Bolsa: Ibovespa recua puxado por fatores internos (NurPhoto/Getty Images)
Guilherme Guilherme
Publicado em 28 de maio de 2020 às 17h20.
Última atualização em 28 de maio de 2020 às 17h43.
A bolsa brasileira fechou em queda, nesta quinta-feira, 28, com a volta de preocupações políticas no cenário local. Entre os investidores preponderou o clima de cautela sobre o embate entre o governo e o Supremo Tribunal Federal, após apoiadores do presidente Jair Bolsonaro serem alvo de sobre as tensões entre governo e o Supremo Tribunal Federal, após operações de busca e apreensão em endereços de pessoas aliadas ao presidente Jair Bolsonaro. Com isso, o Ibovespa, principal índice de ações, caiu 1,13% e encerrou em 86.949,09 pontos.
Ainda na noite de quarta-feira, Bolsonaro usou sua conta do Twitter para defender seus aliados da investigação e criticar o ministro Alexandre de Moraes, que preside o inquérito. Segundo o presidente, “cidadãos de bem” tiveram “seus lares invadidos por exercerem seu direito de expressão” e “nenhuma violação desse princípio deve ser aceita passivamente”.
- Estamos trabalhando para que se faça valer o direito à livre expressão em nosso país. Nenhuma violação desse princípio deve ser aceita passivamente!
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) May 28, 2020
Nesta manhã, o presidente voltou a ameaçar o STF, dizendo que “não teremos um dia igual a ontem”. Seu filho Eduardo Bolsonaro disse que participa de reuniões em que discute “quando” será o “momento de ruptura”. Por outro lado, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, tratou de acalmar os ânimos ao afirmar que "ninguém está pensando em golpe militar".
"O 'embate' entre Bolsonaro e STF não ajuda no momento. Precisamos de união para atravessar as nossas crises na saúde, economia e política", comentou Régis Chinchila, analista da Terra Investimentos. Segundo Chinchila, alguns investidores também estão aproveitando o dia mais negativo na bolsa para realização de lucros de curto prazo, tendo em que as ações vinham numa ascendente nos últimos dias.
Gustavo Bertotti, economista da Messem Investimentos, avalia que a instabilidade política pode deixar os investidores mais cautelosos até o fim desta semana, com a possibilidade da tensão se agravar entre sábado e domingo. De acordo com ele, tem aumentado a procura por aluguéis de ações, o que evidencia a maior expectativa por novas quedas de preços.
Apesar da instabilidade política, o mercado viu como positivo o veto do trecho do pacote de auxílio aos estados e municípios em que previa a possibilidade de aumentar os salários dos servidores públicos.
No exterior, o dia vinha sendo positivo para os ativos de risco até o presidente Donald Trump anunciar uma coletiva de imprensa para discutir a questão China. Depois disso, o S&P 500 virou para queda e fechou em baixa de 0,21%. A relação dos dois países, que já estava desgastada, pode se agravar ainda mais, agora que o parlamento chinês aprovou a lei de segurança nacional sobre Hong Kong.
Marcel Zambello, analista da Necton Investimento, no entanto, não vê com tanta preocupação o conflito entre os dois países. "Essa história está rolando desde 2019. É muita fumaça para pouco fogo", disse.
Na bolsa, as ações com mais peso no Ibovespa fecharam, com destaque para o setor financeiro, que amargou perdas de 1,77% com os papéis do Itaú e de 2,59% com os do Santander. Mas, quem liderou as maiores perdas da sessão, foram as ações ligadas à shopping centers, mesmo com previsão de reaberturas. Os papéis do Iguatemi, Multiplan e BR Malls caíram 6,4%, 5,5% e 4,9%, respectivamente.