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O pesadelo que tem tirado o sono de um dos maiores gestores do mercado brasileiro

Sócio-fundador da SPX, Rogério Xavier afirma que a China se tornou o principal risco do mercado mundial: "se o gestor errar a análise sobre a China, errou tudo"

Rogério Xavier, sócio-fundador da SPX: "eu pudesse der um conselho aos meus pares, diria que todos os olhos, pernas e braços precisam estar voltados para a China" (SPX/Divulgação)

Publicado em 29 de janeiro de 2024 às 13h34.

Última atualização em 2 de fevereiro de 2024 às 08h49.

O controle da inflação sem grandes danos econômicos tornou real o tão desejado (e improvável) pouso suave da economia americana. Após levar o juro para próximo do pico do século, o Federal Reserve já discute iniciar o ciclo de afrouxamento monetário, mesmo com o produto interno bruto (PIB) a 3,3% e baixos níveis de desemprego. "É o cenário que eu pediria a Deus. Ficar aplicado nas curvas de juros e com posição em bolsa seria o mais óbvio a se fazer nesse caso. É por aí mesmo. Mas se eu pudesse dar um conselho aos meus pares, diria que todos os olhos, pernas e braços precisam estar voltados para a China. É de lá que vem o maior risco do mundo", alertou Rogério Xavier, sócio-fundador da SPX, gestora com mais de R$ 60 bilhões em investimentos. O aviso foi feito durante evento do banco suíço UBS, que reuniu a nata do mercado financeiro em São Paulo nesta segunda-feira, 29.

Nenhum risco geopolítico ou econômico no mundo é maior do que a China neste momento, segundo o investidor, que é uma das maiores referências no mercado brasileiro. "O meu pesadelo é a China. Imagino acordar com a bolsa de Hong Kong caindo 10%. O gestor pode fazer tudo corretamente. Mas, se errar a análise sobre a China, errou tudo", diz Xavier.

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A preocupação, explicou, deriva do que ele chama de "sinais de esgotamento", como interferências diretas no mercado de ações, com injeção de dinheiro para estabilizar os níveis de preços e restrições à formação de posições vendidas.

"Países, assim como bancos, não quebram do dia para noite e a China parece estar trilhando o enredo da Rússia e Turquia. O endividamento das empresas chinesas é gigantesco", diz Xavier.

Xavier avalia que, nesse momento, a China deverá se concentrar em tentar arrumar os desafios da economia interna. "Mas é razoável esperar que, para reafirmar a condição interna, use estratégias externas. Por isso avalio que risco Taiwan é o maior de todos geopoliticamente. Mas não é algo para o curto prazo." No curto prazo, suas preocupações estão mais ligadas aos níveis de alavancagem, especialmente dos shadow banks. "Tem um monte de companhias na China que não são do setor financeiro, mas carregam uma monstruosidade de dívida em seus balanços. A questão é o quanto será de uma inadimplência massiva da China afetaria os mercados asiáticos."

O sócio-fundador da SPX não vê grande espaço para o céu se abrir na China. Pelo contrário. Para o gestor, o cenário tende a ficar ainda mais nebuloso para o país asiático, especialmente se o ex-presidente Donald Trump sair vitorioso das eleições presidenciais dos Estados Unidos. "Seria um risco adicional na pressão econômica da China."

Xavier não descarta a possibilidade de uma piora do cenário chinês provocar um efeito cascata sobre países que dependem da China como parceiro comercial. Um exemplo é o Brasil. "Pode haver impactos na moeda. Se o preços das commodities cair pelo enfraquecimento da China, não vai ter melhora nos termos de troca, o que pode desvalorizar as moedas desses países."

A principal proteção contra a China, segundo Xavier

A saída, em eventual deterioração da China, seria ficar aplicado nas taxas de juros de economias desenvolvidas. A posição é beneficiada pela aposta de que o juro seria mais baixo, o que poderia se tornar uma realidade com os preços de commodities mais baixo e por uma eventual busca por ativos defensivos. "Essa é a principal proteção contra uma piora da China."

Ciclo de cortes de juros

A aposta de Xavier, inclusive, é a de que os bancos centrais de países desenvolvidos poderão iniciar o ciclo de corte de juros antes do esperado por parte do mercado. Para o fundador da SPX, os cortes começarão em março nos Estados Unidos (Fed), Europa (BCE) e Reino Unido (BoE). "Se isso se confirmar, pode haver espaço para o Banco Central [do Brasil] intensificar os cortes de juros para 0,75 ponto percentual a partir de março. Se não ocorrer, acho difícil ajustarem o ritmo depois."

Pelas projeções da casa, o ciclo de cortes no Brasil deverá se estender até a taxa, hoje em 11,75%, ir para próximo de 8,5%. "Parece distante atingir 8,5%, com o BC mantendo o ritmo de cortes em 0,50 ponto percentual. O que falta para o BC acelerar é o início dos cortes de juros no exterior e a ancoragem das expectativas de inflação do Focus para mais próximo da meta deste e do próximo ano. Isso deverá ocorrer nas próximas semanas."

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