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País tem grau especulativo com perspectiva negativa, diz S&P

Para Regina Nunes, mais grave que a perda do selo de bom pagador foi o Brasil ter se mantido no campo da perspectiva negativa


	Standard and Poor's: para Regina Nunes, mais grave que a perda do selo de bom pagador foi o Brasil ter se mantido no campo da perspectiva negativa
 (Eric Piermont/AFP)

Standard and Poor's: para Regina Nunes, mais grave que a perda do selo de bom pagador foi o Brasil ter se mantido no campo da perspectiva negativa (Eric Piermont/AFP)

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Da Redação

Publicado em 23 de novembro de 2015 às 12h28.

Rio - O Brasil mudou de patamar ao incluir 40 milhões de pessoas em seu mercado consumidor nos últimos anos, mas o modelo contracíclico adotado parou de funcionar em 2013 e passou a ter impacto na área fiscal, afirmou nesta segunda-feira, 23, a representante da Standard & Poor's no Brasil, Regina Nunes, em seminário no Rio de Janeiro.

"Não acredito que ninguém aqui tenha dúvida de que o Brasil mudou de patamar. Hoje o Brasil tem metade de sua população incluída em um setor que a gente classifica como consumo", disse.

Apesar disso, as falhas na política anticíclica adotada durante a crise global começou a afetar o lado fiscal do País perto de 2013 e acabou levando o País a ter sua classificação de risco pela agência posta em perspectiva negativa em 2014 e, recentemente, à perda do grau de investimento.

Para Regina Nunes, mais grave que a perda do selo de bom pagador foi o Brasil ter se mantido no campo da perspectiva negativa.

A executiva preferiu não falar em prazos para uma reavaliação do rating do País. Segundo ela, não basta fazer o ajuste fiscal e a S&P enxerga indicadores se deteriorando no País que não estão sendo corrigidos.

Regina Nunes mencionou o que a S&P considera como pontos fracos da economia brasileira e afirmou que é preciso realizar reformas para que o País volte a um crescimento sustentável e a um ciclo virtuoso.

Entre outras coisas, ela mencionou a necessidade de um declínio ou alongamento do endividamento público com juros menores, para que não haja prejuízo fiscal.

Na lista de pontos fracos da economia brasileira, a S&P lista uma dívida relativamente alta do governo com necessidades de refinanciamento, uma taxa de juros extremamente elevada, uma grande demanda por investimentos para melhorar sua infraestrutura e impedimentos estruturais como o arcabouço jurídico e impostos muito altos e complexos.

"Os impostos no Brasil têm endereçamento fixo, o que cria um enrijecimento que não é necessário", disse a uma plateia de empresários.

A representante da S&P chamou atenção para o setor financeiro do País.

Apesar de afirmar que o sistema é forte e sólido, a executiva destacou que ele está intrinsecamente ligado ao desempenho do País e que pode ser afetado principalmente quando a deterioração econômica traz impacto ao trabalhador, o que pode bater no sistema de crédito.

"A âncora negativa tem impacto em todos os bancos", disse ela. Para Regina, 2015 ainda tem tempo para mudar "para melhor e para pior".

A expectativa da S&P estima uma contração de 2,5% do PIB brasileiro em 2015 e 0,5% em 2016.

Ajustes e riscos

A representante da Standard & Poor's no Brasil afirmou que os momentos de ajuste impõem maior risco ao País, mesmo que as medidas sejam consideradas positivas.

"Momentos de ajuste impõem maior risco, mesmo que sejam ajustes positivos", afirmou Regina. "O importante é como você faz esse ajuste e com que consciência você faz esse ajuste", completou.

Segundo Regina, quebra de contratos, leis e sistemas trazem insegurança. "Você pode mudar, mas você só pode mudar através de um processo que seja feito nas leis daquele país", disse ela.

No entanto, a representante da S&P declarou que é preciso que as mudanças sejam feitas com rapidez, que as decisões sejam tomadas com rapidez, para evitar que sustos externos tragam volatilidade à economia do País. "Quanto menos vulnerável, menos volátil", definiu.

Segundo Regina, ser volátil é não ter ferramentas o suficiente para controlar os seus problemas.

A representante defendeu que não ser vulnerável é ter ferramentas para brigar com os problemas de terceiros e, acima de tudo, começar a resolver os seus próprios problemas. "Ninguém consegue resolver tudo de uma vez", declarou.

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