Mercados

Juro mais alto pode impulsionar ações brasileiras

Ibovespa pode encontrar espaço para subir com combate à inflação . Expectativa é de que ações de bancos privados sejam beneficiadas


	Bovespa: o Ibovespa, referencial do mercado acionário brasileiro, perdeu 7 % de seu valor neste ano.
 (Divulgação/Facebook/BM&FBovespa)

Bovespa: o Ibovespa, referencial do mercado acionário brasileiro, perdeu 7 % de seu valor neste ano. (Divulgação/Facebook/BM&FBovespa)

DR

Da Redação

Publicado em 20 de março de 2013 às 18h21.

São Paulo - Com a expectativa de aumento na taxa básica de juros do Brasil, as ações devem recuar nos próximos meses, na medida em que investidores migram para títulos mais rentáveis, certo? Não tenha tanta certeza.

Um ligeiro avanço na taxa Selic poderia na realidade impulsionar as ações, na avaliação de analistas, por reduzir preocupações com inflação e tranquilizar investidores que foram afugentados pela ameaça de crescente intervenção governamental no setor privado.

"Certamente isso não seria uma coisa negativa", disse Deiwes Rubira, sócio da gestora de recursos Verus em São Paulo, que citou também que tal ação ajudaria a reduzir as incertezas sobre o que muitos veem como a má gestão do governo sobre a economia.

O Ibovespa, referencial do mercado acionário brasileiro, perdeu 7 % de seu valor neste ano, frustrando projeções de analistas feitas apenas alguns meses atrás, de que um recuo da taxa básica Selic --atualmente no menor patamar da história, a 7,25 % ao ano-- ajudaria a impulsionar o mercado acionário local, por atrair para ações recursos antes alocados em ativos de renda fixa.

Mas a migração não aconteceu, disseram analistas, porque o impacto da redução dos juros foi ofuscado pela ansiedade deixada por pesadas intervenções do governo em setores como telecomunicações, concessões elétricas e bancos no ano passado.

Somando-se às preocupações dos investidores, os preços ao consumidor subiram neste início de 2013, levando a inflação acumulada em 12 meses a ficar próxima do teto de 6,5 % da meta oficial --um problema que o governo da presidente Dilma Rousseff tem tentado controlar com cortes de impostos, manutenção dos preços de combustíveis, ou qualquer coisa menos o aumento da taxa de juros.

"Tem havido uma ênfase em usar ferramentas micro para tratar de problemas macro e isso, por definição, cria distorções", disse Jorge Mariscal, chefe de investimentos para mercados emergentes do UBS. "Na medida em que nos afastarmos disso, eu acho que o Brasil vai gradualmente recuperar seu brilho." Sinais sugerem que isso pode acontecer nos próximos meses na medida em que o governo cede em sua determinação de manter os juros nas mínimas históricas --há muito tida como uma das principais realizações econômicas do governo Dilma.


O Banco Central retirou a expressão "por um período de tempo suficientemente prolongado" de sua última ata de política monetária, e Dilma tem repetidamente afirmado que a inflação seguirá sob controle.

Nem todos os setores serão beneficiados

O relatório Focus desta semana mostrou que os economistas ouvidos pelo Banco Central esperam que a Selic suba 1 ponto percentual para 8,25 % neste ano, com o ciclo de aperto sendo iniciado já em maio.

Já uma pesquisa da Reuters, divulgada na terça-feira, mostrou que o Ibovespa deve avançar cerca de 18 % em relação ao nível atual até o fim do ano, para 67.500 pontos.

As expectativas podem parecer controversas, considerando que ações em geral recuam quando os juros sobem. Normalmente, investimentos em renda fixa se tornam mais atraentes que ações e as expectativas de lucros corporativos recuam quando trazidas a valor presente. Mas a Bovespa pode ser um caso especial.

"Investidores poderiam ver isso (aumento dos juros) como um sinal de que o governo está tomando um caminho mais ortodoxo e, por isso, mais previsível", disse Alexandre Gartner, chefe de pesquisa de ações do HSBC no Brasil.

Gartner disse que os investidores poderiam se mostrar menos negativos em relação ao mercado acionário local, dando força para uma recuperação das ações brasileiras.

A visão positiva é compartilhada por analistas do JPMorgan Securities, que elevaram sua recomendação para as ações brasileiras para "neutro" em uma nota enviada a clientes neste mês, dizendo que "depois de um período prolongado de fracas políticas, o governo anunciou algumas políticas amigáveis ao mercado", o que poderia levar a uma rápida cobertura de posições vendidas.

Mas isso não quer dizer que todas as ações se beneficiarão.


Gilberto Nagai, chefe de ações brasileiras no Itaú Asset Management em São Paulo, disse que o impacto negativo de um aumento da taxa de juros em alguns setores, como imobiliário, poderia ofuscar qualquer melhora na confiança.

No entanto, analistas afirmam que outras empresas certamente se beneficiariam de um aumento nas taxas de juros. Os destaques seriam os bancos privados, como o Bradesco e o Santander Brasil.

No ano passado, a presidente Dilma publicamente responsabilizou os bancos por não reduzirem suas taxas de empréstimo com rapidez suficiente para acompanhar o declínio da Selic, ao mesmo tempo em que fez bancos estatais reduzir suas taxas de juros.

Analistas citaram condições mais favoráveis para os bancos em um cenário de Selic mais alta, no qual eles poderiam ganhar mais com títulos da dívida pública atrelados à Selic e enfrentar menor pressão do governo para reduzir seus spreads.

"As coisas mudaram para melhor", escreveu o analista Marcelo Telles, do Credit Suisse, em nota a clientes nesta semana, ao elevar a recomendação para Itaú Unibanco, maior banco privado do Brasil, para "outperform" (desempenho acima da média do mercado).

Acompanhe tudo sobre:EstatísticasIndicadores econômicosInflaçãoJurosSelic

Mais de Mercados

Petrobras cai até 3% com reação ao plano de compra de 40% de campo de petróleo na Namíbia

Ações da Heineken caem após perda de quase US$ 1 bilhão na China

Ibovespa fecha em queda nesta segunda-feira puxado por Petrobras

Entenda por que o mercado ficará de olho no Banco Central do Japão nesta semana

Mais na Exame