Fed deverá cortar juros em 25 pontos-base nesta quinta-feira, 7, independentemente de quem ganhe as eleições americanas (Yasin Ozturk/Anadolu Agency /Getty Images)
Repórter de finanças
Publicado em 5 de novembro de 2024 às 15h07.
Última atualização em 5 de novembro de 2024 às 15h37.
Os Estados Unidos vão às urnas nesta terça-feira, 5, para escolher seu novo presidente — ou presidenta. Em uma disputa acirrada, o republicano Donald Trump concorre com a democrata Kamala Harris. Um dia depois, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) inicia a penúltima reunião do ano para decidir o rumo de sua política monetária.
A nova taxa de juro dos EUA será conhecida apenas na quinta-feira, 7, já que o Comitê de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) alterou a data do encontro, que normalmente é de terça e quarta-feira, para não coincidir com as eleições.
Apesar da mudança, vença Kamala ou Trump, já está precificado: a autoridade monetária cortará os juros em 25 pontos-base (p.b.) nesta reunião, levando os Fed Funds Rates para a faixa entre 4,50% a 4,75%.
"Riscos políticos tendem a ser maiores sob Trump do que sob Harris", diz Robert Sockin, do CitiMas isso não quer dizer que a nova organização política não afetará as decisões do Fed: 2025 ainda é um grande mar de incertezas. Entretanto, o que pesa na atual reunião são os dados.
O início do ciclo de corte ocorreu na reunião do dia 18 setembro, quando o Fed optou por cortar em 50 pontos-base. Para Gabriel Giannecchini, portfolio manager da Gauss Capital, o corte não deveria ter sido desse tamanho.
“Claramente os dirigentes não tinham motivo para cortar em 50 p.b. Parece que foi uma tentativa de cortar dois em um, porque em julho eles deveriam ter cortado 25 p.b.. Tanto que pela primeira vez em muito tempo não foi unânime”, diz.
A partir desse corte, o presidente do Fed, Jerome Powell, já passou a sinalizar que não necessariamente os próximos cortes seriam “igualmente agressivos”. O motivo? A economia dos EUA ainda segue robusta.
“A desaceleração está muito mais lenta do que todo mundo imaginou”, comenta o portofolio manager, que acrescenta: “Não só nos EUA, mas no mundo inteiro, essa inflação seguiu persistente muito pela injeção de capital nas economias durante a pandemia.”
E, dentre as divisões, a inflação de serviços é umas das grandes preocupações atuais do Fed, explica Lucas Dezordi, economista-chefe da Rubik Capital. “Por mais que a inflação esteja convergindo para a meta, itens como transporte, saúde, educação, alimentação fora do domicílio, ou seja, inflação de serviços, ainda está pressionada para cima.”
Já a outra preocupação que colabora para o corte em menor grau é o mercado de trabalho. Dados de setembro, como o payroll, o relatório Jolts e ADP, mostraram que ele segue aquecido, com um desemprego baixo e um ganho salarial alto.
O movimento reflete-se em uma atividade econômica mais forte, que também pôde ser observada nos dados ainda robustos de vendas do varejo, PMIs de serviços e industrial e no próprio PIB americano.
Por conta disso, os especialistas enfatizam: o corte de agora e de dezembro será de 25 pontos-base, independente de quem ganhar as eleições. Isso não quer dizer que a nova organização política não irá impactar as decisões de política monetária — irá, mas a partir de 2025.
A poucas horas do término das votações, o resultado ainda é incerto. Todas as pesquisas e projeções mais recentes apontavam para um empate técnico entre Kamala e Trump. Porém, seja o republicano ou a democrata, o mercado afirma: a política fiscal continuará expansionista — por motivos diferentes.
De um lado, Trump traz um discurso mais protecionista, querendo reduzir impostos, ao mesmo tempo que aumenta tarifas de importações.
“O Trump já falou em colocar tudo quanto é tarifa. No final do dia, as empresas vão pagar mais caro para importar, porque não é toda empresa que vai construir uma base para produzir algum insumo, a mão de obra também é cara, então no final isso é inflacionário”, explica Giannecchini.
Já Kamala promete ser um governo que vai gastar mais, principalmente em questões sociais, desde ajuda à Ucrânia até em políticas internas (o que também gera inflação).
O resultado dos gastos é um provável aumento da dívida dos Estados Unidos — que já está alta e preocupa o mercado — o que pressiona a curva de juros futuros, com os investidores começando a exigir um prêmio maior dado ao risco.
“Os juros tendem a subir, por razões diferentes, uma pela diminuição da arrecadação e outra pelo aumento de gastos, mas tendem”, explica Victor Deischl, cofundador e gestor de investimentos da Rubik Capital.
Entretanto, com o republicano, o movimento é mais forte. “O consenso do mercado com vitória para o Trump é a bolsa para cima, abertura da curva de juros e dólar mais forte — movimento que começamos a ver há algumas semanas [com o Trump Trade]”, diz Deischl.
Isso porque, acrescenta Dezordi, a política de Trump promete ser mais de imediato, enquanto a de Kamala é mais a longo prazo. Somado a isso, a democrata pode ter dificuldade para aprovar as medidas, já que as projeções apontam para um Congresso republicano.
Como resultado, o Fed deverá agir no ano que vem — mas também de maneiras diferentes. “Num governo Trump, pode ter menos corte. Hoje, precificamos aqui entre três e quatro cortes de 25 p.b.. para 2025 com Kamala e, com Trump, um e dois cortes”, pontua o especialista da Gauss Capital, acrescentando que, no caso de Harris, o Fed “esperará para ver”.
“Pode ser que tenha uma manutenção dos juros. Tem gente projetando, ao final de 2025, um Fed Funds Rates em 3,5%, mas acho que é um pouco otimista, precisamos consolidar esse cenário de como a política fiscal, tanto do lado republicano quanto democrata. Eu acho cedo cravar esse número”, finaliza Dezordi da Rubik Capital.