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Ibovespa fica para trás de bolsas estrangeiras com aumento do risco fiscal

Preocupação com descontrole fiscal e incertezas sobre permanência de Guedes mantém cautela no mercado interno, apesar de euforia no exterior

Paulo Guedes: mercado tem saudades de quando o ministro da Economia era soberano em pautas econômicas do governo (EVARISTO SA/AFP)

Paulo Guedes: mercado tem saudades de quando o ministro da Economia era soberano em pautas econômicas do governo (EVARISTO SA/AFP)

GG

Guilherme Guilherme

Publicado em 26 de agosto de 2020 às 14h05.

Última atualização em 26 de agosto de 2020 às 16h37.

O mercado americano é conhecido por ser referência global para bolsas de valores do mundo inteiro. Mas enquanto os principais índices acionários dos Estados Unidos vêm quebrando sucessivos recordes, no Brasil, o Ibovespa sequer se recuperou do tombo causado pelo coronavírus, com queda acumulada de 12% no ano.

Neste mês, o S&P 500 e Nasdaq já subiram 6% e 8%, respectivamente. Já o Ibovespa, que lutava para ficar acima dos 105 mil pontos até meados de julho, caminha para fechar o mês em queda. Para Bruno Lima, analista de renda variável da Exame Research, os temores sobre a condução fiscal no país têm “total” relação com esse atraso do Ibovespa em relação aos índices internacionais. Outros analistas consultados por EXAME, também afirmaram que as incertezas quanto ao cumprimento do teto de gastos e à permanência do ministro da Economia, Paulo Guedes, no governo tem sido as principais barreiras para que o índice brasileiro suba.

Foram esses temores que voltaram a assombrar o mercado local nesta quarta-feira, 26, após mais um sinal de descontentamento de Guedes. Na véspera, o ministro deixou de ir ao evento de lançamento do Casa Verde e Amarela, que irá substituir o Minha Casa Minha Vida. Hoje, o presidente Jair Bolsonaro disse que não levará ao Congresso o projeto Renda Brasil proposto pelo ministério da Economia, em mais um sinal de desgaste seu ministro.

“Se não tivesse todo um contexto, a falta [no lançamento do Casa Verde e Amarela] de Guedes sairia despercebido pelo mercado. Os problemas locais acabam contaminando mais o mercado do que os ventos positivos do exterior”, afirma Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo.

Medida semelhante foi adotada pelo ministro na apresentação, em abril, do programa Pró-Brasil, criado pelo ministério da Casa Civil com o objetivo de estimular a economia por meio de projetos de infraestrutura. Na época, Guedes teceu críticas ao projeto devido ao volume de gastos, chegando a compará-lo ao Programa de Aceleração do Crescimento, do governo Lula.

As críticas de Guedes sobre os gastos do governo voltaram a ganhar força há duas semanas, quando ameaçou brigar com “ministros fura-teto”, ala do governo liderada pelo ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho. Naquela mesma semana, o Paulo Guedes perdeu dois secretários do primeiro escalão, entre eles o de Privatização, Salim Mattar e o próprio presidente Jair Bolsonaro afirmou que a “existe a ideia” de furar o teto. Um os argumentos usados por Mattar para deixar o governo foi a dificuldade de avançar as pautas econômicas dentro da esfera pública.

Após retratação de Bolsonaro e aparente fortalecimento de Paulo Guedes no governo, o ministério da Economia apresentaria, nesta terça-feira, o Big Bang, projeto de que visaria estímulos, mas também corte de gastos e privatizações. No entanto, um novo desentendimento entre Bolsonaro e Guedes sobre o valor do auxílio emergencial adiou a apresentação do programa.

Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, as intenções de Bolsonaro manter o auxílio emergencial acima do proposto por Guedes tem fins eleitorais. “As pesquisas de opinião mostraram transferência de popularidade devido ao auxílio de 600 reais. Tem gente que nunca viu esse dinheiro e claramente ficou muito feliz e o presidente sabe disso, por isso agora que ele mexeu nesse reduto, ele não vai querer perder”, diz.

Ainda na manhã de ontem, Bolsonaro chamou o presidente da Caixa, Pedro Guimarães de “PG2”, aumentando os temores sobre uma possível substituição do “PG1”, o Paulo Guedes. Outro nome que vem sendo sondado para substituí-lo é o do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Embora Campos Neto tenha bom transe no mercado financeiro, existe a dúvida sobre se outro ministro, mesmo com perfil semelhante ao de Guedes, conseguiria manter o equilíbrio nos gastos do governo e avançar as pautas econômicas no Congresso. “O Guedes é a melhor pessoa para isso e não está conseguindo. Não sei se outra pessoa conseguiria”, comenta Felipe Araújo, sócio fundador do Grupo Aplix

“O fica ou não de Guedes está mostrando que o Ibovespa não consegue romper entre 100 e 105 mil pontos. O mercado está saudoso do período em que o Bolsonaro permitia que o Guedes fosse soberano na pauta econômica”, disse Bruno Musa, sócio da Acqua Investimentos.

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