JBS: empresa ficou 43 bilhões mais valiosa entre janeiro e agosto. (Uslei Marcelino/Reuters)
Tais Laporta
Publicado em 4 de setembro de 2019 às 08h00.
Última atualização em 4 de setembro de 2019 às 08h00.
Dois anos atrás, seria difícil imaginar que a maior processadora de carnes do mundo chegaria ao fim de agosto de 2019 como uma das queridinhas dos investidores. A JBS não só vem apagando os resquícios do “Joesley Day”, como coleciona seguidos recordes na bolsa brasileira. Campeã do Ibovespa no acumulado de 2019, com avanço em torno de 150%, a ação da empresa (JBSS3) tem potencial para valorizar ainda mais, segundo analistas do setor.
Nos últimos oito meses, a JBS ganhou 48,1 bilhões em valor de mercado, de acordo com dados da provedora de informações financeiras Economatica. Passou de 30,8 bilhões, no início de janeiro, para 78,9 bilhões, no final de agosto – mais que o dobro de seu passe. Só ficou atrás da fabricante de bebidas Ambev na corrida bilionária por geração de valor (52,6 bilhões de reais).
Mesmo após a forte alta, analistas que acompanham o setor de carnes veem potencial para mais ganhos. “Curiosamente, a valorização do papel no acumulado do ano não parece indicar que a ação [da JBS] está num preço justo”, apontaram em relatório analistas do BTG Pactual, ao sugerir que a fase positiva tende a continuar.
A XP Investimentos vê o preço-alvo da dona das marcas Sadia e Perdigão em 37 reais – um avanço de 28% em relação ao preço atual, de 28,9 reais.
Existem bons motivos para apostar nisso. Primeiro, a empresa arrumou a casa. Reverteu o prejuízo do ano passado para um lucro de 2,2 bilhões de reais no segundo trimestre, entregando resultados que agradaram os investidores. Em seguida, uma série de eventos externos vem favorecendo as ações da companhia, assim como das concorrentes BRF e Marfrig no Brasil.
Desde que a delação premiada dos irmãos Batista derrubou o Ibovespa em maio de 2017, a ação da JBS já subiu 280%. É avanço nada desprezível para uma empresa que se deparou, no meio do caminho, com a operação Carne Fraca, deflagrada em 2018 pela Polícia Federal. A investigação revelou irregularidades sanitárias em unidades de frigoríficos e levou a embargos internacionais de produtos.
Uma das principais explicações para a alta da JBS vem de uma tragédia chinesa. Um surto de peste suína na China, que vem dizimando rebanhos por lá, pode gerar cifras bilionárias para os frigoríficos. O setor já se beneficia da maior demanda, que ajudou a impulsionar as ações nos últimos meses. Novos casos da doença, em países como Vietnã e Camboja, sugerem que as exportações da carne brasileira na Ásia vão crescer.
A própria JBS calcula um potencial de aumento de 15% a 20% das exportações para a China, diante da previsão de que mais unidades brasileiras seriam habilitadas a exportar para o país.
No estado norte-americano do Kansas, um incêndio em uma fábrica de carne bovina Tyson Foods, no dia 9 de agosto, paralisou as atividades da empresa, que tinha capacidade de processamento de 6 mil bovinos por dia. O evento trágico acabou favorecendo os papéis da JBS e da Marfrig, que possuem operações relevantes no país.
Nem mesmo a ascensão de produtos a base de carne vegetal, após o sucesso do IPO da Beyond Meat, parece representar uma ameaça para as empresas do setor. Pelo contrário, a JBS e a Marfrig já viram o filão como oportunidade e trabalham com produtos do segmento, em busca de um público ainda não atendido.
A analista da XP Investimentos Betina Roxo diz não ver qualquer ganho potencial com tal iniciativa. "Mas vemos as iniciativas com bons olhos, dadas as margens mais altas dos produtos de carne vegetal, embora a representatividade nas vendas no curto prazo ainda seja pequena”, escreveu em relatório sobre a JBS.
Discussões sobre uma eventual abertura de capital da empresa nos EUA também poderia destravar o valor da empresa e levar a uma reclassificação de seus múltiplos (avaliação do valor justo de uma companhia), acrescentou Bettina.
Em agosto, o papel da JBS subiu 19,04%, ante 14,16% da BRF. Marfrig avançou 25,94%.