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"Não faz sentido correr risco com esse nível de juros", diz maior fundo de pensão do Nordeste

Kepler Dias, gerente de investimentos da Fachesf, diz ter zerado participação em ações e multimercados em alguns dos fundos da instituição

Kepler Dias, gerente de investimentos da Fachesf (Epinne/Divulgação)

Kepler Dias, gerente de investimentos da Fachesf (Epinne/Divulgação)

Publicado em 28 de julho de 2024 às 10h34.

Última atualização em 28 de julho de 2024 às 11h58.

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RECIFE (Pernambuco)* - Os resgates de fundos multimercados somam R$ 350 bilhões desde 2022, segundo dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais). A quantidade representa 21% de toda a classe de fundos. Parte dessa saída é reflexo da busca por maior segurança de um dos maiores alocadores da indústria, os fundos de pensão. Na Fachesf, maior fundo de pensão do Norte e Nordeste, com R$ 8,8 bilhões sob gestão, metade dos produtos da casa estão praticamente zerados em multimercados e em ações.

"Não há por que correr risco com o atual nível de juros", afirma Kepler Dias, gerente de investimentos da Fachesf, em entrevista à EXAME Invest. O fundo gerencia as aposentadorias dos funcionários da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (CHESF), uma das subsidiárias da Eletrobras.

Dias conta que a redução do risco foi feita especialmente nos fundos em que o benefício a ser pago na aposentadoria já é definido previamente. Para garanti-lo, a Fachesf precisa atingir metas atuariais de IPCA + 4,5% e 4,91% ao ano. Atualmente, os títulos do governo atrelados à inflação, as NTN-B, estão pagando pouco mais de IPCA + 6%, o que garante com folga a rentabilidade necessária. Somente de janeiro para cá, a saída da Fachesf em renda variável foi próxima de R$ 400 milhões.

Dada a alta rentabilidade dos títulos, nesses fundos de benefício definido, 70% dos recursos foram aplicados em NTN-B de prazos mais longos, garantindo o retorno futuro dos trabalhadores que ainda estão na ativa. Os 30% que necessitam de maior liquidez foram aplicados em títulos que rendem o CDI.

"O CDI hoje está em 10,5%, o que também me gera um retorno próximo de IPCA + 6%. Para adicionar risco na carteira, a inflação precisaria subir significativamente", explica Dias. Nesse caso, afirma, valeria a pena entrar em fundos de crédito privado, que podem garantir um retorno próximo de CDI + 2% com alguma segurança. Para buscar um alfa acima do CDI, a Fachesf fez uma pequena compra de crédito privado. Ainda assim, só o retorno do CDI pode ser suficiente para garantir o retorno desejado, dado que, pelo menos até 2026, o consenso do mercado aponta para um juro real acima de 5%.

Na Fachesf, assim como na maioria dos fundos de pensão, apenas a compra de títulos públicos é feita diretamente, enquanto os investimentos em crédito privado, ações e outros ativos são feitos por meio de fundos especializados. "O crédito privado hoje está muito atrativo, tanto que é a classe de ativo que mais tem captado. Inclusive, um dos nossos fundos, que é gerido pela JGP, foi fechado para captação." A entrada líquida em fundos de renda fixa foi de R$ 192,5 bilhões somente no primeiro semestre. O recorde para um ano inteiro foi registrado em 2022, com a entrada de R$ 240 bilhões em renda fixa.

Segurança x risco

A estratégia é diferente da empregada nos fundos em que o benefício dos contribuintes não é previamente definido. "Nesses, buscamos maior risco, porque a ideia é o aumento de capital." Nesses fundos, cerca de 10% é reservado para alocações em fundos de ações, 3% no exterior, e 6% entre multimercados e fundos de participações, que podem investir em empresas fechadas, por exemplo.

Na avaliação de Dias, há uma tendência de os fundos multimercados apresentarem bons desempenhos no curto e médio prazo, dada a expectativa de corte de juros nos Estados Unidos e no Brasil. No mercado americano, a aposta do mercado é de que o Federal Reserve dará início ao ciclo de queda a partir da reunião de setembro, enquanto espera-se que, até o fim do ano que vem, o BC brasileiro corte os juros, hoje em 10,5%, para 9,5%.

"Os fundos multimercados costumam ter uma boa performance em períodos de fechamento das curvas de juros. Acredito que esse é o momento ideal para entrar nesses fundos. Mas, dado o nível de juros, é difícil que os fundos de pensão façam esse movimento agora", diz Kepler Dias.

*O repórter viajou a convite do EPINNE – EPB 2024

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