Mercados

Hypermarcas despenca na renda fixa após prejuízo e corte de nota

A Moody’s rebaixou a nota de crédito da Hypermarcas em nível para Ba3, citando os desafios de integração após as aquisições e a mudança nos contratos comerciais

A Hypermarcas registrou uma queda de 24% no lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização do terceiro trimestre (Lia Lubambo/EXAME)

A Hypermarcas registrou uma queda de 24% no lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização do terceiro trimestre (Lia Lubambo/EXAME)

DR

Da Redação

Publicado em 10 de novembro de 2011 às 06h33.

Nova York - A Hypermarcas SA, fabricante de mais de 190 produtos de consumo, lidera as perdas no mercado brasileiro de renda fixa após apresentar o maior prejuízo trimestral desde 2007.

A taxa dos títulos em dólar da Hypermarcas com vencimento em 2021 deu um salto de 148 pontos-base esta semana, para 8,49 por cento. É a maior alta entre as taxas pagas por títulos corporativos brasileiros, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. O rendimento médio de títulos de alto risco das empresas de consumo subiu 19 pontos-base no mesmo período, para 8,77 por cento, segundo dados de índice do Bank of America Corp.

A Hypermarcas registrou uma queda de 24 por cento no lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, ou Ebitda, do terceiro trimestre, segundo balanço divulgado em 7 de novembro. A empresa, que teve a nota de crédito rebaixada pela Moody’s Investors Service em 8 de novembro, reduziu sua previsão para o Ebitda deste ano, pela segunda vez desde agosto, em 22 por cento para R$ 700 milhões.

“O mercado não estava pronto para esses resultados”, disse Juan Cruz, analista de dívida corporativa do Barclays Plc em Nova York, em entrevista por telefone. “A história que investidores compraram, que era de uma empresa ligada a consumo no Brasil que melhoraria com o tempo, não se materializou.”

Os títulos da Hypermarcas pagam 506 pontos-base a mais do que papéis do governo com vencimento em 2021, comparado a uma diferença de 373 pontos-base há uma semana, segundo dados compilados pela Bloomberg. O rendimento dos papéis da companhia disparou 174 pontos-base desde a emissão em abril.

‘Reduzir o endividamento’

A companhia sediada em São Paulo disse que o Ebitda caiu para R$ 138 milhões no terceiro trimestre. A margem dos produtos de beleza e higiene pessoal teve a maior queda, recuando 11,8 por cento em relação a um ano antes. Em agosto, a empresa cortou sua previsão para o Ebitda, de mais de R$ 1 bilhão para R$ 900 milhões.

A Hypermarcas “vem promovendo uma série de medidas ao longo de 2011 em linha com o compromisso de gerar caixa operacional e reduzir o endividamento”, segundo comunicado da empresa. A companhia encerrou o terceiro trimestre com R$ 2,5 bilhões em caixa, “suficientes para honrar seus compromissos financeiros até 2014”, de acordo com o comunicado.


Nota de crédito

A Moody’s rebaixou a nota de crédito da Hypermarcas em nível para Ba3, citando os desafios de integração após as aquisições e a mudança nos contratos comerciais. A companhia fez pelo menos 12 aquisições desde o início de 2010, que incluem o laboratório Mantecorp Indústria Química e Farmacêutica SA e a fabricante de fraldas Sapeka - Indústria e Comércio de Fraldas Descartáveis Ltda.

O diretor presidente da Hypermarcas, Claudio Bergamo, disse em teleconferência com investidores em 7 de novembro que a empresa tem potencial, plataforma e uma posição competitiva para apresentar um crescimento sustentável dos lucros. Segundo ele, há uma demanda crescente para os produtos e marcas da companhia.

No início do ano, a Hypermarcas reduziu o prazo para os clientes pagarem por seus produtos. A política levou clientes a diminuirem os estoques de produtos da Hypermarcas, de acordo com o JPMorgan Chase & Co.

‘Desafios de integração’

“Olhando para o que aconteceu em 2011, fica bem claro que esta deterioração começou ou piorou após o segundo trimestre, exatamente quando a companhia alterou sua política”, disse Marianna Waltz, analista da Moody’s em São Paulo, em entrevista por telefone. “Todos os desafios de integração que a companhia enfrenta” também contribuíram para o rebaixamento, disse ela.

As vendas no varejo em todo o País recuaram 0,4 por cento em agosto, a maior baixa desde março de 2010. O crescimento econômico vai se desacelerar de 7,5 por cento em 2010 para 3,5 por cento este ano, de acordo com estimativas do Banco Central.

O governo estuda reverter as restrições ao crédito impostas nos últimos 11 meses, com o objetivo de sustentar o crescimento, afirmou ontem um representante do governo a par das conversas. A equipe da Presidente Dilma Rousseff teme que o Brasil entre numa recessão técnica -- ou seja, dois trimestres consecutivos de contração -- e está considerando formas de evitar a desaceleração econômica, disse o representante, que pediu para não ser identificado porque o assunto ainda está em discussão.

A desvalorização dos títulos da Hypermarcas pode criar uma oportunidade de compra, segundo Mark Christensen, que ajuda a administrar US$ 500 milhões em dívida de mercados emergentes na Doubleline Capital LP em Los Angeles.

‘Aspecto positivo’

“O aspecto positivo é que se vai se chegar ao fundo do poço no próximo ciclo trimestral e, se a direção começar a entregar a racionalização do negócio, então o crédito é provavelmente muito bom a 8,5 por cento”, disse Christensen em entrevista por telefone. “Se alguém fizer a lição de casa, pode haver um bom ponto de entrada logo à frente.”

Acompanhe tudo sobre:Agências de ratingaplicacoes-financeirasBalançosEmpresasEmpresas abertasEmpresas brasileirasHypera Pharma (Hypermarcas)Indústrias em geralLucroMercado financeiroMoody'sRatingrenda-fixa

Mais de Mercados

Eleição no Reino Unido não muda cenário para ativos e risco de crise é "muito alto", diz Gavekal

Americanas (AMER3): posição em aluguel na bolsa dobra no ano e representa mais de 30% do free float

Após eleições, Goldman Sachs eleva previsão de crescimento do Reino Unido

Ibovespa fecha em leve alta com payroll nos EUA; dólar cai a R$ 5,46

Mais na Exame