Mercados

Negociação de bitcoins prospera onde repressão é maior

As criptomoedas não dependem de bancos centrais, nem de instituições financeiras, e são negociadas em bolsas online e transferidas a qualquer lugar do mundo

Bitcoin: a demanda disparou na China e na Rússia (Benoit Tessier/Reuters)

Bitcoin: a demanda disparou na China e na Rússia (Benoit Tessier/Reuters)

Karla Mamona

Karla Mamona

Publicado em 14 de dezembro de 2017 às 16h10.

(Bloomberg) -- A negociação de bitcoin se expandiu mais rapidamente neste ano nos mercados emergentes do que nos desenvolvidos -- e com mais velocidade ainda nos lugares onde foi reprimida pelos governos. Onde quer que esteja, Satoshi Nakamoto está feliz.

Afinal, driblar a supervisão de bancos e governos e evitar os efeitos erosivos da inflação era tudo o que ele (ou ela, ou eles), Nakamoto, tinha em mente ao criar o bitcoin, em 2008.

As negociações "peer to peer" de bitcoins nos grandes países em desenvolvimento cresceram mais que nos EUA, o maior mercado do mundo, segundo dados da LocalBitcoins.

A demanda disparou na China e na Rússia, onde os bancos centrais frearam as transações nas bolsas locais; na Venezuela, onde as autoridades reprimiram o processamento de bitcoins apesar de a hiperinflação ter estimulado a demanda; e no Brasil e na Colômbia, onde os cidadãos ouviram alertas sombrios a respeito dos riscos das criptomoedas.

“O forte interesse dos países emergentes pode ser um reflexo das moedas locais relativamente menos estáveis ou um subproduto da exposição maior a crises financeiras e econômicas, que tornam um sistema alternativo como o bitcoin relativamente atraente”, disse Spencer Bogart, chefe de pesquisa da Blockchain Capital em São Francisco.

As criptomoedas não dependem de bancos centrais, nem de instituições financeiras, e são negociadas em bolsas on-line e transferidas a qualquer lugar do mundo, permitindo que os detentores driblem controles cambiais. Além disso, os criadores do bitcoin estabeleceram um limite para a quantidade de moedas que poderiam ser criadas para evitar a inflação gerada pela impressão de dinheiro pelos bancos centrais.

Na China, onde os órgãos reguladores fecharam as plataformas de negociação locais, as negociações P2P aumentaram mais de 2.000 por cento em dólares neste ano. Na Rússia, onde o presidente Vladimir Putin alertou que o uso de moedas digitais gera “riscos sérios”, as transações subiram quase 200 por cento. No mesmo período, cresceram cerca de 20 por cento nos EUA.

O bitcoin desembarcou em Wall Street nesta semana com o lançamento de futuros na bolsa da Cboe Global Markets, já que a disparada de 1.700 por cento da criptomoeda mais popular do mundo neste ano cativou a todos, de pequenos especuladores a empresas de trading. Contratos futuros similares começarão a ser negociados em 17 de dezembro na bolsa da CME.

A demanda maior gerou discrepâncias nos preços. Um bitcoin na NairaEx, uma bolsa local nigeriana, custava 7.230.098 nairas em 12 de dezembro. Convertida para dólares, a criptomoeda estava mais de 15 por cento mais cara do que um bitcoin vendido nos EUA.

Os preços também se mostraram maiores nas bolsas locais da Rússia e da Argentina do que nos EUA, e mais baratas na Colômbia, em Cingapura e no Brasil.

No mês passado, o Banco Central do Brasil afirmou em comunicado que as moedas “não são emitidas nem garantidas por qualquer autoridade monetária”, e por isso “não têm garantia de conversão para moedas soberanas, e tampouco são lastreadas em ativo real de qualquer espécie, ficando todo o risco com os detentores.” A negociação P2P na maior economia da América Latina subiu 450 por cento neste ano.

 

Acompanhe tudo sobre:BitcoinChinaCriptomoedasRússia

Mais de Mercados

Dólar fecha em queda de 0,84% a R$ 6,0721 com atuação do BC e pacote fiscal

Entenda como funcionam os leilões do Banco Central no mercado de câmbio

Novo Nordisk cai 20% após resultado decepcionante em teste de medicamento contra obesidade

Após vender US$ 3 bilhões, segundo leilão do Banco Central é cancelado