Sexta-feira vermelha em Wall Street: inflação alta dos EUA derruba Bolsas e amedronta investidores
Os números da inflação americana deixam os investidores preocupados sobre a reação do Federal Reserve, com um novo 'mercado urso' que poderia chegar em breve
Carlo Cauti
Publicado em 14 de outubro de 2022 às 22h30.
O pregão desta sexta-feira foi particularmente tenso em Nova York. Wall Street fechou em território fortemente negativo, com a inflação nos Estados Unidos que não para de subir e o consequente aperto da política monetária por parte dos bancos centrais.
Contribuiu para piorar o clima a divulgação dos resultados Dow Jones fechou em queda de 1,32%, pior ainda o S&P 500, que caiu -2,34%, e o Nasdaq, que perdeu -3,08%.
Mas o relatório de inflação de setembro, divulgado na última quinta-feira, mostrou claramente que existe um problema na economia dos Estados Unidos. E pintava um quadro sombrio para o futuro de curto prazo. Um quadro de recessão auto-induzida.
O Índice de Preços ao Consumidor subiu 0,4% em setembro e mostrou um ritmo de alta ano a ano de 8,2%. Ambos os números superaram as previsões dos economistas. O núcleo da inflação, que exclui os preços voláteis de alimentos e energia, saltou 0,6% no mês passado, com um avanço na comparação anual de 6,6%. A maior alta do núcleo de preços desde 1982.
Mas o que deixou muito preocupados analistas e investidores foram os detalhes do relatório. A inflação de habitação superou os preços de alimentos e combustíveis como o maior gerador de inflação. Também chegando no maior nível dos últimos quarenta anos. A inflação de serviços médicos e de transporte, como companhias aéreas e transporte coletivo, também piorou ao longo do mês.
Uma série de altas que fez parecer a batalha do Federal Reserve (Fed) contra a inflação completamente fútil. Uma batalha travada ao som de vários aumentos de taxas básicas de juro.s Aumentos em ritmos jamais vistos na economia americana, como as duas últimas altas consecutivas de 0,75 pontos base.
A perspectiva de mais apertos monetários do Fed é o grande espantalho dos mercados neste momento. Não por acaso, os índices já próximos das mínimas de 2022. Mas a inflação elevada está se tornando um problema sério também para o governo dos EUA, com a Casa Branca que deve lidar com uma avalanche de manchetes jornalísticas negativas sobre a inflação poucas semanas antes das eleições de meio de mandato muito disputadas, que poderiam entregar o Congresso ao Partido Republicano.
Se Fed sobe os juros, ações caem
A regra no mercado financeiro é simples e imutável: se o sinal do Fed é uma desaceleração do ciclo de alta de jurGos, os investidores compram e os preços das ações sobem. Se, por outro lado, o Fed sinaliza que continuará aumentando os juros, os investidores não gostam, pois temem que juros elevados gerem uma desaceleração econômica, acabam vendendo as ações, que baixam de preço.
O pregão dessa sexta-feira é um sinal claro dessa tendência. Isso pois operadores de opções agora estão precificando mais um aumentos de 0,75 ponto base nas taxas de juros para as reuniões do Fed de novembro e dezembro. Caso isso se concretizasse, o Banco Central dos EUA teria realizado quatro altas seguidas recordes em 2022. Algo inédito na história da instituição monetária central dos EUA. E movimentos pressionariam duramente os freios do crescimento econômico.
Uma perspectiva desse tipo deixa os investidores do mercado financeiro preocupados de ter que enfrentar um caminho íngreme até o final de 2023. Isso pois taxas de juros mais altas deixam os empréstimos mais caros para as empresas. Algo que normalmente acaba reduzindo o nível de crescimento dos lucros. Com isso, as ações acabam se desvalorizando. E a volatilidade aumenta, pois os traders aproveitam dessas situações para fazer seus melhores negócios.
Banco Central americano já conhece o caminho
O relatório de inflação de setembro pode ter tornado o mercado de ações muito mais complicado, mas para o processo de decisão do Fed fica tudo muito mais fácil.
Em setembro as previsões eram que o Fed aumentaria as taxas de juros em 0,75 pontos percentuais até novembro, começando a diminuir progressivamente os juros a partir de dezembro, em 0,50 pontos percentuais. Agora, os novos dados de inflação mudaram essas perspectivas. Os mercados estão se preparando para altas consecutivas de 0,75 ponto até o final do ano, além de uma continuação das altas até o início de 2023.
Com as autoridades do Fed insinuando em todas as ocasiões possíveis que seus planos de aperto monetário estão longe de estar completos, o mercado espera taxas de juros significativamente mais altas pelo menos até o próximo ano. Com isso, Wall Street ainda vai sofrer por muitos meses. O mercado urso vai chegar e vai permanecer por muito tempo estacionado nas Bolsas de Valores dos EUA.