Novo patamar de preço intensificaria a já considerável pressão inflacionária na economia global | Foto: Regis Duvignau/Reuters (Regis Duvignau/Reuters)
Bloomberg
Publicado em 20 de janeiro de 2022 às 06h15.
A disparada da demanda, o menor receio em relação à variante Ômicron e a incapacidade da aliança Opep+ (Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados liderados pela Rússia) de aumentar a produção estão por trás de um surpreendente salto na cotação do petróleo.
O barril do tipo Brent, referência global, avançou 25% desde o final de novembro, para 88 dólares. Para muitos especialistas, a questão é quando — não se — o preço baterá nos três dígitos pela primeira vez desde 2014.
O Goldman Sachs informou esta semana que o barril deve atingir 100 dólares no terceiro trimestre devido ao consumo acima do esperado.
Esse patamar de preço intensificaria a já considerável pressão inflacionária na economia global e os problemas enfrentados por bancos centrais e governos para conter as expectativas.
Nesta quinta-feira, dia 20, será a vez de conhecer os resultados no quarto trimestre da americana Baker Hughes, uma das líderes globais em equipamentos para a indústria de óleo & gás e fornecedora para produtores de shale gas, o gás de xisto, nos Estados Unidos.
Os números saem pela manhã, antes da abertura do mercado, e investidores estarão atentos também à teleconferência às 10h30 (horário de Brasília) com executivos da companhia. Com as cotações acima de 80 dólares, a extração do shale gas volta a ser competitiva e isso pode ter impactos na formação global de preços.
Os cinco principais fatores para movimentação do barril são discutidos a seguir:
O preço do petróleo se recuperou da descoberta da variante ômicron no final de novembro, que fez lembrar a delta e derrubou o Brent para menos de 70 dólares.
A procura vem crescendo e cargas no mercado à vista são arrematadas com prêmios nitidamente mais elevados. Falta óleo diesel no mundo e até mesmo o querosene de aviação voltou com tudo graças à retomada das viagens aéreas de longa distância.
A não ser por grande surto de coronavírus na China (discutido abaixo) ou o surgimento de uma nova cepa assustadora, a demanda dificilmente se reverterá.
Os estoques globais de petróleo finalmente recuaram aos níveis anteriores à pandemia no início de janeiro, de acordo com a consultoria Kayrros. As quedas foram mais acentuadas na China e nos Estados Unidos, onde os estoques estão no menor patamar desde o final de 2018.
Oficialmente, a aliança entre a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e outras grandes nações produtoras, sob a liderança da Rússia, está restaurando a produção a um ritmo mensal de 400.000 barris diários. Na prática, não está nem perto disso.
Os países africanos da aliança não conseguem elevar a produção. A Opep somou apenas 90.000 barris diários em dezembro, uma vez que a maior oferta da Arábia Saudita foi ofuscada por perdas na Líbia e Nigéria.
Problemas de abastecimento serão fator essencial na marcha do petróleo para a marca de 100 dólares.
A produção de petróleo dos Estados Unidos está aumentando, mas não o suficiente para conter a escalada dos preços. A oferta vinda da Bacia do Permiano – área com reservas de gás de xisto (o shale gas) que abrange os estados do Texas e do Novo México -- bateu recorde em dezembro, mas o custo fixo mais alto em outras áreas e problemas nas cadeias de suprimentos até agora impedem a aceleração da atividade.
A estratégia do governo chinês de tolerância zero com a Covid — impondo rigorosas medidas de lockdown em cidades inteiras — evitou um surto mais amplo e uma queda significativa na demanda no país que é o maior importador mundial de petróleo.
No entanto, a China se prepara para o feriado prolongado do Ano Novo Lunar e da Olimpíada de Inverno. Infecções pela variante Ômicron já foram relatadas em Pequim, Xangai e Shenzhen. Para a Eurasia Group, o potencial fracasso da estratégia chinesa contra a pandemia é o maior risco político de 2022.
Dificilmente o governo conseguirá controlar essa variante altamente transmissível da mesma forma que estancou surtos anteriores e parece já recuar na estratégia Covid Zero. O impacto de uma grande onda de contágio sobre o crescimento econômico e a demanda por energia na China talvez seja o fator menos previsível para a cotação do petróleo nos próximos dois meses.