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Fed corta juros em 50 pontos-base – primeira redução em mais de quatro anos

Taxa de referência saiu da faixa de 5,25% a 5,50% para a faixa de 4,75% a 5%, concretizando as apostas do mercado

EUA: Fed reduz juros pela primeira vez em quatro anos (Chip Somodevilla/Getty Images)

EUA: Fed reduz juros pela primeira vez em quatro anos (Chip Somodevilla/Getty Images)

Rebecca Crepaldi
Rebecca Crepaldi

Repórter de finanças

Publicado em 18 de setembro de 2024 às 15h01.

Última atualização em 18 de setembro de 2024 às 16h02.

Pela primeira vez em quatro anos, o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) cortou os juros em 50 pontos-base (pb) nesta quarta-feira, 18, por 11 votos a 1. Com o movimento, a taxa de referência saiu da faixa de 5,25% a 5,50% para a faixa de 4,75% a 5%.

Em comunicado, o Fed atribuiu o corte ao progresso na inflação, ao equilíbrio dos riscos e à atividade econômica, que "continua a se expandir em um ritmo sólido". Também citou que os ganhos de emprego diminuíram e, apesar de a taxa de desemprego ter subido (como nos meses de junho e julho), ela permanece baixa.

Nas últimas reuniões do banco central americano, o comitê afirmou que precisava de mais confiança de que a inflação estava convergindo para a meta para poder baixar os juros. Já na reunião de hoje, disse ao mercado que essa segurança chegou.

"O comitê ganhou maior confiança de que a inflação está se movendo de forma sustentável em direção a 2%, e julga que os riscos para atingir suas metas de emprego e inflação estão aproximadamente equilibrados."

Entretanto, o Fed disse que a perspectiva econômica ainda é incerta e que o comitê está atento aos riscos para ambos os lados (inflação e mercado de trabalho). Caso julgue necessário, afirmou estar preparado para ajustar a postura da política monetária se surgirem riscos.

Para Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura, a decisão de um corte mais agressivo pelo Fed parece derivar do Summary of Economic Projections (SEP), que elevou as projeções da taxa de desemprego, apesar da manutenção na projeção do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).

Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, também destaca a elevação do Fed na previsão de desemprego para este ano, de 4% para 4,4%, além da redução da expectativa de inflação de 2,6% para 2,3%.

"Isso sugere que o ciclo de ajuste será mais prolongado do que inicialmente pensado. O mercado pode começar a questionar se o Fed deveria manter o ritmo de cortes de 50 pb caso os dados de desemprego piorem e a inflação se estabilize mais rapidamente", diz Cruz.

O gráfico de pontos sinaliza mais dois cortes de 25 pontos-base ainda este ano. Para 2025, o Fed ainda prevê 100 pontos-base de cortes.

O economista André Perfeito ainda acrescenta que o corte em maior escala pode ter relação com a leitura pelo mercado de que Kamala Harris deve ser a próxima presidente dos EUA — e, com isso, as pressões inflacionárias devem ser menores. “A leitura da maioria dos economistas que cobrem os EUA é que as políticas apresentadas por Trump seriam, pelo menos a curto prazo, inflacionistas. Este seria o caso de taxar importações ou mesmo interromper ou deportar em massa imigrantes.”

Apostas sobre o tamanho do corte variaram nos últimos dias

A decisão era uma das mais aguardadas pelo mercado, que ainda tinha dúvidas sobre a magnitude do corte. O Deutsche Bank, inclusive, atribuiu o clima de suspense horas antes do anúncio do Fed como algo incomum. "Você teria que voltar mais de 15 anos para encontrar uma situação tão incerta tão perto da decisão."

Ao longo das últimas semanas, a plataforma FedWatch, do CME Group, que acompanha as expectativas do mercado, registrou diversas mudanças de cenários.

Após os relatórios ADP e Jolts, que mostraram uma criação de vagas de emprego abaixo do esperado, as apostas para um corte de 50 pb cresceram.

Investidores temiam que o Fed tivesse mantido o aperto monetário por tempo excessivo, o que poderia resultar nesse enfraquecimento do mercado de trabalho mostrado pelos relatórios.

Entretanto, dias depois, a taxa de desemprego menor em agosto e o salário médio maior, divulgados junto com o payroll, acalmaram o mercado, que passou a precificar um corte de 25 pb. Somou-se à tese de uma redução menor o Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) em linha com o esperado.

Um dia depois do CPI, o cenário se inverteu novamente — e se manteve até então — após uma reportagem do jornalista Nick Timiraos, publicada na última sexta-feira, 13, pelo Wall Street Journal, sugerir que os dirigentes do Fed ainda não haviam decidido a dimensão do primeiro corte.

As últimas projeções do FedWatch mostravam que 57% do mercado apostava em um corte de 50 pb, enquanto 43% apostava em um corte menor, de 25 pb.

De todo modo, o corte já era certo desde que o presidente do Fed, Jerome Powell, em seu discurso em Jackson Hole, deixou claro que havia chegado o momento de ajustar a política monetária e que esse corte iria ocorrer na decisão desta quarta-feira.

*Matéria em atualização

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