Gafisa planeja relistar ADRs na Bolsa de NY em até 90 dias
Dois anos e meio depois de ter deslistado seus recibos de ações do mercado americano, construtora trabalha para retomar com programa de ADRs, visando aumento de liquidez e captação de recursos
Paula Barra
Publicado em 18 de maio de 2021 às 15h44.
Última atualização em 18 de maio de 2021 às 19h58.
A Gafisa (GFSA3) planeja relistar seus recibos de ações (ADRs, na sigla em inglês) na Bolsa de Nova York dentro dos próximos 60 a 90 dias. A medida busca aumentar a liquidez dos ativos e possibilidades adicionais de captação de recursos para projetos.
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"Vamos melhorar nosso ADR de forma que seja listado no pregão da Bolsa de Nova York. Isso vai aumentar nossa liquidez. É um trabalho de reforço e melhora do complaince do nosso ADR. É um trabalho para os próximos 60 a 90 dias", disse Ian Andrade, vice-presidente institucional da Gafisa, em entrevista à EXAME Invest.
Ele explica que a empresa nunca deixou de estar sob o guarda-chuva da SEC (xerife de mercado de capitais americanos, equivalente à CVM), mas o que ocorreu foi que, em novembro de 2018, a companhia deixou de ter os ativos negociados no mercado dos Estados Unidos.
"Vamos agora relistar por um desejo nosso, vemos como algo importante para a empresa, e também por conta de demanda do investidor estrangeiro", comentou.
Como parte desse trabalho, a Gafisa enviou à SEC, na semana passada, o relatório 20-F, contendo suas informações financeiras anuais. Em fato relevante enviado ao mercado, a empresa disse que o processo foi concluído não tendo sido identificadas quaisquer deficiências materiais nos procedimentos internos da empresa.
Demanda segue aquecida por imóveis
Na entrevista à EXAME Invest, que também contou com a participação de Guilherme Benevides, vice-presidente de operações da Gafisa, os executivos comentaram ainda sobre o resultado do primeiro trimestre, reportado na noite da última segunda-feira, e perspectivas para os próximos meses.
Segundo eles, mesmo com a elevação da Selic este ano, a demanda por imóveis deve seguir aquecida, uma vez que os juros ainda devem seguir em patamares historicamente baixos e os bancos devem enfrentar uma dificuldade em repassar os custos aos clientes finais.
"Não estamos vendo as taxas de financiamento imobiliário subirem e, na parte da produção, também não temos sofrido reflexo desse aumento nos financiamentos de nossos projetos", comentou Andrade.
Além disso, ele apontou que acredita que os bancos enfrentarão uma "dificuldade estrutural" de repassar a alta da Selic para o setor imobiliário.
Isso porque a maior parte dos recursos usados para financiar imóveis vêm da poupança. E, em março, o saldo da poupança estava em quase 780 bilhões de reais, aumento de 18% frente ao mesmo mês do ano anterior.
"Os bancos têm que dar liquidez ao mercado, têm que alocar esse dinheiro. Hoje, esse dinheiro está repressado e aumentando. Para outros setores, os bancos podem até conseguir repassar o custo do crédito, mas para o setor imobiliário vejo uma dificuldade estrutural. Tem muita liquidez, muito spread e a demanda segue aquecida", disse.
Ele pontuou ainda que, apesar da valorização observada nos preços dos imóveis residenciais, de médio à alto padrão, não vê uma formação de bolha no mercado. De acordo com o executivo, o setor imobiliário brasileiro ainda segue muito subalocado, mesmo com o aumento da demanda impulsionada pelos juros em patamares historicamente baixos.
"Temos visto uma valorização em todos os tipos de imóveis residenciais, mas não vemos nenhum tipo de canibalismo no mercado. Temos observado uma valorização em preços de ativos muito bem localizados e busca em todos os âmbitos, incluindo para moradores finais. Temos acompanhado uma busca cada vez maior pela segunda moradia, mas também vemos um movimento de clientes buscando por imóveis melhores dentro da cidade", comentou Benevides.
Próximos lançamentos
Por conta das restrições de mobilidade impostas pela pandemia, a companhia adiou três lançamentos que estavam previstos para o primeiro trimestre deste ano, ambos em São Paulo: o Invert, com valor geral de vendas (VGV) estimado em 300 milhões de reais, localizado no bairro Campo Belo; o Flow, com VGV de 146 milhões de reais, no bairro Consolação; e o hotel Go Inn, com VGV de 100 milhões, na República.
De acordo com Benevides, esses lançamentos devem ocorrer entre o fim de maio e junho. O primeiro deles, o Invert, já teve a pré-venda iniciada há 60 dias.
"Nessa pré-venda, temos capturado mais de 10 mil leads por mês, tanto online quanto offline. Estamos com uma performance muito boa também nas lojas. Só no último fim de semana, tivemos a presença de mais de 100 famílias no stand do Invert, respeitando todos os protocolos de segurança", disse.
Eles comentam que a Gafisa tem, em média, uma captação de 8 a 10 mil leads por mês, considerando online e offline. Mas, em março, essa captação bateu 12 mil leads, em meio a uma procura por imóveis muito forte.
"A captação de leads tem se mantido acima de dois dígitos e, em maio, estamos observando também um aumento da procura por imóveis. As pessoas estão em casa, buscando apartamentos, novas moradias", apontou Benevides.
Andrade afirmou que a empresa mantém o guidance de lançamentos do ano, "sem nenhuma perspectiva de revisar o número". Para 2021, a Gafisa espera lançar entre 1,5 bilhão e 1,7 bilhão de reais em imóveis, conforme divulgado em fato relevante em janeiro deste ano.
Os três projetos previstos para serem lançados até o próximo mês somam um VGV de 546,1 milhões, ou mais de um terço da projeção de lançamentos para a empresa no ano, considerando o piso do guidance.
Balanço do 1º trimestre
No primeiro trimestre, a companhia reverteu um prejuízo líquido de 25,5 milhões de reais um ano antes em um lucro líquido de 12,9 milhões de reais. A receita líquida atingiu 170,1 milhões de reais, crescimento de 137,3% na mesma base de comparação.
Apesar de não ter lançado projetos no período, a construtora reportou um avanço de 350,8% nas vendas líquidas, para 129 milhões de reais. As vendas brutas cresceram 320,4%, para 162,9 milhões de reais, enquanto os distratos tiveram alta de 235%, para 33,9 milhões de reais.