Mercado ignora aumento de IOF
Estrangeiros já encontram maneira de driblar o aumento e dólar cai mais uma vez
Da Redação
Publicado em 5 de outubro de 2010 às 18h45.
São Paulo - A decisão de aumentar o imposto cobrado nos investimentos estrangeiros em renda fixa no Brasil foi feita com um timing equivocado e dificilmente terá um efeito de longo prazo na entrada de recursos no país. Essa é a visão dos analistas consultados pelo Site EXAME no primeiro pregão realizado após a elevação do IOF de 2% para 4%. Após ceder 1%, o dólar comercial encerrou o dia ao menor nível desde setembro de 2008, negociado a 1,675 real.
Desta vez, ao contrário da elevação do IOF para 2% realizada em outubro do ano passado, os investimentos em bolsa e os diretos não foram afetados. "Acho que a medida é ineficiente, mas fico feliz que o mercado de ações não foi afetado", explica Will Landers, gestor de fundos para América Latina da Black Rock. "Eles sabem que terão mais IPOs vindo pela frente e talvez por isso não tenham elevado a taxa para as ações", sugere Nick Chamie, chefe de pesquisa para os mercados emergentes da RBC Capital Markets, em Toronto.
A avaliação de que o momento foi infeliz veio com o anúncio inesperado de que o Japão afrouxou ainda mais a sua política monetária ao reduzir o juro de 0,1% ao ano para uma faixa entre zero e 0,1%. "O timing foi ruim. O ministro escolheu justamente o dia em que, à noite, o Japão anunciou novas medidas de afrouxamento monetário. Todas as moedas emergentes se fortaleceram", avalia Landers.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, reconheceu hoje que a medida ainda não surtiu o efeito esperado. "Há remédios que não fazem efeitos no dia seguinte. Às vezes você começa a tomar um antibiótico e tem que tomar uma semana", disse ao citar a medida adotada pelo Japão e que teria o objetivo de desvalorizar o iene em relação ao dólar. Além disso, os investidores poderiam tentar driblar o imposto ao entrar no Brasil comprando ações e depois mudando os investimentos para renda fixa.
Efetividade
Apesar de ainda ser cedo para avaliar a medida sem um evento externo, a expectativa é de que o aumento seja ineficaz no longo prazo. "Avaliamos que o viés de valorização do real frente ao dólar é uma questão estrutural e por isso, o aumento da alíquota do IOF, como no passado recente, não reverterá o panorama predominante", aponta Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora, em relatório.
"Não acho que terá um forte impacto nos investidores estrangeiros. A perspectiva para o Brasil continua bastante forte e, dado ao fato de que a taxa subiu mais uma vez o impacto pode ser de curto prazo, mas no longo prazo os investidores continuam vendo o mercado brasileiro como atrativo", explica Nick Chamie. Segundo ele, em um contexto de juros quase zero no mundo desenvolvido, dólar bem fraco, fortes preços de commodities e crescimento econômico, há poucas razões para dizer que os investidores sairão do Brasil.
Chamie lembra ainda que o aumento da taxa poderá causar um efeito desagradável para o ministério da Fazenda. Ao aumentar os custos para o investidor estrangeiro, o Tesouro poderá precisar pagar juros mais elevados para compensar a perda de rendimento. Ainda assim, para a consultoria econômica MCM Consultores, "a rentabilidade das operações mais longas ainda é atraente e não deve afetar de maneira significativa a demanda pelos títulos mais longos do Tesouro Nacional", mostra relatório.
Guerra Cambial
Para Mauricio Rosal, economista-chefe para América Latina da Raymond James, países como os EUA, China e Alemanha, têm tido posições unilaterais fortes para defender os interesses internos. "A mudança global no nível dos juros após a crise se seguiu de um choque na economia real, o que trouxe respostas de política monetária. O que está acontecendo agora é que os países continuam a responder para atender as próprias demandas, e o interesse individual não coincide com o global", explica.
O economista defende o ataque aos problemas estruturais que ainda impedem uma queda mais acentuada da taxa básica de juros no Brasil, hoje em 10,75% ao ano. "A prioridade número 1 é conter o aumento contínuo nos gastos correntes", afirma.
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