Operador Bolsa (Bloomberg News/Gianluca Colla)
Da Redação
Publicado em 17 de dezembro de 2015 às 05h08.
São Paulo – Empresas saindo da Bolsa, nenhuma chegando, investigações policiais, dólar em alta, empresas perdendo grau de investimento, noticiário político afastando investidores. Não faltou assunto em 2015 no mercado financeiro. Investidores se pergutam agora se haverá alguma trégua em 2016.
A percepção de bancos de investimento e analistas consultados por EXAME.com é de que o principal índice da bolsa brasileira, o Ibovespa, deve se manter entre os 51 e 54 mil pontos em 2016, uma valorização de até 19% sobre os números atuais.
Um "alívio", garantem analistas, pode vir no fim de 2016. “Primeiro é preciso resolver as questões que estão aí, o impasse político é o que mais pesa", explica Carlos Muller, analista-chefe da Geral Investimentos.
Impeachment
A visão geral entre os analistas é que a Bolsa deve se valorizar em um cenário de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Não é difícil prever isso, ultimamente toda vez que a palavra "impeachment" aparece no noticiário, a Bolsa sobe na confiança de que um novo presidente pode ter um maior apoio na aprovação de medidas econômicas essenciais para que o Brasil volte a crescer.
Um exemplo é o gráfico abaixo, que mostra a forte alta do Ibovespa no dia 03 de dezembro, quando o processo de impeachment contra Dilma foi aberto.
O problema é que o processo de impeachment pode demorar até sete meses e, neste período, a instabilidade no mercado ainda deve ser grande.
Outras "pedras no sapato"
Além do cenário político, a desaceleração da economia chinesa, que fez o preço das commodities despencar, deve continuar assombrando investidores.
Outro fator que deve impactar a Bolsa no próximo ano são as consequências de um ciclo de aumento dos juros norte-americano.
Ontem (16), o Federal Reserve (banco central americano) aumentou a taxa de juros do país em 0,25 ponto percentual. Foi o primeiro aumento desde 2006.
Com os juros altos, os Estados Unidos mostra que sua economia está sólida e faz com que recursos hoje investidos nos países emergentes deem "meia volta" em direção a terra do Tio Sam.
"A boa notícia é que a alta, diferente de outros tempos, deve ser mais gradual. O mercado espera que a próxima elevação de juros ocorra apenas em março ou talvez ainda mais tarde, em um reflexo da preocupação com a economia global", explica Julio Callegari, estrategista e head de renda fixa da J.P. Morgan Asset Management no Brasil.
“Que 2016 não será um ano fácil todo mundo sabe. É preciso olhar para 2017. Eu vejo mais motivos para a bolsa subir do que cair”, explica João Luiz Braga, co-gestor dos fundos de bolsa da XP Gestão.
EXAME.com conversou com analistas sobre setores e empresas com papéis negociados na BM&FBovespa e destaca a seguir os principais pontos para quem quer investir em ações em 2016.
Suzano, Fibria e Klabin são as empresas do Ibovespa que mais ganharam valor de mercado em 2015. Uma combinação de dólar elevado e aumentos no preço de papel e celulose foram os grandes responsáveis pela valorização dessas empresas. Especialistas são unânimes ao dizer que, em 2016, essas ações devem continuar se valorizando.
“Esses papéis continuarão subindo, mas grande parte da surpresa positiva com alta nos preços da celulose e o dólar, já foi precificada. O dólar já tem um espaço mais limitado para valorização. Então, as altas devem ser mais amenas”, afirma Luis Gustavo Pereira, estrategista da Guide Investimentos. Segundo estimativas, o dólar deve chegar até os 4,20 reais em 2016.
“A nossa melhor ação no setor é a Fibria (FIBR3), que oferece uma combinação de projetos de qualidade (aumentando sua capacidade em 33% em dois anos), geração de caixa sólido e um potencial para pagar até 1,1 bilhão de reais (4,5% de rendimento) em dividendos no próximo ano”, destaca o banco JP Morgan em relatório.
Papéis de planos de saúde, como Qualicorp (QUAL3) e Odontoprev (ODPV3), devem continuar sentindo os efeitos da desaceleração da economia.
Por outro lado, as varejistas de saúde Hypermarcas (HYPE3) e RaiaDrograsil (RADL3) são papéis bastante recomendados. Até o terceiro trimestre deste ano o setor farmacêutico movimentou 55,89 bilhões de reais no Brasil – um crescimento de 15% ante os mesmos meses de 2014.
