abigail Johnson é a única mulher na lista dos 20 maiores investidores dos Estados Unidos publicada pela revista Forbes, ocupando a 5ª posição.
Apesar de todo o dinheiro e das constantes menções em listas de mulheres mais influentes do mundo, aos 53 anos, Abby, como é conhecida, é tida como uma mulher reservada que concede raras entrevistas e trabalha até 12 horas por dia.
Filha mais velha de um bilionário, qualquer pequena exibição de ostentação não condiz com seu estilo. Descrita como modesta, discreta e pé no chão, ela não escreve com uma caneta de 500 dólares nem usa ternos ou vestidos de estilistas famosos.
Mas, por trás desta aparência está a presidente de um fundo de investimentos que administra mais de 2 trilhões de dólares em ativos.
A rainha do Fidelity
Em outubro de 2014, com seu rotineiro cabelo curto e óculos de grau, Abby recebeu o título de Chief Executive Officer (CEO) do segundo maior gestor de fundos dos Estados Unidos, o Fidelity Investiments.
Abby tomou o lugar de seu pai, Edward C. “Ned” Johnson III, no fundo que foi criado pelo seu avô em 1946.
Desde 2012, ela já tinha o cargo de presidente da companhia. O título de CEO era o última "pedra que faltava em sua coroa" para liderar de vez a empresa.
Apesar de ser uma Johnson, a sua nomeação foi pouco questionada ou atribuída ao seu sobrenome. “Ela fez por merecer, ela está pronta para o cargo”, diziam funcionários e diretores da companhia.
Início de carreira
Abby é a mais velha dentre os três filhos de Ned Johnson e desde cedo mostrou interesse pelos negócios da família. Depois de terminar o ensino médio e antes de iniciar a faculdade, ela aproveitou as férias de verão para trabalhar no Fidelity, atendendo ligações de clientes e organizando formulários.
“Eu queria saber como o mercado de trabalho realmente era e essa experiência me fez gostar muito de ser responsável por coisas realmente importantes para a vida das pessoas”, relatou Abby em entrevista à Forbes.
Abby voltou definitivamente para o Fidelity em 1988. Na época, com 26 anos e um diploma de MBA da Harvard Bussiness School, ela entrou como analista de ações.
O desenvolvimento
De 1988 a 1997, Abby trabalhou em seis diferentes fundos do Fidelity e se tornou um dos melhores gestores da companhia em 1995, com 25,2 % de retorno sobre o portfólio de 1,9 bilhões de dólares de um dos fundos do Fidelity.
Ela deixou a gestão de carteiras em 1997 e durante os 14 anos seguintes trabalhou em praticamente todas as áreas “chave” da empresa.
Funcionários afirmam que, nesta época, ela ganhou repeito por dominar a tecnologia e processos de gestão. “Ela era realmente impulsionada por coisas que outras pessoas achavam chatas e cansativas. Além disso, ela sempre teve um foco quase obsessivo sobre as necessidades dos clientes do Fidelity, mesmo quando a necessidade do cliente não era a melhor opção do ponto de vista do nosso fundo", relata Ronald O'Hanley, que foi presidente de Gestão de Ativos e Serviços Corporativos da Fidelity Investments, em entrevista.
De fala mansa e discreta, ela também ficou conhecida como um gerente de estilo colaborativo, incentivando debates e discussões, mais nos moldes de seu avô do que de seu pai.
Abby trabalhou durante toda a gravidez dos seus dois filhos e, em agosto de 2007 os funcionários começaram a notar algumas coisas estranhas.
Naquele ano, Abby perdeu muito peso e, de acordo com a revista Fortune, todo o seu cabelo caiu e ela passou a usar uma peruca. Entre os funcionários e na mídia acreditava-se que ela estava com câncer.
Tanto a companhia quanto Abby se recusaram a comentar o caso. Durante todo o período ela quase nunca perdia um dia de trabalho, enquanto executivos que entraram na mesma época que ela deixavam a empresa um por um.
Abby como CEO
Quando Abby finalmente assumiu a presidência do Fidelity ninguém tinha dúvidas de que a ela não havia simplesmente herdado o cargo de seu pai.
Neste um ano a frente da companhia ela parece, aos poucos, remodelar a empresa. Abby corta custos e altera unidades que perdem dinheiro, substituindo executivos com baixo rendimento - ações que seu pai não tomava.
Mas alguns executivos e analistas questionam se Abby tem a visão necessária para conduzir a empresa diante das mudanças do mercado.
Apesar do seu gigantesco tamanho e da fama de ser um fundo que escolhe ótimas ações, o Fidelity perdeu muitos clientes e uma grande parte do seu mercado nos últimos anos.
A maioria da clientela foi para fundos concorrentes, mas de investimentos passivos, que são fundos que investem na mesma carteira de um determinado índice com o objetivo de replicar seus resultados.
Neste caso, fundos como o Fidelity, que são ativos, costumam arriscar mais, apostando em algumas ações com o objetivo de superar os ganhos dos índices.
Desde 2006, investidores norte-americanos já retiraram cerca de 700 bilhões de dólares de fundos ativos, de acordo com a empresa de pesquisa de fundos Morningstar Inc.
Abby acredita que esse movimento de investidores em fundos passivos é apenas “moda” e acabará quando o desempenho dos fundos ativos melhorar, de acordo com matéria do Wall Street Journal.
Muitos analistas e executivos da indústria discordam. Críticos acreditam que Abby está focada demais no operacional e não tem coragem de correr grandes riscos como seu pai , que conseguiu transformar 5 bilhões de dólares em 2 trilhões de dólares em ativos em seus 37 anos à frente da empresa.
Abby é pressionada para transferir parte da estratégia do fundo para investimentos passivos, mudando o curso da empresa. Mas ela continua firme em sua posição e uma coisa todas concordam: com 27 anos de empresa, ninguém conhece melhor todos os aspectos e áreas do Fidelity que ela.