Ações da Gafisa desabam 25% nesta sexta-feira, 6 (Nuthawut Somsuk/Getty Images)
Guilherme Guilherme
Publicado em 6 de janeiro de 2023 às 19h48.
Última atualização em 6 de janeiro de 2023 às 20h28.
A disputa entre os principais acionistas da Gafisa (GFSA3), a Esh Capital e o investidor Nelson Tanure, tem provocado extrema volatilidade no preço das ações. Nesta sexta-feira, 6, os papéis fecharam com desvalorização de 25%, a maior de toda a sua história na bolsa, iniciada em 2006. Ao longo do pregão, a amplitude entre os preços máximo e mínimo em que a ações foram negociadas superou 30 pontos percentuais.
O sobe e desce da Gafisa ocorre em um momento considerado crítico para a batalha entre Esh e Tanure, que irão se enfrentar na segunda-feira, 9, em Assembleia Geral Extraorindária requerida pela própria Esh. Na ordem do dia, estarão pautas-bomba. Entre elas, a destituição dos membros dos conselhos de administração e fiscal por "quebra dos deveres fiduciários", além da responsabilização de administradores e membros do conselho "pelos prejuízos causados à companhia em decorrência de atos ilícitos e operações irregulares entre 2019 e 2022".
As alegações da Esh são de que Nelson Tanure é o "controlador oculto" da Gafisa e que estaria adotando diversas práticas que caracterizam o exercício do "poder de controle abusivo e dissimulado", buscando, inclusive, "provocar a queda do preço das ações no mercado, como forma de maximizar vantagem extraída da condição de contraparte em operações societárias envolvendo a companhia". A Esh ainda alega que a Gafisa realizou operações de compras de terrenos da Wotan Realty por meio de "estruturas para acobertar o interesse de Nelson Tanure".
A AGE de segunda-feira também prevê a deliberação sobre a eleição de novos administradores e conselheiros e o cancelamento do aumento de capital privado, aprovado pelo conselho da Gafisa em 25 de novembro".
O aumento de capital previa a emissão a R$ 5,89 de 13,256 milhões de ações ordinárias — cerca de 35% do total já emitido pela companhia. Mas segundo a Esh, a operação provocaria uma diluição "injustificável" das participações acionárias — alegação rebatida pela companhia, que afirma que o dinheiro da emissão é necessário para "viabilizar a aquisição de novos empreendimentos e equalizar a dívida".
O aumento de capital, que elevaria a participação de Tanure em relação à fatia da Esh na Gafisa, estava previsto para ser creditado nesta sexta, às vésperas da AGE, mas foi barrado por uma liminar do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. A Gafisa informou que iria recorrer da decisão e pleitear uma "indenização pelos prejuízos incorridos".
A Gafisa também rebateu as criticas da Esh relacionadas à idoneidade de seus conselheiros e administradores, afirmando haver "inexistência de qualquer elemento que permita a imputação de responsabilidade", recomendando seus acionistas a rejeitarem, na AGE, todas as propostas solicitadas pela Esh Capital.
Para aumentar a voz dentro da Gafisa, a Esh tem elevado sua participação na companhia. A gestora atingiu 5,34% em 12 de dezembro, quando as ações estavam próximas da mínima histórica, cotadas abaixo de R$ 6. Em 28 de dezembro, a fatia da Esh no negócio já era superior a 15% das ações.
O crescimento de participação só foi menor que a valorização das ações da Gafisa, que chegaram a bater R$ 33,94 na máxima desta sexta — o maior patamar desde julho de 2021. A disparada, que chegou a 440% em apenas sete pregões, teve início com a alta de 28,6% em 28 de dezembro, um dia antes de a Esh Capital informar o aumento de participação na Gafisa para 15,10%
A forte valorização se estendeu para os dias seguintes, levando fundos que estavam vendidos no papel (apostando na queda) a desmontarem suas posições. Em apenas uma semana, a quantidade de ações da Gafisa com empréstimos em aberto caiu de 8,23 milhões para 5,7 milhões. Só que para devolver o empréstimo e encerrar as posições vendidas, os fundos que apostavam na desvalorização dos papéis precisaram adquirir as ações a um preço mais elevado, retroalimentando as ordens de compra.
Quem apostou na queda da ação antes do Natal, quando a ação estava cotada a R$ 6,25, pode ter perdido mais de quatro vezes o valor do aporte, caso tenha desmontado a posição na quinta-feira, 5, quando o papel fechou a R$ 30,70.
Nesta sexta, pelo menos os vendidos tiveram algum alívio, com os papéis fechando a R$ 23. Mas como uma AGE-bomba marcada para a noite de segunda-feira, 9, a única previsibilidade é de que a volatilidade está longe do fim.