“As pessoas não deixam de consumir produtos de saúde e higiene porque trata-se de cuidados básicos. Além disso, essas empresas têm muita oportunidade de crescimento ainda. O ticket médio por compra é baixo, os consumidores pagam à vista e as empresas desse setor são pouco endividadas”, explica Lenon Borges analista da Ativa Investimentos.
Diante de um cenário econômico ruim, as ações dos bancos sofrem. Muitas instituições perderam seu grau de investimento seguindo a perda do Brasil e com a expectativa de um aumento da inadimplência. Apesar disso, especialistas acreditam que os bancos continuarão tendo bons lucros.
As ações do Itaú Unibanco (ITUB4) são constantemente citadas por analistas. Apesar do ano difícil, o lucro do banco já subiu 20% neste ano.
BRF, Marfrig e JBS se beneficiaram com a alta do dólar por serem exportadoras. As ações continuam sendo boas apostas, mas analistas ressaltam as investigações que afetam o desempenho de duas delas.
Em outubro, a Marfrig foi alvo de mandados de busca pela Política Federal na Operação Acrônimo. Já a JBS teve seus papéis afetados pelas investigações em seus contratos com o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES).
Na área de bebidas, a Ambev (ABEV3) é um dos papéis queridinhos dos analistas. Os lucros da empresa cresceram 15% em 2015 e seu endividamento é pequeno.
Cosan (CSAN3) e São Matinho (SMTO3) são papéis bastante cotados para 2016. A demanda por etanol já cresceu 22% neste ano enquanto os consumidores fugiam dos altos gastos com gasolina. Há ainda a expectativa de que o governo aumento a Cide, imposto que afeta os preços da gasolina, mas não do Etanol. A Cosan ainda é exportadora de açúcar e se beneficia com a alta do produto nos mercados internacionais.
A visão é unânime entre os analistas de que os papéis dos setores de mineração e siderurgia continuarão enfrentando os obstáculos da desaceleração industrial, baixa no preço dos commodities e aumento do endividamento dessas empresas.
No caso da Vale ainda há as implicações com a Samarco, empresa controlada pela Vale e pela BHP Billiton, que pode trazer mais multas devido ao rompimento de sua barragem em Mariana (MG).
Construtoras e imobiliárias continuam em situação difícil. Com estoques elevados, elas devem continuar se livrando de ativos, vendendo imóveis a um preço mais baixo.
Mas alguns ainda veem no setor empresas interessantes. “A BR Malls (BRML3) é uma das nossas principais ações no mercado brasileiro dado seu potencial de valorização e margens acima da média (cerca de 80% de margem EBITDA)”, ressalta o banco JP Morgan.
“Na nossa visão, não existe uma solução única e rápida para reduzir a alavancagem financeira da empresa”, afirmam analistas do JP Morgan em relatório. A dívida da Petrobras subiu mais de 40% ao longo deste ano, com a desvalorização do real em relação à moeda americana.
De acordo com o presidente da estatal, Aldemir Bendine, a solução é aumentar o desinvestimento em 2016. Hoje a empresa vale cerca de 110 bilhões de reais na Bolsa, já o seu passivo é de cerca de 500 bilhões de reais.
Analistas acreditam que a petroleira deve continuar focada na venda de ativos para aliviar seu caixa enquanto seus acionistas ficam em segundo plano em 2016.
Analistas estão receosos em comentar sobre o BTG Pactual. Isso porque as investigações que envolvem o ex-presidente e maior acionista do banco, André Esteves, preso no último dia 25 de outubro, estão longe de acabar.
O mercado acredita, entretanto, que o banco foi rápido em tomar soluções e deve voltar a crescer. “A estratégia dos sócios é muito clara: tornar o banco mais líquido vendendo seus ativos. A estratégia deve continuar e a empresa deve se reinventar”, explica Luis Gustavo Pereira, estrategista-chefe da Guide Investimentos. “ O banco vai ficar menor. Mas ainda tem na força dos sócios o potencial de melhora. É uma empresa que cresceu muito rápido e pode novamente fazer esse crescimento”, completa Pereira.
Desde agosto até o pregão de 16 de dezembro, as ações preferenciais da Braskem (BRKM5) subiram 129%. A trégua das notícias da Operação Lava-Jato envolvendo suas controladoras, Petrobras e Odebrecht, explica parte da alta. Mas analistas apontam também resultados positivos e o fato da receita da companhia estar cada vez menos dependente do mercado doméstico. Segundo projeções da empresa, em 2016 no máximo 49% de suas deve vir do Brasil ante 52% deste ano e 57% em 2014.