Robin Brooks, economista-chefe do Institute of International Finance (IIF), conhecido no Twitter como 'o careca do Goldman', no qual é uma celebridade (Dimas Ardian/Bloomberg)
Bloomberg
Publicado em 18 de abril de 2022 às 11h04.
Última atualização em 18 de abril de 2022 às 11h12.
Robin Brooks fala no tom sóbrio de um economista com PhD que dedicou grande parte de sua carreira a calibrar modelos de valor justo para taxas de câmbio. Foi, portanto, um choque quando de repente ele virou uma sensação nas redes sociais no Brasil.
Brooks é uma raridade nos círculos financeiros: há tempos ele diz que o real deveria estar mais valorizado. Mesmo nos piores momentos do colapso da moeda brasileira durante a pandemia, Brooks manteve sua opinião, fazendo dele o rosto público de um rali vertiginoso que transformou o real na moeda de melhor desempenho entre as maiores do mundo neste ano.
Para seus seguidores no Twitter no Brasil -- ele tem 150 mil seguidores ao todo nessa rede --, onde observar a taxa de câmbio é uma espécie de obsessão nacional, Brooks é simplesmente “o careca”, ou, às vezes “o careca do Goldman”. Na verdade, ele não trabalha no Goldman Sachs há cinco anos, mas, de qualquer forma, esse título soa melhor do que o “careca do Institute of International Finance”, no qual atualmente trabalha como economista-chefe.
Seus posts no Twitter sobre o real são imediatamente recebidos com milhares de curtidas e dezenas de respostas que dizem “In careca we trust”, que se tornaram uma espécie de marca registrada de seus seguidores. Trata-se de um trocadilho com o lema americano “In God we trust” impresso no dólar.
Os mais fanáticos tuítam fotos de Photoshop retratando-o como um boxeador ou GIFs elogiando-o como “o homem, o mito, a lenda” -- um meme tipicamente brasileiro.
IN CARECA WE TRUST! 🇧🇷🥊 https://t.co/zf4cjW3LLy pic.twitter.com/6rYNlbdoB8
— Rafael Gloves (@rafaelgloves) March 21, 2022
A família de Brooks, diz ele, está pasma com sua fama. “Meus filhos dizem: ‘O que é isso? Esse é o nosso pai idiota'.”
Alguns de seus críticos, que são muitos, usam linguagem semelhante para descrever sua análise. Eles tiram sarro de como sua estimativa de valor justo para a taxa de câmbio -- R$ 4,50 por dólar -- não mudou em mais de dois anos, apesar de todas as reviravoltas na economia local e nos mercados globais.
Os críticos também apontam que a estimativa otimista teve a sorte de coincidir aleatoriamente com duas grandes forças que impulsionam os ganhos da moeda: aumentos agressivos das taxas de juros pelo Banco Central do Brasil e um boom repentino na demanda global pelas exportações de commodities do país.
Para Brooks, porém, esses desenvolvimentos refletem apenas sua crença de longa data de que os fundamentos econômicos e de comércio exterior do país estão melhorando e que a moeda continua mais fraca do que deveria, mesmo depois de se fortalecer 19% neste ano, para R$ 4,70 por dólar.
Sua projeção, no entanto, continua fora do consenso. A maioria dos analistas consultados pela Bloomberg prevê que o real vai enfraquecer até o fim do ano.
Logo depois que Brooks divulgou sua estimativa de valor justo para o real, a pandemia começou e os investidores começaram a sacar dinheiro do Brasil de forma tão rápida que o economista diz ter pensado que o computador em que acompanhava os números de fluxo estava quebrado.
Essas saídas de dólares, diz Brooks, juntamente com as críticas mordazes que ele via os brasileiros fazerem contra seus líderes políticos no Twitter, reforçaram sua visão da moeda brasileira. “Geralmente para mim isso é um sinal de que há exagero. Talvez o real esteja muito barato.”
We're within 5% of our $/BRL 4.50 fair value for the Brazilian Real, which is the closest we've been since March 2020, i.e. since before the COVID pandemic began. Closing the final gap will be harder. US real yields are rising rapidly, which is weighing on all EM currencies... pic.twitter.com/Y6mH2LkqTT
— Robin Brooks (@robin_j_brooks) April 17, 2022
Nascido e criado na Alemanha, Brooks, de 51 anos, estudou na London School of Economics e na Universidade de Yale antes de trabalhar no Fundo Monetário Internacional, na Brevan Howard e no Goldman Sachs, banco em que foi o principal estrategista de câmbio da empresa.