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Lava Jato transforma ações brasileiras nas mais voláteis

Os investidores passaram por uma recessão, por uma eleição e pelo maior escândalo de corrupção da história do país


	Bovespa: as oscilações do Ibovespa impulsionaram a volatilidade neste ano para 26%
 (Paulo Fridman/Bloomberg)

Bovespa: as oscilações do Ibovespa impulsionaram a volatilidade neste ano para 26% (Paulo Fridman/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 30 de dezembro de 2014 às 13h51.

Nova York - As ações brasileiras estão encerrando o ano como as mais voláteis do mundo depois que os investidores passaram por uma recessão, por uma eleição e pelo maior escândalo de corrupção da história do país.

As oscilações do Ibovespa impulsionaram a volatilidade neste ano para 26 por cento, nível mais alto entre os 20 maiores mercados de ações monitorados pela Bloomberg.

Os altos e baixos, incluindo dois bear markets e um salto de 38 por cento no meio, foram mais extremos que em países como Nigéria e Israel.

A recessão do primeiro semestre e uma campanha presidencial disputada até o final, da qual Dilma Rousseff saiu reeleita, decepcionando investidores que haviam apostado que um novo governo impulsionaria o crescimento, aumentaram as oscilações no mercado acionário.

A confiança no Brasil tem sido ainda mais prejudicada porque uma queda das commodities reduziu as perspectivas para os exportadores, ao mesmo tempo em que as acusações de corrupção colocaram a gigante Petrobras no centro da maior investigação de corrupção e lavagem de dinheiro da história do país.

“Existe uma incerteza a respeito da direção da economia, sobre qual será o crescimento, e agora você tem essa queda do petróleo”, disse Paul Zemsky, chefe de estratégias multiativos da Voya Investment Management LLC, que gerencia US$ 213 bilhões, por telefone, de Nova York. “Há uma série de questões deixando os investidores temerosos no Brasil. E ter um problema de corrupção certamente não ajuda”.

Os traders usam a volatilidade para determinar o risco de manter um determinado título porque ela mede a taxa pela qual os preços vão variam.

Em geral, uma volatilidade maior é associada a ativos de maior risco, porque indica que os preços podem oscilar drasticamente ao longo de um período curto de tempo.

Desaparecem os ganhos

O Ibovespa entrou em um bull market em 7 de maio, completando uma recuperação de 20 por cento em relação à mínima registrada em março, com a especulação de que Dilma perderia a eleição em meio ao pior desempenho econômico de um presidente brasileiro em duas décadas.

O índice começou a mudar de rumo após atingir, em 2 de setembro, a maior cotação em 19 meses, com a campanha de reeleição da presidente ganhando força antes da eleição, em outubro, e o Banco Central elevando as taxas de juros para conter a inflação.

As perdas do Ibovespa se aprofundaram em meio à ampliação da investigação de empresas construtoras que supostamente formaram um cartel para ganhar contratos, que incluem R$ 59 bilhões (US$ 22 bilhões) em trabalhos para a Petrobras.

A queda colocou o Ibovespa em um bear market em 12 de dezembro, levando sua volatilidade de 90 dias ao nível mais alto em três anos.

O Brasil tem quatro das ações mais voláteis entre as 500 maiores empresas do mundo, segundo dados compilados pela Bloomberg. A volatilidade de 90 dias do Banco do Brasil SA, do Banco Bradesco SA e do Itaú Unibanco Holding SA, os três maiores bancos do país em capitalização de mercado, saltou para mais de 58 por cento neste ano.

Investigação de corrupção

As oscilações da Petrobras, cujas ações estão sendo negociadas próximo à mínima registrada em uma década, mais que dobraram em 2014, para 86 por cento.

A produtora de petróleo com sede no Rio de Janeiro disse em 12 de dezembro que atrasaria a divulgação de seus resultados financeiros pela segunda vez, enquanto a investigação de corrupção continua.

A companhia disse ontem, em um fato relevante, que divulgará os resultados não auditados do terceiro trimestre em janeiro.

Além do inquérito da Petrobras, a queda de 46 por cento no preço do petróleo bruto neste ano intensificou as oscilações acionárias devido à preocupação de que o crescimento do país exportador de commodities será ainda mais lento.

A expansão da maior economia da América Latina provavelmente será menor que a média da região pelo quinto ano seguido em 2015, segundo analistas consultados pela Bloomberg.

As oscilações do Brasil foram três vezes maiores que as de Israel, onde o conflito com o Hamas prejudicou o turismo e a força do shekel freou as exportações.

A volatilidade do índice de referência das ações da Nigéria foi 9 pontos porcentuais mais baixa do que a do Ibovespa mesmo após a queda de 12 por cento do naira neste ano e o aumento dos ataques de militantes islâmicos.

“A entrada dos preços do petróleo no cenário adiciona muita volatilidade à perspectiva econômica para o Brasil”, disse Lu Yu, gerente financeira da Allianz Global Investors, que supervisiona US$ 511 bilhões em ativos, por telefone, de San Diego, EUA. “Considerando que a economia é tão dependente de commodities, a volatilidade permanecerá por um tempo”.

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