Fed: Mercado tem debatido se o Fed estaria errando no cálculo sobre quanto pode apertar sem causar problemas (Samuel Corum/Bloomberg)
Agência de notícias
Publicado em 4 de janeiro de 2024 às 10h43.
O Federal Reserve (Fed, banco central americano) tenta encontrar o momento certo para começar a deliberar sobre como vai encerrar o processo de redução de seu balanço, um sinal de que o fim pode estar mais próximo do que esperado.
Na ata da reunião do mês passado do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc), várias autoridades sugeriram que seria apropriado começar a discutir os fatores técnicos que determinariam quando o banco central dos EUA desaceleraria o ritmo de liquidação de seu balanço, o chamado aperto quantitativo (QT, na sigla em inglês).
Os participantes observaram que os planos do Fomc indicavam uma desaceleração e em seguida uma suspensão da redução quando os saldos estivessem “um pouco acima do nível considerado consistente com amplas reservas”.
Nos últimos meses, o mercado tem debatido se o Fed estaria errando no cálculo sobre quanto pode apertar sem causar problemas em segmentos como no mercado para acordos de recompra overnight, um veículo essencial do sistema financeiro.
Embora as reservas bancárias – atualmente em US$ 3,48 trilhões – estejam bem acima dos níveis vistos quando o Fed começou a reduzir seu balanço em 2022, existe a preocupação de que o volume não seja tão abundante quanto as autoridades acreditam. Em 2019, as autoridades monetárias aprenderam uma lição quando uma taxa de mercado overnight diferente multiplicou por cinco, para 10%, e o banco central foi obrigado a intervir.
“Como se costuma dizer, todos têm um plano até serem atingidos”, disse Blake Gwinn, chefe de estratégia de juros dos EUA na RBC Capital Markets, segundo o qual o Fed vai encerrar o QT em meados de 2024. “Na última rodada, eles foram ‘atingidos’ pela explosão dos acordos de recompra em setembro de 2019 e imediatamente reverteram o curso”, disse Gwinn.
Durante mais de 18 meses, o Fed tem permitido que até US$ 60 bilhões em Treasuries e até US$ 35 bilhões em títulos de dívida de agências vençam todos os meses.
A última vez que o banco central tentou suspender a redução do seu balanço, em 2019, apenas permitiu o vencimento de US$ 30 bilhões em títulos do Tesouro e US$ 20 bilhões em dívidas de agências – quase metade do plano atual. Em maio daquele ano, o Fed reduziu o limite máximo de reinvestimento em Treasuries para US$ 15 bilhões, antes de eliminar totalmente o teto em agosto, ao mesmo tempo que continuava a permitir o vencimento de suas posições em títulos garantidos por hipotecas.
Recentemente, após cerca de quatro anos de negociações ordenadas – com bancos e gestoras de fundos garantindo o financiamento no final de cada mês, trimestre e ano – a volatilidade subiu novamente. As oscilações nas taxas de recompra levaram um índice de referência a um recorde na semana passada, enquanto o mercado de empréstimos de curto prazo garantidos por Treasuries flutuou.
No entanto, a turbulência recente foi mais amena do que há quatro anos e não exigiu qualquer intervenção. Ainda assim, os últimos eventos lançam luz sobre o equilíbrio cada vez mais delicado entre o Fed, bancos e outras instituições que ajudam o mercado de financiamento overnight a funcionar adequadamente.
A volatilidade nos mercados de financiamento de curto prazo pode prejudicar a capacidade dos bancos centrais de administrar a política monetária. A disfunção no financiamento também representa riscos para a economia em geral, ao pressionar potencialmente os juros para o governo e além – quando a taxa de referência nos EUA já se encontra nas máximas das últimas duas décadas.
“O Fed é como um olheiro: eles sempre querem estar preparados”, disse Gennadiy Goldberg, chefe de estratégia de juros dos EUA na TD Securities. “Por um lado, a preparação antecipada para encerrar o QT é uma coisa boa. Por outro, têm de descobrir como fazê-lo sem sinalizar aos mercados que o fim do QT está próximo”, acrescentou.