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O que é 'carry trade'? Entenda a operação por trás das quedas do mercado nesta segunda-feira

Em dia de aversão ao risco, investidores se desfazem da operação no Japão, o que ajuda na depreciação do real

Iene: valorização da moeda faz investidores se desfazerem de operações de carry trade (Richard A. Brooks /AFP)

Iene: valorização da moeda faz investidores se desfazerem de operações de carry trade (Richard A. Brooks /AFP)

Rebecca Crepaldi
Rebecca Crepaldi

Repórter de finanças

Publicado em 5 de agosto de 2024 às 17h01.

O mercado do Japão é foco dos holofotes desta segunda-feira, 5, com os principais índices acionários amargando duras perdas. O índice Nikkei 225 fechou as negociações com recuo de 12,40%, maior queda em um dia desde 1987, enquanto o Topix recuou 12,23%. Com as quedas foi acionado o circuit breaker, mecanismo de segurança em que as negociações são interrompidas durante um período para evitar maiores prejuízos aos investidores.

A forte onda de vendas nas bolsas asiáticas têm relação com o temor da recessão nos Estados Unidos, após dados econômicos mostrarem que o mercado de trabalho está se desacelerando mais do que o previsto. Como reflexo, as bolsas mundiais caem em peso nesta segunda-feira, incluindo a do Brasil. Entretanto, há um outro fator que prejudica o mercado local e colabora para a depreciação do real diretamente: as operações de carry trade.

O carry trade é uma operação que visa lucrar com a diferença de taxas de juros entre dois países, é o que explica Eduardo Marocke, head de fundos e previdência na Faz Capital. Ou seja, um investidor toma um empréstimo em um país cujas taxas de juros são baixas, e utiliza o capital para investir em outro país que oferece uma taxa de juros mais elevada - e é exatamente aqui que Brasil e Japão se relacionam.

Alta do iene

Até 31 de julho deste ano, era possível tomar dinheiro emprestado no Japão a um custo muito baixo, variando entre 0% e 0,1% ao ano, e investir em países com taxas de juros mais elevadas, como é o caso do Brasil, que tinha uma taxa de 13,75% ao ano até julho de 2023, depois reduzida para 10,50% ao ano.

O problema, no entanto, surgiu quando, em 31 de julho, o Banco Central do Japão (BoJ) elevou a taxa de juros para 0,25% ao ano, maior nível de juros desde 2008, ano da crise financeira mundial. Um dos motivos dos dirigentes do BC japonês elevarem os juros foi justamente a desvalorização do iene frente ao dólar, visto que a moeda local deixava o país em grande volume para ser aplicada em outros países. Além disso, o BoJ também realizou intervenções diretas no câmbio para apreciar a moeda.

"A súbita valorização da moeda japonesa, utilizada em financiamentos, impactou negativamente as operações de carry trade, devido ao aumento na taxa de juros provocado pela desancoragem”, afirma Cândido Piovesan, trader de renda variável da Nippur Finance.

Com investidores se desfazendo das posições de carry trade no Japão, o iene sobe fortemente em relação ao dólar nas últimas semanas. Nesta segunda-feira, às 16h29, o dólar caía a 143,76 ienes, uma diferença gritante com 4 de julho, quando o iene caiu para 161,96 por dólar pela primeira vez desde dezembro de 1986.

Em nota publicada em relatório, o estrategista-chefe de câmbio da Société Générale, destacou que o movimento impacta diretamente toda a economia global. “Você não pode desfazer o maior carry trade que o mundo já viu sem quebrar algumas cabeças. Essa é a impressão que os mercados nos dão esta manhã."

Como resultado da saída de recursos no Brasil para “retornar” ao Japão, o dólar chegou a atingir os R$ 5,826. Isso porque, como citado, o Brasil é um dos principais destinos para esse tipo de operação, pois possui uma das maiores taxas de juros reais do mundo. “Com muitos investidores deixando de aplicar recursos no Brasil, oriundos desses empréstimos tomados no Japão, ocorre uma diminuição do fluxo de capital estrangeiro, resultando no enfraquecimento do real em relação a outras moedas”, explica Marocke.

Segundo o especialista, investidores devem acompanhar atentamente a partir de agora o curso da inflação, já que o fortalecimento do dólar frente ao real pode gerar uma pressão inflacionária, dado que grande parte da economia tem seus custos de produção atrelados a moedas estrangeiras. “Se o cenário se agravar, poderá haver a necessidade de aumento das taxas de juros por parte do Banco Central no curto prazo”, finaliza.

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