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"Mercado precifica cenário de quase crise fiscal no Brasil, que não é verdade", diz Mansueto Almeida

Economista-chefe do BTG Pactual defende que os fundamentos da economia brasileira tiveram melhoras significativas

Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG: "o Brasil melhorou muito" (Leandro Fonseca/Exame)

Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG: "o Brasil melhorou muito" (Leandro Fonseca/Exame)

Guilherme Guilherme
Guilherme Guilherme

Repórter de Invest

Publicado em 25 de julho de 2024 às 13h41.

Última atualização em 25 de julho de 2024 às 14h03.

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RECIFE (Pernambuco)* Cotado próximo de R$ 5,63 nesta quinta-feira, 25 o dólar acumula 16% de alta desde o início do ano. A valorização, no entanto, não reflete os reais fundamentos da economia brasileira, afirmou Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME), no Epinne EPB 2024, evento realizado para fundos de pensão em Recife.

"O mercado precifica um cenário de quase crise fiscal, que não é verdade", disse Almeida. O economista destacou que a grande preocupação é sobre o cumprimento da meta fiscal. Nesse sentido, ele observou melhorias significativas nas últimas semanas, com a ala política do governo dando maior sustentação aos planos fiscais dos ministérios da Fazenda e do Planejamento.

"Antes, a ala política não estava dando respaldo, então o mercado piorou. Ninguém esperava o dólar a R$ 5,60 há três meses e a curva de juros precificando uma alta de 1 p.p. até o fim do ano." Segundo Almeida, o governo entrou na "direção certa" ao anunciar o contingenciamento de R$ 15 bilhões no último Relatório Bimestral de Receitas e Despesas. O corte de gastos, no entanto, não deve ser suficiente para o cumprimento da meta fiscal, mas torna "mais clara" a intenção do governo em respeitar a meta.

"O Brasil melhorou muito"

Almeida avalia que "o Brasil melhorou muito" e que o câmbio não reflete a realidade. Um dos argumentos que sustentam sua visão é a balança comercial, que no ano passado bateu recorde ao registrar um saldo positivo de US$ 100 bilhões, impulsionada pelas exportações de petróleo, que têm crescido com o aumento da produção do pré-sal.

"No momento da descoberta do pré-sal, estimava-se que a reserva seria de 5 bilhões de barris, mas constatou-se uma reserva de 14 bilhões. O Brasil se tornou exportador líquido de petróleo. Se alguém predissesse isso há 20 anos, o chamariam de louco", disse Almeida.

Para este ano, Almeida projeta uma balança comercial um pouco mais baixa, próxima de US$ 95 bilhões, devido aos efeitos do El Niño na produção agrícola. "O crescimento da balança comercial é estrutural e o saldo deve continuar aumentando até 2030."

A projeção é que até lá a produção de petróleo do pré-sal atinja seu pico, mas ainda há a possibilidade de exploração da Margem Equatorial, que poderia colocar a Petrobras em um novo ciclo de produção.

"As contas externas estão sólidas e o país fez reformas muito interessantes nos últimos anos", comentou Almeida. Uma dessas reformas foi o novo Marco do Saneamento, que resultou em uma série de investimentos no setor, como a privatização da Sabesp.

Inflação e perspectivas futuras

Almeida também mencionou que, embora a inflação projetada para este e os próximos anos esteja acima do centro da meta, os números esperados (4,05% para 2024; 3,9% para 2025 e 3,6% para 2026) representam uma melhora significativa em relação ao histórico inflacionário do país. "Se a inflação esperada pelo mercado se confirmar, será a menor em um período de quatro anos desde o Plano Real."

Segundo Almeida, para o mercado brasileiro melhorar, pode ser uma questão de tempo. O melhor cenário, avalia, seria o governo cumprir a meta fiscal e tornar mais claro quando a dívida do país começará a cair. Ele também prevê que o início dos cortes de juros nos Estados Unidos contribuirá para um ambiente mais favorável no mercado, com a expectativa de que esses cortes comecem em setembro.

*O repórter viajou a convite do EPINNE – EPB 2024

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